Violência nos Estádios de Futebol
Por: Carlos Roberto • 13/11/2023 • Monografia • 4.020 Palavras (17 Páginas) • 58 Visualizações
Qual a eficácia da torcida única para o combate da violência nos estádios de futebol?
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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3- TORCIDA ÚNICA COMO MEIO DE ACABAR COM A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS
Alguns estados brasileiros como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Norte já tiveram solicitados por entidades pedidos para que fosse instituída a torcida única, mas tal ato foi negado pelas autoridades, dado um reflexo que esta não seria a melhor solução para que fossem resolvidos conflitos que ocorriam em grandes jogos. No estado carioca, o Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos negou pedido do Ministério Público, entendendo que não haviam elementos suficientes para que fosse proferida tal medida, lembrou ainda que há uma responsabilidade do clube mandante em garantir a segurança do público presente nos estádios e numa outra ocasião em que a torcida única chegou a entrar em vigor logo foi vetada. Enquanto que no estado potiguar foi levantada uma discussão que debatia o risco da presença da torcida de dois clubes, diante de episódios de violência envolvendo torcedores, porém neste caso o próprio Ministério Público estadual se mostrou contrário a proibição, ao passo de que a norma apenas demonstraria uma incapacidade das forças de segurança em resolver a situação.
Experiências realizadas em Roma, Buenos Aires e Minas Gerais apresentaram baixos resultados ao se adotar a torcida única (Murad, 2017). Na Argentina a torcida única foi imposta na primeira divisão em 2013, desde essa data os números da violência entre torcedores só cresceram, segundo estudos, ficou constatado ainda que a maior parte das brigas ocorrem entre torcedores de um mesmo clube, não entre torcedores de times rivais propriamente, os governos foram criticados por manter a medida mesmo tendo feito promessas de que a removeria, foi citado também a falta de campanhas socioeducativas e preventivas.
Na Holanda, um dos países mais desenvolvidos socialmente do mundo em termos de humanidade, o hooliganismo é um grande problema, que já atormentou o país mesmo em dias onde nem haviam jogos. Atualmente estádios possuem estrutura especial pensada para evitar brigas entre torcedores rivais, há uma segurança reforçada por grades e alambrados visando separar os torcedores, para que em hipótese alguma eles possam se enfrentar. É feito ainda todo um esquema preventivo para que os torcedores possam adentrar e sair dos estádios sempre em segurança. Partindo sempre do pressuposto de que aquele é um lugar onde devem sim estar presentes os torcedores, mesmo que de clubes rivais, terem o direito de ir assistir as partidas de futebol, seja na casa do seu time ou do seu rival (Pereira, 2017).
Não são estabelecidos prazos e metas para as medidas adotadas, como a torcida única e os órgãos competentes se eximem de apresentar avaliações sobre sua eficácia (Perina, 2020). No principal exemplo citado neste artigo, o caso de São Paulo, a medida já dura cinco anos e desde lá episódios de violência continuam ocorrendo principalmente fora dos estádios, até mesmo fora da capital paulista, deixando vários feridos, por vezes também ocorrem dentro dos estádios com torcedores do mesmo time, mas de grupos rivais, há ainda caçadas a supostos torcedores de outros clubes, seja por não estar utilizando a camisa do time, por não gritar gol, por não proferir xingamentos contra os rivais ou por não concordar com algo, excluindo o livre direito de um cidadão ir até um estádio para apenas apreciar uma boa partida de futebol. O Ministério Público de São Paulo não determinou um prazo para o fim da medida e nem objetivos a serem alcançados, pelo contrário, voltou a recomendar que a torcida única seja mantida mesmo quando estava em um momento onde sequer torcedores iam aos estádios por conta da pandemia do coronavírus.
A principal meta a ser alcançada deveria ser a possibilidade de se realizarem cada vez mais jogos com a presença de torcida mista, que é aquela onde há geralmente uma área do estádio onde podem ficar presentes torcedores de times rivais, num mesmo espaço, sem restrições de separações. A Constituição brasileira prevê um Estado de liberdade, em que todos deveriam ser tratados iguais e respeitosamente, conviver pacificamente respeitando uns aos outros cidadãos, seja ele branco, preto, homossexual, deficiente físico, nordestino, entre quaisquer outras definições e quem dirá julgar por ser torcedor de um clube rival.
Estados como Bahia e Rio Grande do Sul já adotaram em algumas ocasiões a torcida mista, episódios que ficaram marcados como exemplos em entes da federação brasileira onde é notória a divisão estadual em torcidas de dois grandes clubes, Bahia e Vitória e Grêmio e Inter. Estes acontecimentos foram apontados como de deveras importância para que nesses locais fosse impedida adoção de torcida única, pois foi visto como uma utopia do que se deve buscar para o futuro da presença de torcedores nos estádios.
4- TORCIDAS ORGANIZADAS COMO CAUSADORAS DA VIOLÊNCIA
São os torcedores organizados também os responsáveis por criar cantos, puxar cortejos, realizar espetáculos de pirotecnia, hastear bandeirões, construir mosaicos, entre outras artes admiradas pelos espectadores que enfeitam os estádios. Há uma crítica por se dar muito mais notoriedade ao serem exibidas cenas de violência que não deveriam acontecer e não se mostrar com a devida importância que se deveria o lado positivo dos atos desses torcedores.
As organizadas também costumam realizar ações sociais como distribuição de cestas básicas, mutirões de doação de sangue, ajuda a pessoas e grupos que passam por necessidades e são desassistidos pelas entidades públicas, entre outras benfeitorias. Mas outra vez, são destacadas muito mais quando parte de seus membros se envolvem em confusões generalizadas, manchando a imagem que em sua maioria pratica o bem.
Os violentos são uma minoria no meio das torcidas organizadas, que por sua vez também é uma minoria da torcida em geral, então não se pode demonizar todo um grupo por conta de atos que são praticados apenas por uma parte em meio a um todo. É dito que as organizadas devem ser extintas porque fugiram de sua finalidade, mas o que há de se fazer então com nossos parlamentos, educação e saúde pública que também costumam desviar daqueles propósitos que deveriam cumprir (Murad, 2017).
O crime organizado se adentra cada vez mais nesses grupos, estabelecendo lá dentro pontos para se fazer o tráfico de drogas e realizar outras empreitadas criminosas. Investigações já apontaram que há indivíduos que estão cadastrados ao mesmo tempo em torcidas organizadas de vários clubes rivais de um mesmo local, não sendo estes torcedores, mas sim pessoas ligadas a organizações criminosas. Em 2017, Moacir Bianchi, um dos principais nomes da torcida organizada Mancha Alviverde foi assassinado por um membro do Primeiro Comando da Capital, logo num primeiro momento as autoridades já chegaram à informação que Moacir havia sido morto pois se mostrou contrário a entrada do PCC na organizada.
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