Organização Americana da Saúde

background image Educação a distância: conceitos e potencialidades 1 Miriam Struchiner Taís Rabetti Giannella Muito tem se falado e várias iniciativas vêm sendo registradas no âmbito da educação a distância (EaD). Embora não seja propriamente uma inovação, tendo registros de cursos há mais de cem anos, esta modalidade educacional tem, na última década, retornado ao foco da atenção de especialistas e de sistemas de ensino, particularmente do ensino superior e do mundo empresarial, tanto no âmbito da formação profissional, como na educação continuada da força de trabalho. As motivações para a crescente difusão desta modalidade estão centradas no acelerado desenvolvimento científico e tecnológico em nossa sociedade, que provocam transformações constantes nos espaços de trabalho e demandam profissionais com perfil mais aberto e capaz de adaptar-se às mudanças, instrumentalizados e motivados a continuar aprendendo ao longo de suas vidas. Um profissional que, além de se sentir capaz de contribuir para o progresso social, esteja sempre consciente de que o ser humano é inacabado e que aprende por toda a sua vida (BELLONI, 2003). Uma outra grande motivação para a ampliação das iniciativas de EaD é o fato de o próprio avanço tecnológico ter possibilitado o desenvolvimento de mídias digitais cada vez mais interativas, abrindo perspectivas para a democratização do acesso à educação. É impossível dar conta de todos os aspectos da EAD em um único documento, tendo em vista sua complexidade e, especialmente, a multiplicidade de possibilidades e perspectivas de abordagem em programas desta natureza. Assim, este texto tem como objetivo apresentar conceitos introdutórios sobre a modalidade de EaD e discutir algumas dês suas potencialidades para o ensino superior. Conceito de EaD Ao falarmos sobre Educação à Distância (EaD), estamos falando de educação, ou seja, do processo de construção e reconstrução do conhecimento e da formação de cidadãos competentes e conscientes de seu papel em nossa sociedade, capazes de atuarem 1 Este texto é uma síntese adaptada do Capítulo 7 do livro Aprendizagem e Prática Docente: conceitos, paradigmas e inovações de Struchiner, M. & Giannella, T.R., publicado em 2005, pela Organização Pan

Americana da Saúde.

background image produtivamente e de forma comprometida em seus ambientes sociais e em suas atividades profissionais. Portanto, a EaD não difere da educação presencial em sua essência, mas em aspectos pontuais; a EaD pressupõe a distância física entre professores e alunos e entre alunos e seus colegas, nunca a distância de uma relação construtiva e dialógica entre atores envolvidos no processo educativo. É com esta visão que devemos discutir o modelo de EAD que desejamos e suas implicações. Isto significa que grande parte dos conhecimentos envolvidos no processo educativo e nas atividades de ensino-aprendizagem são fundamentais para a EAD que, para suprir a distância física, lança mão de instrumentos, materiais e meios adequados para que todos os participantes tenham acesso às fontes de informação, participem ativamente do processo educativo trocando informações e experiências e possam se desenvolver integrando conhecimentos, relacionando-os ao mundo em que vivem e recebendo apoio e orientação para este fim. Desde os seus primórdios, a EaD vem utilizando diferentes meios de comunicação para viabilizar estas experiências: material impresso, rádio, TV, fax/telefone, computador/Internet e outros. Cada um destes apresenta características que viabilizam mais ou menos efetivamente os elementos necessários à aprendizagem, devendo ser utilizados de maneira complementar e integrada. Pode-se dizer que cada vez mais, as novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente por meio da grande rede mundial de computadores, vem superando as relações de espaço e tempo, ampliando as possibilidades de acesso ao conhecimento e às formas de comunicação e colaboração. Com base nestas questões, fica claro que o eixo estratégico da EaD é a mediação: Não se podendo, hoje, distinguir claramente as fronteiras entre ensino presencial e

ensino a distância, a não ser pela descontiguidade geográfica (mesmo ela

minimizada), parece que o critério da mediatização é mais seguro: isto significa que

se deverá considerar o ensino a distância como uma modalidade de ensino que

obriga a um processo de mediatização para suprir a descontiguidade entre professor

e aluno. (CARMO, 1997: 193) A modalidade a distância tem sido viabilizada para os mais diferentes segmentos educacionais, desde o ensino superior, o ensino fundamental e profissional e os diversos níveis de educação continuada. Esta é uma característica fundamental da EaD: aumentar o acesso à educação, viabilizando programas para aqueles que, pelos mais diferentes motivos, não podem estar presentes na escola tradicional. Muitos autores defendem a EaD como um modelo de democratização da educação, uma vez que esta viabiliza o acesso de grande parcela da população (MOORE & ANDERSON, 2003). Embora isto seja uma verdade, devemos ser cautelosos com esta tese, uma vez que a EaD, por ser mediatizada, muitas vezes exige conhecimentos e habilidades específicas para acessar e trabalhar com os recursos

background image educativos e as diferentes mídias e entrar em contato com conteúdos e outros participantes, e isto nem sempre é possível para o conjunto de nossa sociedade, tendo em vista as diferenças sociais e os diferentes níveis de formação. Educação a distância e educação aberta são dois conceitos que muitas vezes se confundem. Originalmente, educação aberta se referia à democratização da educação, possível pelo aumento do acesso aos estudantes e pela quebra de restrições de qualificação formal para o ingresso nas instituições de nível superior. Portanto, “abertura” significa quebra de barreiras que limitam o acesso à educação superior. Em certo sentido, esta abordagem tem relação com a natureza da EaD. No entanto, o conceito de educação aberta está muito mais