Os desequilíbrios de contas correntes no mundo tornaram-se centro do debate de política econômica
Por: AdrianaAreias • 4/1/2016 • Resenha • 618 Palavras (3 Páginas) • 320 Visualizações
Resumo – Global Imbalances and the Financial Crisis: link or no link? – BIS
Os desequilíbrios de contas correntes no mundo tornaram-se centro do debate de política econômica nos últimos anos. Algumas vertentes entendem que esse desequilíbrio é um fator chave para explicar a crise financeira, pois os elevados superávits dos países emergentes exerceram uma pressão baixista nas taxas de juros em todo o mundo e maior aceitação do risco, favorecendo o boom de crédito nos países deficitários que estavam no centro da crise. Essa é a visão do excesso de poupança no mundo, que reduziria a taxa de juros e favoreceria o endividamento dos agentes deficitários. A visão desse trabalho, entretanto, vai na direção de que a crise financeira tem relação, não com o excesso de poupança, mas com um excesso de elasticidade do sistema financeiro e monetário internacional, que não consegue restringir crédito e o insustentável boom de preços dos ativos. Nesse sentido, a criação de moeda tem um papel decisivo no entendimento da crise financeira.
Introdução
OS autores se comprometem a refutar a ideia “excess saving” (ES), baseada nos pressupostos de que (i) o fluxo de capitais dos países superavitários está alimentando o boom do crédito e do preço dos ativos nos países deficitários; (ii) o aumento da poupança ex ante em relação ao investimento ex ante nos países superavitários tem pressionado para baixo a taxa de juros americana, pois muito do superávit estaria sido investido em ativos denominados em dólar.
A objeção ao primeiro ponto deve-se ao fato de que a conta corrente e o fluxo líquido de capital revelam pouco sobre as finanças, pois leva-se em conta basicamente os fluxos de bens reais e serviços na economia, desprezando o elevado movimento de entrada e saída e de capitais (entradas e saídas brutas) e ativos financeiros. Os autores entendem que o foco nas contas correntes deriva de falhas na distinção entre poupança e financiamento. Poupança é um conceito de contas nacionais, é a renda não consumida; enquanto que financiamento é um conceito de fluxo de caixa, que é o acesso a poder de compra através da tomada de empréstimo (na forma mais básica). Daí conclui-se, por exemplo, que investimento produtivo e despesas em geral requer financiamento e não poupança.
A segunda objeção é com respeito a ideia de que a poupança ex ante igual ao investimento ex ante resultará na taxa de juros. Os autores entendem que existe diferença entre taxa de juros natural (definida por variáveis reais que alcançam equilíbrio no mercado) e a de mercado, sendo apenas a natural definida daquela maneira. A taxa de juros de mercado é, para os autores, um fenômeno monetário, em que a política de juros do banco central e as expectativas do mercado sobre essas políticas que tomam forma na relação de compra e venda de ativos financeiros (segundo expectativas e percepções de risco). Investimento e poupança só influenciariam indiretamente a taxa de juros de mercado, na medida em que influenciam a ação do BC e as expectativas dos agentes. Em resumo, os autores são contra a ideia de que a taxa de juros é determinada por fatores reais da economia, defendendo que esta é definida num ambiente em que o crédito e a criação de moeda são fundamentais, ou seja, em uma economia em que a moeda não é neutra.
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