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A ERA DA CATÁSTROFE

Por:   •  3/11/2017  •  Ensaio  •  2.212 Palavras (9 Páginas)  •  360 Visualizações

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ENSAIO SOBRE A PARTE 1 – A ERA DA CATÁSTROFE

1. A era da guerra total

Segundo Hobsbawn (1995, p.30), não se pode compreender o século XX sem falar em guerra mundial, uma vez que este século viveu e pensou em termos da guerra. “A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoronou nas chamas da guerra mundial” (HOBSBAWN, 1995, p.30).

Tudo isso mudou em 1914. A Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, [...]. E mais: tropas do ultramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora de suas regiões. [...]. E, mais importante, os Estados Unidos [...] mandaram seus soldados para lá, determinando assim a forma da história do século XX. (HOBSBAWN, 1995, p.31).

Para Hobsbawn (1995, p.59), a Primeira Guerra Mundial não resolveu nada. Gerou esperanças de um mundo pacífico e democrático de Estados-nação sob a Liga das Nações e de um retorno à economia mundial de 1913, logo foram frustradas. Ainda segundo Hobsbawn (1995, p.51), de 1914 em diante, as guerras foram inquestionavelmente guerras de massa. O nível de mobilização, durante anos, não pode ser mantido, a não ser por uma economia industrializada de alta produtividade e em grande parte nas mãos de setores não combatentes da população.

Talvez a guerra seguinte pudesse ter sido evitada, ou pelo menos adiada, se se houvesse restaurado a economia pré-guerra como um sistema global de prósperos crescimento e expansão econômicos. Contudo, após uns poucos anos, em meados da década de 1920, nos quais se pareceu ter deixado para trás a guerra e a perturbação pós-guerra, a economia mundial mergulhou na maior e mais dramática crise que conhecera [...]. Daí em diante, uma nova guerra mundial era não apenas previsível, mas rotineiramente prevista. (HOBSBAWN, 1995, p. 43).

“É quase desnecessário demonstrar que a Segunda Guerra Mundial foi global. Praticamente todos os Estados independentes do mundo se envolveram.” (HOBSBAWN, 1995, p. 31). Hobsbawn (1995, p.52) analisa que as guerras do século XX foram guerras de massa no sentido de que consumiram, quantidades até então inconcebíveis de produtos, exigindo produção em massa, que por sua vez exigia organização e administração, transformando a guerra total no maior empreendimento até então conhecido do homem.

2. A revolução mundial

“A revolução foi a filha da guerra no século XX: especificamente a Revolução Russa de 1917, que criou a União Soviética, transformada em superpotência pela segunda fase da ‘Guerra dos Trinta e Um Anos’” (HOBSBAWN, 1995, p. 61). Para Hobsbawn (1995, p.62), a Revolução Bolchevique (1917) foi tão fundamental para a história do século XX, como a Revolução Francesa (1789) foi para o século XIX, produzindo o mais formidável movimento revolucionário organizado na história moderna. 

A história do Breve Século XX não pode ser entendida sem a Revolução Russa e seus efeitos. Não menos porque se revelou a salvadora do capitalismo liberal, tanto possibilitando ao Ocidente ganhar a Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o incentivo para o capitalismo se reformar, e também – paradoxalmente - graças à aparente imunidade da União Soviética à Grande Depressão, o incentivo a abandonar a crença na ortodoxia do livre mercado. (HOBSBAWN, 1995, P.89)

“A reivindicação básica dos pobres da cidade era pão, e a dos operários entre eles, melhores salários e menos horas de trabalho. A reivindicação básica dos 80% de russos que viviam da agricultura era, como sempre, terra.” (HOBSBAWN, 1995, p.68).  Todos ansiavam pelo fim da guerra. “O slogan ‘Pão, Paz, Terra’ conquistou logo crescente apoio para os que o propagavam, em especial os bolcheviques de Lenin” (HOBSBAWN, 1995, p.68).

Segundo Hobsbawn (1995, p.71), a Revolução sobreviveu devido a três grandes razões: primeiro por que possuía um instrumento de poder único no Partido Comunista, segundo por que era o único governo capaz de manter a Rússia integral como Estado e a terceira razão era que a Revolução permitira ao campesinato tomar a terra. Além disso, “a revolução mundial pertencia à retórica do passado, e na verdade qualquer revolução só era tolerada se a) não conflitasse com o interesse de Estado soviético; e b) pudesse ser posta sob controle soviético direto” (HOBSBAWN, 1995, p.78).

A revolução mundial, que os inspirara, avançara visivelmente. Em vez de uma única URSS fraca e isolada, emergira, ou estava emergindo, algo como uma dezena de Estados da segunda grande onda de revolução global, chefiada por uma das duas potências no mundo merecedoras deste nome (o termo superpotência já existia em 1944).  Tampouco se exaurira o ímpeto da revolução global, pois a descolonização das velhas possessões ultramarinas imperialistas prosseguia em franco progresso. (HOBSBAWN, 1995, p.87).

3. Rumo ao abismo econômico

Para Hobsbawn (1995, p. 91) sem o colapso econômico entre as guerras, com certeza não haveria Hitler, bem como quase certamente não haveria Roosevelt, sendo muito improvável que o sistema soviético tivesse sido encarado como uma alternativa econômica viável ao capitalismo mundial, tornando-se impossível compreender o mundo na segunda metade do século XX sem entendermos o impacto do colapso econômico.

Hobsbawn (1995, p. 95-96) destaca que ninguém esperava pela extraordinária universalidade e profundidade da crise que começou com a quebra da Bolsa de Nova York em outubro de 1929. “Houve uma crise na produção básica, tanto de alimentos como de matérias-primas, porque os preços, não mais mantidos pela formação de estoques como antes, entraram em queda livre. [...] Em suma, tornou a Depressão global no sentido literal.”  (HOBSBAWN, 1995, p.96). “A Grande Depressão destruiu o liberalismo econômico por meio século. [...] Obrigou os governos ocidentais a dar às considerações sociais prioridade sobre as econômicas em suas políticas de Estado.” (HOBSBAWN, 1995, p.99)

Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultrarrápida e maciça sob seus novos Planos Quinquenais. [...] E mais, não havia desemprego. [...] Ecoando os Planos Quinquenais da URSS, ‘Plano’ e ‘Planejamento’ tornaram-se palavras da moda na política. (HOBSBAWN, 1995, p.100-101)

Segundo Hobsbawn (1995, p.102) não há como explicar a crise econômica mundial sem os EUA, eles eram o primeiro país exportador do mundo na década de 1920, motivo pelo qual, tornaram-se a principal vítima da Depressão, uma vez que as suas importações caíram em 70% entre 1929 e 1932, e suas exportações caíram na mesma taxa. Para Hobsbawn (1995, p.111-112) o velho liberalismo parecia condenado e três opções competiam agora pela hegemonia intelectual-política: O comunismo marxista, o capitalismo e o fascismo.

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