A Crise
Resenha: A Crise. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: luiza1223 • 28/5/2013 • Resenha • 2.525 Palavras (11 Páginas) • 509 Visualizações
O desenvolvimento da atual crise aponta para o seu contínuo aprofundamento. Tudo indica que a crise de 2008 não é conjuntural, nem deriva de falhas pontuais do mercado. Ela deve ser relativamente duradoura, e suas principais causas residem no próprio modo de operação do padrão de acumulação capitalista efetivado a partir da contra-revolução neoliberal de 1979-1980.
Salvo raras exceções, o mundo todo deve entrar em um período de forte recessão econômica. As conseqüências e a profundidade desta crise, contudo, só não serão maiores porque governos das principais potências mundiais estão injetando uma fabulosa soma financeira nas suas economias. Basicamente, os governos das nações desenvolvidas estão comprando ações, ativos e dívidas das instituições financeiras, garantindo depósitos bancários dos clientes das instituições e provendo liquidez para os empréstimos interbancários.
Os números das operações de salvamento das instituições rentistas são impressionantes. Nos Estados Unidos (EUA), a administração de George W. Bush aprovou, no início de outubro de 2008, um pacote no valor de US$ 850 bilhões para socorrer bancos, seguradoras e fundos de investimento em sérias dificuldades financeiras. Empresas de grande porte, como Citigroup, JP Morgan, Bank of America, Goldman Sachs e outros, receberam, cada um, uma ajuda de bilhões de dólares para liquidar ativos podres dos seus balanços e, em alguns casos, para a compra de pequenos e médios bancos, medida que irá centralizar ainda mais o capital nas mãos de uma pequena elite rentista.
Dentro deste aporte bilionário, estão previstas medidas que surpreenderam a muitos, inclusive do próprio mercado financeiro e dos setores neoliberais mais radicais. O governo dos EUA, contrariando todo o receituário (neo)liberal, estatizou algumas das principais instituições financeiras do país, como a seguradora AIG e as empresas de empréstimos hipotecários Freddie Mac e Fannie Mae.
A este pacote aprovado, podemos somar os cerca de US$ 3.2 trilhões que o banco central estadunidense, o Federal Reserve (FED), deve disponibilizar aos mercados financeiros na forma de linhas de créditos de curto prazo e de garantias aos depósitos dos correntistas e de pequenas empresas. O total da intervenção do Estado norte-americano na economia, portanto, ficaria em torno de US$ 4 trilhões.
Não são somente os Estados Unidos que estão salvando, a toque de caixa, as suas elites rentistas. A União Européia (UE) também vem implementando ações conjuntas contra a crise. Após reuniões e debates envolvendo todos os seus 27 membros, a UE negociou e aprovou, em regime de urgência, um pacote de medidas de ajuda as suas praças financeiras, que inclui um aporte de € 2.2 trilhões (cerca de US$ 3 trilhões) nas instituições virtualmente quebradas, alterações nas regras contábeis dos bancos e novos mecanismos de regulação das operações financeiras. O governo alemão despejará a maior quantia, algo em torno de € 500 bilhões; depois vem a França, com € 360 bilhões, a Holanda (€ 200 bilhões) e a Espanha (€ 100 bilhões). Outras nações européias que não fazem parte da UE também programam forte intervenção nos seus mercados. A Grã-Bretanha estatizou parte do seu sistema financeiro, adquirindo alguns importantes bancos nacionais, e a Rússia pretende injetar algo em torno de US$ 90 bilhões na economia, além de estar negociando um empréstimo para tirar a Islândia, nação com o maior Índice de Desenvolvimento Humano do mundo, da completa bancarrota.
A crise, contudo, não deve ser resumida à crise dos bancos. Ela é ainda mais grave, e atingirá, de forma muito desigual, os mais diferentes sujeitos históricos. Na nossa opinião, os efeitos mais drásticos da crise recairão sobre a classe trabalhadora. Vejamos alguns números que embasam a nossa hipótese.
Os efeitos da crise financeira já se fazem presentes no mundo do trabalho. A falência de diversas empresas, bem como a diminuição do crédito em circulação, reduzem os níveis de consumo e investimento, o que gera, conseqüentemente, a queda no nível das atividades econômicas. O resultado mais imediato deste ciclo econômico descendente é o aumento do desemprego dos trabalhadores.
Nos Estados Unidos, epicentro da atual crise, segundo dados do Departamento do Trabalho, os pedidos nacionais de auxílio-desemprego aumentaram consideravelmente, alcançando 497 mil pedidos. É a maior marca registrada desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, sinalizando fortes indícios de recessão na maior economia mundial. A previsão é de piora do quadro social, pois se estima que 100 mil trabalhadores percam, a cada mês, seus postos de trabalho, o que pode resultar em um aumento na taxa de desemprego do país de 6% para 8%. No mês de outubro, 240 mil vagas foram fechadas; no acumulado do ano, 1,2 milhões de postos de trabalho desapareceram. Conforme declara Joseph Stiglitz, “os Estados Unidos não estão tecnicamente em recessão. Mas isso é menos importante que o fato de que a economia vai operar bem abaixo de seu potencial, e o desemprego vai crescer”.
No velho continente europeu, os mais recentes números indicam estagnação e recessão das principais economias da região, como Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido. A forte queda nas atividades econômicas traz consigo o aumento do desemprego. Estima-se que 10 mil trabalhadores são demitidos diariamente na Europa. Na Inglaterra, um dos berços do neoliberalismo, o desemprego já atinge cerca de 2 milhões de pessoas, a pior marca desde 1997. A taxa de desemprego da ilha é de 5,8% e a tendência apontada pelo Banco Central é de aumento nos próximos meses. Tony McNulty, ministro do Trabalho inglês, declarou que “não estamos ainda no fundo do poço”.
A situação do desemprego no mundo não é diferente. As expectativas globais apontam para o aumento do desemprego. Conforme estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a atual crise financeira levará ao fechamento de 20 milhões de postos de trabalho no período entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009. Com isto, o número de desempregados mundiais subirá de 190 milhões para 210 milhões. O estudo da OIT baseou-se em projeções oficiais do FMI, da ONU e das economias de diversos países, e contém uma importante advertência: “achamos que este cálculo ainda pode estar subestimado, pois não sabemos como vai evoluir a crise”, disse Juan Somavía, diretor-geral da OIT.
Um segundo efeito da crise financeira sobre a classe trabalhadora, e que merece a nossa atenção, é o aumento do pauperismo. A tendência – a curto, médio e longo prazos – é a
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