A Revolução Industrial na Europa do Século XIX
Por: Brenno do Nascimento Silva • 18/6/2023 • Seminário • 3.420 Palavras (14 Páginas) • 91 Visualizações
A Revolução Industrial na Europa do Século XIX
- Tom Kemp
Capítulo 3 - “Desenvolvimento econômico francês: um paradoxo?”
Abandono dos ideais de que a França era um país subdesenvolvido e atrasado durante o processo de industrialização inglesa e holandesa nos séculos XVIII e XIX A França seguiu seu próprio rumo capitalista, crescendo e se desenvolvendo economicamente em detrimento de um crescimento industrial no primeiro momento...
˜ França durante o século XVIII possuía características adequadas a um cenário de desenvolvimento do capitalismo industrial:
1) Tendências intelectuais intensas do iluminismo francês, com Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Marquês de Argenson (idealizador do “laissez-faire”)...
2) Indústria de bens têxteis de alto valor agregado (moda de luxo) francesa era dominante perante as classes altas europeias
3) Esforços coloniais relativamente bem-sucedidos, com a manutenção das ilhas açucareiras no Caribe (mesmo com a massiva perda de territórios para a Inglaterra durante a década de 1750 na Guerra dos Sete Anos)
4) Mercado externo e comércio marítimo desenvolvido, fronteira com os maiores mercadores e potências da Europa
França pré-revolucionária (sécs. XVII e XVIII): instituições feudais muito presentes, com um sistema camponês que impedia a comercialização de excedentes produtivos, vide as pesadas obrigações feudais para com a nobreza e o clero; a economia francesa era majoritariamente doméstica, com a produção para subsistência nos mansos e trabalho remunerado em moeda por alguns membros da família para pagar obrigações monetárias e comprar essencialmente roupas e utensílios domésticos no mercado local
˜ Manutenção dos mercados locais: reino muito extenso, porém com parca infraestrutura de locomoção para a integração e acessibilidade das mais distintas áreas produtivas, com uma produção manufatureira essencialmente regulada e artesanal: as áreas produtivas do país não estavam voltando seus esforços para seu produto de melhor aptidão, alargando um hiato produtivo
Colbertismo (1661-1682): durante o reinado de Luís XIV, o Rei Sol, na França, seu Ministro de Estado Jean-Baptiste Colbert institucionalizou o mercantilismo como uma política econômica do Estado, em que a principal característica de intensa intervenção estatal na produção econômica do país ficou como herança e tornou-se tradição perante as demais administrações Grande parte do estímulo à produção fabril na França foi obra direta do Estado, com auxílio produtivo para certos empresários e inventores, fazendo com que as principais empresas não atendessem à procura do mercado, mas sim aos objetivos burocrático sem uma base econômica firme
˜ Durante o século XVIII, com o crescimento massivo do poder dos proprietários de terras ingleses frente aos franceses, houve um forte incentivo ao aumento dos lucros líquidos da classe proprietária francesa, composta em grande parte por nobres latifundiários, e que quando esses demonstravam-se insatisfeitos com as tentativas reais de alteração em seus privilégios consuetudinários, ameaçavam o governo (o qual consentia com a classe dominante), além de reforçar os laços de servidão e aumentar os encargos sobre a classe produtora campesina, o que aprofundava o conservadorismo econômico retrógrado francês e aumentava a discrepância com os ingleses...
Inglaterra: antes da Revolução Industrial já havia uma extensa rede de relações de mercado perante a sociedade inglesa, o que facilitou a adaptação do modo produtivo
França: antes da Revolução Industrial, tentativas de mercantilização da produção local e criação de um mercado interno não tiveram sucesso graças às relações agrárias tradicionais, profundamente enraizadas e universais, o que estimulava a domesticidade econômica
˜ Antes de 1789, os limites à expansão do capital industrial eram em grande parte o desincentivo governamental à produção voltada ao mercado, setor repleto de riscos e perspectivas duvidosas, taxa de lucro relativa inferior à produção agrícola; além do mais, a classe burguesa atuava nas empreitadas comerciais não com o intuito de acumular mais capital produtivo, mas sim gastar seus estoques de capital com atividades improdutivas (vivendo das rentes das terras), além de preferir o protecionismo ao livre-comércio, além da hesitação em aprimorar os métodos produtivos...
Mesmo que o Ancien Régime permitisse algum desenvolvimento comercial e econômico, a sua base institucional ia contra a direção de um movimento industrial, ou seja, dever-se-ia abolir esse regime, como foi feito durante a Revolução Francesa dos séculos XVIII e XIX
Ainda assim, os burgueses que dominavam as assembleias da Revolução Francesa não eram industriais, mas sim, pertencentes das profissões liberais (atuavam na política e na administração, uma burguesia pré-industrial); todavia, a renovação política e jurídica que o liberalismo trouxe para a França proporcionou durante o século XIX caminho sólido para que o capitalismo industrial pudesse se desenvolver
˜ Benefícios da Revolução: defesa dos direitos de propriedade para acabar com os privilégios hereditários e favorecer à livre-iniciativa individual, com a abolição das guildas, remoção das barreiras alfandegárias internas e promoção do assalariamento das classes produtoras
˜ Durante a Revolução Francesa, a posse senhorial das terras foi abolida, permitindo uma reforma agrária, o que deu a posse de diversos lotes para os camponeses trabalhadores, além da eliminação das taxas pré-existentes por impostos rurais menos agressivos, o que privilegiava o acúmulo de excedentes produtivos pelos fazendeiros; como esse processo distributivo foi realizado sem a presença massiva de uma burguesia rural, o cultivo rudimentar e a dependência da economia francesa pela agricultura foi preservada pelas décadas seguintes
˜ Ademais, não houve um incentivo como na Inglaterra que provocasse um grande êxodo rural que alimentasse um exército industrial de reserva, já que com a reforma agrária (junto do costume camponês de possuir poucos filhos que havia se consolidado no código napoleônico) os camponeses preferiram ficar nas aldeias à espera de herdarem terras ou de adquirirem terra como métayers em lotes maiores, o que favoreceu as indústrias domiciliares escasso processo geral de divisão do trabalho entre a massa laboral francesa, impedindo o avanço econômico
Adaptação
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