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BASTANTE ESTE NEGÓCIO

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Por:   •  8/3/2014  •  Tese  •  703 Palavras (3 Páginas)  •  264 Visualizações

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CHEGA DESSE NEGÓCIO

Manifesto contra a moda de se falar mal do Brasil

João Ubaldo Ribeiro

Sim, o Brasil tem problemas medonhos e não é um exemplo de desenvolvimento e justiça social, mas, com perdão da má palavra, já ando de saco cheio desse negócio de tudo aqui ser o pior do mundo, ninguém aqui prestar e nada aqui funcionar e sermos culpados de tudo o que de ruim acontece na Terra. Saco cheiíssimo de sair do Brasil e enfrentar ares de superioridade e desprezo por parte da gringalhada, todos nos olhando como traficantes de cocaína, assassinos de índios e crianças, corruptos natos e mais uma vasta coleção de outras coisas, a depender do país e da plateia.

Tem muito brasileiro que, nessas ocasiões, bota o rabo entre as pernas, já vi muitos. Eu não. Posso ter envergonhado a Pátria por escrever mal ou me comportar de forma pouco recomendável em coquetéis literários, mas, em matéria de reagir a dichotes, nunca envergonhei. Não nego os problemas brasileiros, mas me recuso a aceitar que sejamos os únicos vilões e que não se veja em nós nenhuma qualidade positiva, a não ser sambar, distribuir abraços e beijos a todos e exibir os traseiros de nossas mulheres a quem solicitar. Aí eu dou o troco a eles.

─ Um jornal noticiou que matam 200.000 crianças por ano no Brasil. Isso é uma barbaridade! O que o senhor tem a dizer sobre isso?

─ Não sei o número certo, mas matam-se crianças no Brasil, é verdade. E concordo, é uma barbaridade. Mesmo que fosse só uma criança, já seria demais. Entretanto, aqui mesmo em seu país, não faz tanto tempo assim, esse número que o senhor citou talvez fosse uma estimativa conservadora não por anos, mas por dia. Sei que o senhor é da geração pós-guerra, não tem nada com isso, nada disso se reflete sobre seu povo e, se formos cavoucar muito, é capaz de vocês descobrirem que Hitler tinha uma avó alagoana e é por isso que deu naquilo. As coisas não são tão simples e, a depender das circunstâncias, qualquer povo é capaz de matar crianças e criancinhas, seja apertando botões de bombas, o que não fazemos no Brasil, seja apertando o gatilho mesmo, o que, como vocês, também fazemos no Brasil, só que em escala muitíssimo mais modesta, nunca chegamos à perfeição de vocês.

─ Como se explica o extermínio dos índios brasileiros? ─ pergunta um americano.

─ Do mesmo jeito que o extermínio dos índios americanos. Por causa da ganância, brutalidade, arrogância, ignorância etc. que são encontradas em nossos povos. Devo dizer, contudo, que o exército brasileiro nunca saiu tocando corneta a cavalo para metralhar índios, índias, indiazinhas em suas aldeias, nem enforcou índios, nem escalpelou índios ( o costume de escalpelar foi aprendido pelos índios de vocês), nem mandou cobertores contaminados por sarampo e catapora de presente para os índios.

─ Como é que o senhor pode ser escritor em um país de analfabetos?

─ Porque, ainda mal e porcamente, é a única coisa que sei fazer. E porque todo povo tem sua literatura. Me fazem muito essa pergunta, e fico pensando que, por sermos pobres, não

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