O Pluralismo Metodológico na Ciência Econômica
Por: mlcorr • 3/1/2022 • Resenha • 1.826 Palavras (8 Páginas) • 137 Visualizações
A economia é uma das áreas cuja presença de diferentes escolas de pensamento coexistem, cada qual adotando distintas metodologias (DEQUECH, 2008). Nessa falta de consenso se encontram as dualidades da economia do tipo ortodoxia vs. heterodoxia, ou ainda acerca do mainstream econômico, o qual há uma grande divergência acerca de como este se caracteriza e o que ele de fato representa para a economia.
Na teoria mainstream contemporânea, há uma grande diversificação de temas abordados, e sua aproximação estaria mais voltada para semelhanças metodológicas, embora alguns autores contestem até que ponto as duas coisas podem se dissociar. Ademais, ao se falar sobre o significado da palavra mainstream, essa teria uma carga sociológica envolvida. Colander, tal como outros autores, vão caracterizá-lo, também, por um processo de mudança gradual dos pensamentos econômicos mais privilegiados pela elite da produção. Cabe ressaltar, ainda, que a abordagem teórica da economia, no Brasil tem características diferentes, se comparada à demais meios acadêmicos do mundo. No geral, há maior aceitação em comparação às outras regiões daquelas que fogem ao mainstream econômico, tanto na academia e em financiamentos de pesquisa quanto em meios de publicação. (DEQUECH, 2008; COLANDER, 1992)
Além das divergências citadas, a economia ainda está sujeita a outros debates. Debate-se acerca de onde a ela se insere: no que é normativo, positivo ou da arte. Tradicionalmente, para os pensadores da metodologia da economia ao longo do século XX, o conhecimento que é normativo, ou seja, daquilo que relaciona o comportamento à ética ou aos juízos de valor, é rejeitado pelos principais teóricos, em prol da produção de conhecimento positivista na intenção de que isso traria rigorosidade científica. (HANDS, 2012).
O debate sobre essa dicotomia e sobre a aproximação da idealização teórica positivista e a realidade econômica é especialmente forte nos campos da microeconomia, pela importância de alguns pressupostos como o da Teoria das Expectativas Racionais. O que Hands (2012) procura mostrar a respeito da racionalidade é que, de modo geral, ela não se encaixa na categoria positivista tão bem porque ela não está exatamente falando de uma visualização prática da economia real, mas sim de uma pressuposição de que as escolhas dos agentes “deveria ser” racional. Esse debate, ainda, deve considerar que o conhecimento positivo pode também se inserir dentro dos conceitos do normativo, especialmente no que tange à previsões sobre os indicadores econômicos ou as perspectivas dos valores atribuídos pelos cientistas, ao exemplo do conceito de eficiência.(HANDS, 2012). O que Wade Hands argumenta, ainda, acerca do relacionamento dicotômico supracitado é:
“as estritas dicotomias positivistas originadas de fato/valor deveriam ter desaparecido (ou pelo menos sido desinfladas) junto com a hegemonia das ideias filosóficas positivistas. Todas as dicotomias rígidas da era positivista - teoria-observação, priori-a posteriori, analítico-sintético, etc. - têm, durante a segunda metade do século XX, lentamente, sido abandonadas em prol de variantes mais locais e específicas do contexto dessas distinções.Alguém também suspeitaria que a economia - uma disciplina que parecia ter tantos problemas para permanecer no lado científico dessas distinções de inspiração positivista - seriam os primeiros a saudar essa desinflação.” (HANDS, 2012, p.19)
Quanto à abordagem formalista para a economia, esta também é divergente. No geral, a matematização é um recurso utilizado cientificamente para aumentar a rigorosidade do argumento, e é apenas um dos tipos formais de construção teórica. Para Victoria Chick (1998), há a argumentação acerca dos aspectos de abordagem formal na economia, e como estes, ainda que produtivos no sentido de gerarem transparência e informações exatas, não podem ser considerados como único aspecto metodológico válido na hora de se produzir conhecimento econômico, tampouco uma ferramenta neutra, considerando que, muitas vezes, a pesquisa a ser desenvolvida pode ser selecionada pela possibilidade de privilegiar os métodos formais, muito mais do que sua relevância para a discussão econômica. A autora critica, ainda, como a economia poderia privilegiar pesquisas que, ainda que utilizassem de métodos informais, como a generalização histórica, fossem efetivamente produtivas para a aplicação real desta teoria, ou, pensando no argumento científico, a possibilidade de testá-la frente aos fatos. (CHICK, 1998)
Sua opinião é contrária à Krugman, que julga as críticas à abordagem formalista na teoria econômica estarem associadas muito mais à críticas ao conteúdo produzido por alguns economistas do que efetivamente à ferramenta matemática para a sua produção. Outro questionamento importante está relacionada ao retorno da perspectiva de Marshall, que utiliza da rigorosidade formal como método de ilustrar a teoria, muito mais do que a produção de resultados concretos. Em suma, a matemática é utilizada para verificar as conclusões teóricas, não para obtê-las. “A economia baseada em modelos inevitavelmente influencia o campo para suposições econômicas padrão, como retornos constantes de escala, competição perfeita e informações completas” (KRUGMAN, 1998, p.1834). Para ele, isso nem sempre é verídico, tendo economistas que trabalharam com modelos e os viram como essenciais em mercados imperfeitos. (KRUGMAN, 1998)
Dada a revisão supracitada das divergências do pensamento econômico, quanto à natureza científica - positiva ou normativa - da economia; às abordagens teóricas - de cunho ortodoxo, heterodoxo -; e quanto às abordagens instrumentais quanto ao formalismo, podemos afirmar que o pluralismo metodológico na economia é uma discussão importante na ciência e, inevitavelmente, gera dissensos se este é positivo ou não. O pluralismo científico pode ser caracterizado como uma “[...] variedade de programas de pesquisas em Economia, bem como de um ambiente institucional na Academia que ofereça algum espaço para posições divergentes do que é considerado conhecimento e método hegemônicos na profissão” (ANGELI, 2014, p.40). McCloskey (1983) enfatiza a contraposição daquilo que é certeza na ciência econômica modernista, que é um “critério de corte” para que aquilo seja considerado científico. Entretanto, esse ponto de vista abandona todo o “meio” entre os extremos do conhecimento que, na verdade, produzem resultados plausíveis. Nesse cenário, haveria múltiplos conceitos de racionalidade no pensamento econômico.
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