Economia Solidária e Sustentabilidade
Por: Maria Araujo • 23/4/2015 • Artigo • 4.231 Palavras (17 Páginas) • 281 Visualizações
Economia solidária e sustentabilidade
Sandra Rufino, DEPRO/UFOP, PEGADAS/UFRN, NESOL/USP, ssrufino@yahoo.com.br
João Amato Neto, EPUSP, amato@usp.br
Reinaldo Pacheco da Costa, ITCP/USP, EPUSP, rpcosta@usp.br
1. Introdução
As atuais mudanças políticas, sociais e econômicas espalhadas pelo mundo impõem
grandes desafios às nações para fazerem crescer seu padrão de desenvolvimento,
melhorar a qualidade de vida das pessoas e considerarem plenamente os controversos
efeitos daí decorrentes sobre a natureza. No caso do Brasil, a internacionalização de sua
economia principalmente a partir dos ’90 levou muitas empresas à falência, gerando
mais desemprego estrutural. Daí nasceu um estimulo à construção de um movimento
econômico, político e social denominado de Economia Solidária, responsável pela
criação de empreendimentos e organizações produtivas baseadas no trabalho associado,
propriedade coletiva dos meios de produção, cooperação e autogestão como alternativa
ao desemprego.
A Economia Solidária (ES) compreende diversas práticas econômicas e sociais
organizadas sob a forma de cooperativas, associações, empresas autogestionárias, redes
de cooperação, sistemas de créditos populares entre outros, que realizam atividades de
produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e
consumo solidário.
Segundo Singer (2000), a ES é um modo de produção e distribuição alternativo criado e
recriado pelos que se encontram (ou temem ficar) marginalizados do mercado de
trabalho. A Economia Solidária casa o princípio da unidade entre posse e uso dos meios
de produção e distribuição com o princípio da socialização destes. Tem se afirmado
através de políticas locais, regionais e nacionais, com iniciativas dos governos e das
instituições de pesquisa e fomento (universidades, igrejas, ONGs e outras
organizações), mas principalmente nas comunidades que se reúnem para viabilizar
empreendimentos que possam garantir a sobrevivência de seus membros.
A realidade social e econômica decorrente da globalização também trouxe um processo
de falência das empresas no Brasil, como aconteceu em várias partes do mundo,
surgindo daí a experiência de recuperação das empresas por parte dos trabalhadores,
única alternativa que se apresentou diante da eliminação de seus postos de trabalho. Um
processo difícil, pois muitas das empresas já tinham ficado obsoletas ou dilapidadas
técnica ou tecnologicamente (RUFINO, 2005).
Por outro lado, cada vez mais as questões ambientais e sociais se tornaram pauta das
discussões. A consciência de que nossos recursos são esgotáveis tem feito com que
países, empresas e outras entidades, sejam pela sua própria ação ou pela pressão da
sociedade ou ainda de órgãos internacionais repensem suas atividades e estratégias para
que sejam compatíveis com a exploração da natureza. Os séculos XX e XXI são
marcados por uma grande devastação dos recursos naturais com poluição deletéria do
ambiente, mostrando ser o modelo de desenvolvimento em voga insustentável e
incompatível com o futuro.
O objetivo desse artigo é mostrar como a sustentabilidade é praxis1 dos
empreendimentos solidários com base na democracia e autogestão. Além desta
introdução, o artigo é construído a partir de um contraponto entre desenvolvimento e
sustentabilidade. A terceira seção apresenta os atuais atores da Economia Solidária. Na
quarta seção apresentamos a indissociável ligação entre sustentabilidade e Economia
Solidária. A quinta e última seção exibe uma reflexão sobre este importante atual
movimento social juntamente a algumas recomendações para a realização de pesquisas
futuras sobre o tema abordado no artigo.
2. Desenvolvimento e Sustentabilidade
Os termos desenvolvimento e sustentabilidade são discutidos desde a década de 90 de
forma intensa, mas ao mesmo tempo em que a temática é difundida, os conceitos são
confundidos e tratados como senso comum. São apresentadas a seguir algumas
vertentes desta discussão, conforme Pateo e Sigolo (2007):
a) Desenvolvimento como crescimento econômico: até a década de 60 eram
considerados países desenvolvidos aqueles que tinham crescimento econômico e
que acumulavam riquezas. Com o crescimento rápido de países periféricos como o
Brasil, este conceito passou a apresentar problemas, pois a população não
1 Praxis (do grego πράξις) é o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é executada ou
praticada, se convertendo em parte da experiência vivida. Na Sociologia pode ser resumida como as
atividades materiais e intelectuais exercidas pelo
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