Resumo do livro Somos Todos Canalhas
Por: Douglas RS • 24/11/2017 • Resenha • 2.939 Palavras (12 Páginas) • 1.512 Visualizações
Somos todos Canalhas é um livro escrito dentro de um diálogo com os professores Clóvis de Barros Filho e o professor Júlio Pompeu.
O livro é dividido em quatro partes:
Parte I - Gregos
Parte II - Cristo e os modernos
Parte III - Utilitarismo
Parte IV - Fidelidade e tolerância
Na primeira parte (Gregos) é apresentado o pensamento de Platão, Sócrates, Aristóteles e Parmênides. Com destaque no gabarito de Platão para atribuir valor a uma conduta. “A ideia de que realmente só é possível julgar ante a existência de um gabarito, ainda que ele não seja único, o que nos leva a um segundo problema: determinar não só de onde vem o gabarito, mas talvez de onde vêm os gabaritos. ”
Em uma perspectiva hierárquica entre os seres é fundamental para que entendamos a forma grega e cósmica de atribuir valor às coisas. Resta-nos investigar de que maneira isto nos concerne. Cada um de nós é dotado de certa quantidade de recursos naturais que nos são dados por uma herança natural. São uma dádiva da natureza, potencialidades.
Para Platão, por exemplo, havia três virtudes fundamentais: a sabedoria, entendida por ele como a capacidade da boa lembrança do ser das coisas, ou, se preferir, do verdadeiro valor das coisas – lembrança da alma que esteve no mundo das ideias e agora veio para o mundo sensível –; a coragem, virtude da disposição de espírito impetuoso, daquele que, mesmo tendo medo, não se detém em fazer aquilo que sabe ser o necessário ou correto; e a temperança, o arrefecimento dos desejos e dos afetos, a capacidade de controlá-los, de não permitir que eles se imponham sobre a verdade e a bondade.
Aristóteles tem uma lista um pouco diferente. No lugar da sabedoria ele colocou a prudência. O intelecto não é um conteúdo do qual a alma consegue se lembrar, mas sim a capacidade de pensar bem a própria conduta. Prudência como razão prática, deliberação para a ação adequada diante da existência. Aristóteles concordava com Platão em relação à coragem e à temperança, mas acrescenta uma quarta virtude: a justiça – justiça que, como já explicado, corresponderia a uma ação simultaneamente prudente, temperada e corajosa. Por isso, ela é consagrada por ele como a maior das virtudes, a virtude do equilíbrio entre as virtudes.
Para os gregos, o valor de beleza, a definição do belo e as características de uma obra de arte têm como referência o cosmos. Tal como os valores morais. Para o pensamento grego, o belo se define a partir de uma suposta harmonia com o universo cósmico. E, portanto, toda atribuição de valor de beleza de obras humanas e corpos deverá ser realizada tendo o cosmos como referência. A arte grega é a encarnação num material sensível qualquer das propriedades harmoniosas desta ordem do mundo.
Na segunda parte (Cristo e os modernos) o pensamento dominante (principal) é de Kant. Com ênfase na moral kantiana (imperativo categórico e hipotético).
Toda tentativa de avaliar a natureza, de julgá-la, de atribuir-lhe valor a partir de premissas de racionalidade consagradas leva a uma incompreensão indignada, a flagrantes sem explicação e a uma tristeza ignorante. Querer que a natureza seja como supomos que ela deveria ser é como procurar pelo em ovo – tarefa que só entristece.
Uma das principais questões desta metafísica era a da causa do movimento do mundo. A causa primeira de todo movimento e de toda a impermanência característica do mundo físico. A leitura medieval de Aristóteles feita por Tomás de Aquino chamará a causa primeira de todo movimento de Deus. A dinâmica do mundo físico passa a ser explicada como uma conformação produzida por uma força estranha a ele: Deus. Essa força é descrita de forma predominante no pensamento medieval como um ser distante da natureza, como na experiência com Deus de Abraão, comum às três grandes tradições religiosas: judaísmo, cristianismo e islamismo. A ideia de milagre é uma consequência exemplar deste modo de pensar a divindade. Deus é o legislador das leis da natureza. Ele faz a natureza ser o que é. Ele é o princípio de organização e de atribuição de valor às coisas do mundo. Se este funciona de forma estranha, diferente, desprovida de explicação natural, como se regido por uma nova ordem natural, esta mudança só poderia ser obra do legislador, obra de Deus. Milagre é tudo aquilo que não tem explicação natural e que, ao ocorrer, provaria a existência de algo para além da natureza: Deus.
O pensamento cristão inaugura a ideia de igualdade. Uma igualdade que não é de fato, porque de fato somos desiguais. Mas uma igualdade que é de direito. E é fundamental que você entenda o porquê da aparição da ideia de igualdade neste momento – ela, que também nos parece, hoje, uma evidência. Evidência que nos levaria a pensar que sempre pensamos assim. Mas é preciso deixar claro que a igualdade de direito entre todos, esta que é igualmente moral e jurídica, tem dia e hora para aparecer no cenário das reflexões do homem. É uma igualdade que decorre do descolamento da ética e da política face à natureza. Logo, a desigualdade fica limitada ou confinada aos recursos naturais.
e. A liberdade política é tida como um baita valor. Valor pelo qual vale a pena matar e morrer. Valor sem o qual a vida não teria nenhum sentido. Mas a liberdade inaugurada pelo cristianismo aponta para o sentido existencial. A liberdade de poder existir de maneiras diferentes. A liberdade de não haver uma forma natural de existência e, portanto, uma única forma verdadeira de existência que excluiria todas as outras. O cristianismo inaugura uma espécie de eterno potencial revolucionário sobre a própria existência. Ninguém teria nascido para uma vida específica ou condenado a nenhuma existência. De tal maneira que nada impediria que Abelardo, materialista e impiedoso, se tornasse amanhã um espiritualista piedoso.
Se o valor das coisas tinha a ver, para os antigos, com a posição ocupada dentro de uma ordem hierárquica de valores, desaparecendo a ordem hierárquica, todos os lugares se equivalem. E desaparecendo a distinção desaparecem os valores. Assim você é obrigado a admitir que para atribuir valor às coisas o universo não serve mais de referência. Porque se antes as coisas valiam em função da participação no cosmos, com o seu desaparecimento, não há do que fazer parte. Ficamos, portanto, sem critério.
Com a mudança cósmica da modernidade, nascem também as representações da ordem social como consequência dos esforços individuais de cada um. Como somos de fato desiguais em talentos e esforços e como nos esforçamos por metas variadas, a ordem social propriamente dita é o resultado não de uma pré-concepção cósmica, mas de um embate de forças.
Kant acreditava que a única coisa boa em si mesma é a boa vontade. O que nos permite concluir que é essa vontade a matriz de toda atribuição adequada de valor. Essa vontade, por sua vez, diz respeito à capacidade racional para identificar o que é certo. E o que é certo fazer se converte num dever. A restrição da moralidade a esse juízo que advém do uso correto da razão quando trazido para o cotidiano, quando analisado no calor da vida, nos leva a conclusões pelo menos curiosas.
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