TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Globalização e desenvolvimento: a estratégia Вrasileira nos anos 901

Pesquisas Acadêmicas: Globalização e desenvolvimento: a estratégia Вrasileira nos anos 901. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  19/11/2013  •  Pesquisas Acadêmicas  •  9.327 Palavras (38 Páginas)  •  326 Visualizações

Página 1 de 38

GLOBALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO:

A ESTRATÉGIA BRASILEIRA NOS ANOS 901

Brasilio Sallum Jr.

RESUMO

O artigo argumenta que na fase atual do capitalismo os processos de desregulação dos mercados não tendem a produzir um mundo institucionalmente homogêneo: os países adotam formas diversas de integração no sistema mundial e, embora fragilizados, os Estados nacionais ainda têm capacidade de gerar estratégias de desenvolvimento. No Brasil, em substituição ao nacional-desenvolvimentismo, adotou-se nos anos 1990 uma estratégia liberalizante e internacionalizante, consubstanciada com o Plano Real e o primeiro governo FHC. O autor discute o fracasso da tentativa de radicalizar tal estratégia conforme uma versão fundamentalista de neoliberalismo e a possibilidade de que ela assuma aspectos desenvolvimentistas sem perder seu caráter liberal.

Palavras-chave: globalização; desenvolvimento econômico; governo FHC.

Na década de 1980, o tema “estratégia para o desenvolvimento” teve forte presença nos estudos sobre crescimento econômico, especialmente aqueles preocupados em traçar diretrizes para as políticas de governo nos países de industrialização tardia. Mais recentemente, porém, com o avanço extraordinário da reformas liberalizantes em todo o mundo, o debate sobre qual melhor estratégia adotar parece ter perdido sentido, pois “os proponentes de políticas comerciais mais abertas venceram nitidamente o debate de mais de uma década entre a outward orientation e a inward orientation”2. Ademais, como a estratégia outward oriented foi erroneamente identificada à ausência de intervencionismo estatal, a recomendação política dominante passou a ser a de que os países em desenvolvimento se integrassem, pura e simplesmente e cada vez mais, à economia de mercado3.

Assim, a literatura sobre desenvolvimento e política de desenvolvimento ficou quase toda dominada por discussões sobre “ajustamento”, “integração” ou “reformas estruturais”. Discutem-se intensamente o grau e o ritmo, os fatores de resistência e de impulsão das reformas, mas muito pouco a sua natureza, a direção específica que elas tendem a imprimir ao desenvolvimento econômico, como se houvesse um só ponto de chegada na corrida das reformas: o livre mercado. Mas é claro que predomínio não significa uniformidade. Há ainda alguma presença na imprensa e no meio acadêmico de uma literatura “de resistência”, “de protesto” ou “de interpretação crítica” orientada a identificar as “reformas estruturais” com uma orientação “neoliberal” gerada nos principais centros de poder mundiais, “antipopular”, “antinacional” e “socialmente excludente”. Quase toda essa literatura, porém, combate o mainstream político e acadêmico aceitando os termos do adversário, só que encarando o Estado, o mercado e as reformas com sinal inverso — o sinal que lhes costumava ser atribuído na “idade do ouro” do capitalismo, iniciada depois da II Guerra Mundial e encerrada nos anos 1970.

Este artigo retoma o tema da estratégia para o desenvolvimento com um duplo propósito. Em primeiro lugar, pretende mostrar que, a despeito do avanço das reformas liberalizantes, a questão ainda é relevante, desde que redefinida em um novo terreno: o das novas formas de estruturação da economia política mundial. Em segundo lugar, busca esboçar as linhas gerais e as ambigüidades daquilo que vem se definindo como a estratégia brasileira de desenvolvimento nos anos 1990.

Globalização e estratégias nacionais

Dois trabalhos ilustram bem a orientação básica da recente literatura internacional sobre o desenvolvimento. Stephan Haggard4 faz um levantamento extenso em todas as regiões do mundo “em desenvolvimento” para mostrar como os países de cada uma delas estão em processo “de integração” a um mesmo ordenamento mercantil. As causas do processo de transformação e o seu grau de profundidade variam em cada região do mundo, mas o trajeto é o mesmo. A maioria dos países em desenvolvimento teria deixado a condição de “não-integração”, com suas variadas formas de intervenção do Estado na ordenação do mercado, alinhando-se e movendo-se ao longo de uma escala progressiva para o que o autor denomina “shallow integration” (reduzindo as diferenças de ordenação ligadas ao comércio externo, como barreiras alfandegárias e não alfandegárias) e, em seguida, para o que qualifica como “deep integration” (homogeneizando o ambiente institucional das economias, dando tratamento igual para capitais locais e estrangeiros, reconhecendo direitos autorais e patentes industriais etc.).

O outro trabalho refere-se especialmente à América Latina. Trata-se do livro de Sebastian Edwards publicado com o patrocínio do Banco Mundial5, que parte da crise da dívida externa do início dos anos 1980 e tenta identificar e explicar a emergência entre as elites políticas e intelectuais da região de um “novo consenso” a respeito da política econômica adequada para os seus países. O autor procura mostrar como esse consenso vem se materializando em ondas sucessivas de políticas públicas nos diversos países da América Latina. Os pontos básicos do novo consenso seriam: a necessidade de gerar estabilidade macroeconômica mediante o controle dos déficits do setor público; a importância de abrir a economia para a competição estrangeira; a necessidade de reduzir o papel do Estado no processo produtivo, por meio de programas ambiciosos de privatização e desregulamentação, e de reconstruí-lo a fim de evitar abusos nas atividades econômicas e assegurar a sua competitividade; e a importância de implementar políticas para a redução da pobreza.

Ambos os trabalhos são valiosos: mesmo que se discorde das causas apontadas para o “processo de integração” ou para a emergência de um “novo consenso” sobre as políticas de Estado na América Latina, os textos são muito convincentes na descrição dos processos efetivos. Não há dúvida de que o mundo atravessa um período em que domina o consenso quanto à necessidade de obedecer certos padrões básicos de política econômica e em que a “liberalização” das atividades econômicas e a redução das diferenças institucionais que as regulam constituem a nota dominante. No entanto, em ambos há uma limitação básica. A perspectiva intelectual da qual os dois trabalhos são ilustrações trata os processos de mudança em termos genéricos, apanhando apenas as regularidades que lhes são comuns. As diferenças nacionais aparecem

...

Baixar como (para membros premium)  txt (64 Kb)  
Continuar por mais 37 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com