Economia e sociedade
Tese: Economia e sociedade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: brendaaaaaaaacal • 14/5/2014 • Tese • 8.152 Palavras (33 Páginas) • 480 Visualizações
Economia e Sociedade, Campinas, (8): 183-238, jun. 1997.
Política social e pactos conservadores no Brasil:
1964/921
Eduardo Fagnani
Introdução
Este ensaio analisa a política social brasileira no período 1964/92. Dividese
em três partes. A primeira trata da estratégia conservadora (1964/85), com
destaque para dois aspectos centrais:
– seus traços estruturais: regressividade dos mecanismos de financiamento;
centralização do processo decisório; privatização do espaço público; expansão da
cobertura; e reduzido caráter redistributivo;
– sua periodização: 1964/67 (concepção); 1968/73 (institucionalização); 1968/73
(crise e reforma); e 1981/85 (esgotamento).2
A segunda discute a estratégia reformista (1985/88). Durante a Nova
República, forças políticas integrantes da coalizão governista que conduziu à
transição democrática, solidárias com o avanço dos direitos sociais, tentam
implementar um amplo projeto de reorganização institucional e econômica
forjado nos anos de resistência ao autoritarismo. Nesse contexto, houve a
concepção e tentativa de implantação de uma ambiciosa estratégia reformista da
política social edificada no regime militar. O ímpeto reformador concentrou-se no
Executivo federal (especialmente no biênio 1985/86) e na Assembléia Nacional
Constituinte (1987/88).
A terceira aborda a contra-reforma conservadora (1987/92), marcada por
duas etapas:
– gestação (1987/90): a transição democrática no Brasil sela um pacto
conservador interelites e expressa seu caráter “negociado” e “pelo alto”. Essa
fissura na coalizão governista teve papel decisivo nos rumos da política social
durante o governo da Nova República. É nítida, nessa fase, a percepção de dois
movimentos conflituosos, superpostos e intermitentes. O primeiro, já mencionado,
é impulsionado por segmentos identificados com a estratégia reformista. O
(1) Este ensaio é um produto parcial e preliminar elaborado para a tese de doutorado do autor, a ser
defendida no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, sob a orientação do
Prof. João Manuel Cardoso de Mello. O autor agradece aos comentários e sugestões feitos por Beatriz Lefèvre,
José Carlos Braga, Mônica Maia Bonel Maluf, Pedro Luiz Barros Silva e Rosa Maria Marques.
(2) Como se pretende demonstrar a seguir, propõe-se para o período 1964/92 uma periodização distinta
da que se segue, e que foi elaborada de forma pioneira por Aureliano e Draibe (1989) e complementada por
Draibe (1994), que focaliza o desenvolvimento do welfare state no Brasil desde os anos 30: a) 1964/77:
consolidação institucional (1964/67: consolidação institucional; 1967/77: expansão massiva); b) 1977/88: crise e
ajustamento do sistema (1977/84: crise e ajustamento conservador; 1984/88: ajustamento progressista); c)
1988/93: reestruturação do sistema (1988: definição de novos princípios (Constituição); 1988/91:
implementação das reformas (início); 1992/93: crise e formação de nova agenda de reformas).
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segundo é impelido por setores conservadores que buscam obstruir esse
processamento. A gestação da contra-reforma intensifica-se entre 1987 e março de
1990, quando as velhas forças políticas aliadas da ditadura regressam ao centro do
poder; e
– implementação truncada (1990/92): com a rearticulação das forças
conservadoras e da gestação de novo consenso neoliberal, em um contexto de
aumento da instabilidade macroeconômica e da crise estrutural do setor público, a
implementação da contra-reforma dos direitos sociais da Carta de 1988 adquire
extraordinário vigor. Com o impeachment do Presidente da República, no entanto,
truncou-se o processo, que permaneceu ainda inconcluso nessa fase. Nesse
contexto, também ocorrem um desaparelhamento e uma fragmentação burocrática
da política social, sem precedentes no período aqui analisado.
Do ponto de vista metodológico, pretende-se avançar na superação de
algumas lacunas existentes na bibliografia sobre política social brasileira
contemporânea. Apesar de ampla e diversificada, essa bibliografia revela, em
primeiro lugar, a ausência de tradição na análise do conjunto das políticas,
predominando as abordagens setoriais.
Em segundo lugar, são escassos os trabalhos que investigam as
articulações dos setores com os processos político e econômico mais amplos –
mais raros ainda são aqueles que contemplam ambos os processos.
Em terceiro lugar, além das áreas consagradas nos modelos clássicos de
welfare state
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