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Resenha sobre: Escola dos Annales

Por:   •  2/4/2018  •  Resenha  •  2.264 Palavras (10 Páginas)  •  622 Visualizações

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“A Escola dos Annales” – Fichamento

Prefácio

No século XX, um dos maiores celeiros de novidades no campo de estudo da História é a França. Muito se deve à “École des Annales”, a conhecida Escola dos Annales, que é o tema central do texto-base apresentado.

Os principais autores da Escola são apontados no prefácio, destacando um seleto grupo que é uma “exceção” no núcleo de historiadores, por ter uma visão Marxista da história, principalmente Pierre Vilar. Os escritores de Annales foram pioneiros em olhar a história de uma forma diferente, estudando períodos de longa duração para explicar acontecimentos e mudanças na trajetória humana, não apenas na política, mas em outros campos.  E foram além, criando laços com outras disciplinas, visando mudar as tradicionais formas de escrever sobre nossa história, defendidos por Febvre, que apoiava a luta contra a especialização estreita.

O autor do livro mostra o objetivo de seus escritos: averiguar e avaliar a obra dos Annales, movimento (como o autor prefere chamar) que é frequentemente visto como um grupo monolítico e no mínimo indiferente a acontecimentos políticos, um estereótipo que ignora a singularidade de seus autores bem como sua evolução ao passar dos anos. Também divide o movimento em três partes: a primeira, de 1920 a 1945 que é caracterizada como uma organização revolucionária, que combate a história tradicional; a segunda fase, assumida no período pós-guerra e a mais próxima de uma escola, com novas técnicas e uma nova concepção, estrelada por Fernand Braudel; uma terceira fase se inicia em meados de 1968, e tem como foco a fragmentação. A sua imensa influência em território francês ocasionou a perda de muitas das peculiaridades que um dia tivera, mostrando-se uma escola unificada apenas aos olhos de simpatizantes externos e críticos domésticos. Nos últimos vinte anos, foi registrada uma mudança, do campo socioeconômico para o sociocultural, bem como uma redescoberta sobre a história política. Portanto, a Escola dos Annales pode ser vista como uma ilustração do processo cíclico que ocorre no estudo da História. O autor do livro afirma que seu estudo pretende ultrapassar as fronteiras culturais, buscando compreender o mundo francês e explicar sobre a década de 20 bem como a prática do historiador para outros atuantes das ciências sociais. Estudo que é apresentado como uma narrativa buscando articular uma reflexão de forma cronológica.

Burke critica sua própria abordagem, que usa e abusa da liberdade com a ordem cronológica, provocando um efeito conhecido como “a contemporaneidade do não-contemporâneo”. Utiliza como exemplo Braudel, que num intervalo de 50 anos entre suas obras mais conhecidas, não alterou sua guisa de analisar e penejar a História. Ele diz que não procura ser um estudo acadêmico definitivo de Annales, pois espera que alguém o faça no século XXI, mas sim algo bem díspar: um estudo de cunho mais restrito, porém sem perder sua essência crítica, escrito por um historiador de fora que se inspirou no movimento, por mais de trinta anos.

O autor diz ter resistido à tentação de tratar de assuntos como a política acadêmica ou de um estudo etnográfico sobre os habitantes do 54, Boulevard Raspail (endereço de um dos centros de encontro dos membros de Annales), dando preferência à escrever sobre os livros de integrantes do grupo e avaliar a importância dos mesmos na história da historiografia.

O literato defende que o movimento é de cunho coletivo, pois vários indivíduos contribuíram significantemente, algo que fica claro na terceira era, mas deveras abstruso nas eras anteriores, onde muitos atribuem o progresso a três ou quatro autores. Expõe que o trabalho em equipe sempre foi desejo de Febvre. Desejo que foi realizado apenas ao fim da Segunda Grande Guerra, quando vários estudos sobre a França foram executados em equipe.

Fica explícito, que ao escrever sua obra, Burke procurava fazer com que o leitor tenha uma completa compreensão do movimento como um todo, tomando como base algumas conversas com múltiplos membros dos Annales (essa citação procura servir como um agradecimento). O autor encerra o prefácio agradecendo à sua esposa bem como a vários outros que contribuíram no andamento e conclusão da obra.

Capítulo 1: O Antigo Regime na Historiografia e seus Críticos.

O autor inicia o capítulo apontando Febvre e Bloch como os líderes da “Revolução Francesa da Historiografia”. Diz, que para compreender os atos de tais insurgentes, devemos ter um conhecimento mínimo sobre o antigo regime que eles desejavam depor, e que para assimilar e narrar sobre o mesmo, é essencial analisar a história da historiografia como um todo.

A narração expõe que, desde os longínquos escritos de Heródoto e Tucídides a história é escrita nos mais variados gêneros, contudo, o principal sendo a narrativa dos acontecimentos políticos e marciais, seguindo uma cronologia que engloba as ações dos reis e chefes militares. Gênero esse que somente foi contraditado durante o Iluminismo.

Em meados do século XVIII, uma inquietude Europa afora sobre a História da Sociedade, uma história que vai além de guerras e política, fez com que fosse abandonado o método convencional de tratar sobre a história. Houve um foco nos anais das estruturas, bem como na reconstrução de valores e comportamentos; alguns até sobre a história da arte e da música. Porém, houve consequências. A principal sendo a marginalização da história sociocultural. O autor cita Ranke como líder de um movimento que arruinou a “nova história”. Todavia, os discípulos de Ranke foram mais intolerantes, removendo a história-não política da nova disciplina acadêmica. As revistas da época tinham como base resumos sobre o método histórico. Mesmo na época, alguns autores como Mechelet e Burckhardt, que tinham uma visão menos restrita da história, foram vozes discordantes.

Conforme palavras do autor, em 1900 as críticas e oposições à história política eram fortes e sugestões para sua substituição eram frequentes. Ele cita movimentos estadunidenses lançados sob a bandeira da “nova história”, onde ficava clara a presença de rupturas com a história dos acontecimentos políticos. Essa “nova história” deveria apoiar-se em todas as descobertas sobre a humanidade, nos mais diversos campos de estudos sociais.

Burke também situa a França, mostrando a paixão e o debate pela natureza histórica, citando o nome de Gabriel Monod, que além de um grande admirador de Michelet era também o professor dos futuros gênios dos Annales, Hauser e Febvre. Ele trata sobre vários autores e acontecimentos que mudaram a visão do mundo sobre a história, focando na França e Estados Unidos e buscou mostrar acontecimentos anteriores aos Annales, traçando uma narrativa fiel aos fatos que levaram à criação da escola, falando também sobre críticas e os pioneiros no “novo modo” de escrever sobre a história, fundamentado na colaboração entre disciplinas.

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