A Transição do Feudalismo para o Capitalismo - Debate Dobb e Sweezy.
Por: João Teixeira • 28/5/2018 • Trabalho acadêmico • 1.255 Palavras (6 Páginas) • 420 Visualizações
A transição do Feudalismo para o Capitalismo – um debate.
Uma crítica
Paul Sweezy
Sweezy começa seu relato com uma enorme crítica à obra de Maurice Dobb. Toda a crítica se baseia na teoria do feudalismo europeu ocidental. Para Dobb, o feudalismo se define pelo o que se entende por servidão. Sweezy rebate dizendo que essa afirmação é falha, pois não identifica um sistema de produção; visto que a servidão pode estar presente em vários outros sistemas que não são feudais. Para Dobb, a servidão é a relação de produção dominante no interior e ao redor da propriedade senhoril, dessa forma, o comércio a longa distancia não desempenha papel decisivo nos métodos de produção sendo que a base é a subsistência.
Dobb afirma que o declínio do feudalismo adveio do interior da própria economia feudal através do crescimento da economia e da intensificação da servidão. O feudalismo era ineficiente ao crescimento do sistema de produção e à maior demanda de receita da classe dominante, o que gerava uma “pressão” sobre o produtor; essa “pressão” provocou uma exaustão, que como consequência teve o desaparecimento da força de trabalho que nutria o sistema; os servos desertaram das propriedades senhoris. Com isso justifica que uma das causas do declínio é a superexploração da força de trabalho. Além disso, os servos que ficavam nos feudos eram poucos demais para sustentar a base do antigo sistema. Foram esses acontecimentos, mais do que a expansão do comércio, que forçaram a classe dominante feudal a adotar os expedientes.
Para sustentar sua teoria, Dobb precisa demonstrar que a crescente necessidade de receita por parte da classe dominante feudal e a fuga dos servos da terra podem ser explicadas em termos de forças a operar no interior do sistema feudal. Ele explica dizendo que a classe parasita nobre estava aumentando muito (o que fazia que os servos “trabalhassem” mais) juntamente com as guerras, o banditismo e as extravagancias das famílias nobres.
Então Sweezy rebate dizendo que não só no feudalismo, esses fatores sempre existiram. Explica também que as classes crescentes eram comparáveis à população servil, havendo ainda muita terra para ser cultivada. Além disso, o crescimento dessas não era muito alto, pois eram obrigados a pagar impostos e que a extravagancia da classe dominante adveio de causas externas, não internas, como exemplo o comércio. Quanto às fugas dos servos, Sweezy diz que eles não podiam simplesmente desertar dos laços senhoris por pressão e irem para o fundo da escala social. As fugas na verdade ocorriam simultaneamente com o crescimento das cidades, que estava em ascensão e poderia oferecer melhores perspectivas a esses; os burgueses precisavam de mão de obra. A fuga se dá pelo desenvolvimento natural das cidades e conclui que a “pressão” por si só, não geraria grandes emigrações.
Dobb acha que o crescimento das cidades se dava como centros de comércio. Mas O comércio não pode de maneira alguma ser considerado uma forma de economia feudal; segue-se daí que Dobb dificilmente poderia sustentar que o desenvolvimento da vida urbana foi consequência de causas feudais internas. Por isso, ele não conseguia abalar a teoria comumente aceita que diz que o crescimento do comércio foi à causa do declínio do feudalismo.
As cidades estavam ascendendo socialmente, o valor de uso começa a cair, junto com as produções feudais e o valor de troca começa a crescer, junto com a maior eficiência e a maior produção especializada; os lucros eram derivados da produção para o mercado ao invés de para o uso imediato.
Sweezy diz que seria mais certo dizer que o declínio do feudalismo decorreu da incapacidade da classe dominante em controlar a força de trabalho da sociedade e superexplorá-la. O modo feudal de produção estava desintegrando e a burguesia mercantil rica aumentando; Dobb diz que o caráter medieval e os aspectos formais da ordem feudal ainda permaneciam. Sweezy discorda dizendo que se continuasse feudal, deveria caracterizar-se ainda pela predominância da servidão no campo, o que não acontecia mais; exemplifica sua afirmação através de uma carta de Engels à Marx sobre o sistema agrário alemão no século XV, em que ambos concordam com o quase total desaparecimento da servidão.
Sweezy diz que os aproximados 200 anos de transição não era uma mistura de capitalismo e feudalismo. Não era nenhum e nem outro. Chamou sistema que prevaleceu na Europa ocidental durante os séculos XV e XVI de "produção pré-capitalista de mercadorias", para significar que foi o crescimento da produção de mercadorias o que primeiro desintegrou o feudalismo e que, mais tarde, preparou o terreno para o desenvolvimento do capitalismo.
Uma réplica
Maurice Dobb
Dobb diz que Sweezy apresenta como sendo a sua opinião de que o declínio do feudalismo deveu-se unicamente pela ação de forças internas, que o crescimento do comércio nada teve a ver com o processo ao defender sua própria tese de que um feudalismo internamente estável só poderia desintegrar-se pelo impacto de uma força externa como o comércio e o mercado. Dobb explica que para ele houve uma interação dos dois, ainda que a ênfase, na verdade, recaia sobre as contradições internas. Concorda que realmente o crescimento das cidades mercantis e do comércio desempenhou importante papel na aceleração da desintegração do antigo modo de produção. Mas afirma que o comércio exerceu sua influência na medida em que acentuou os conflitos internos no antigo modo de produção.
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