Resumo A Transição do feudalismo para o capitalismo
Por: Rafael Moreira • 3/4/2019 • Resenha • 2.370 Palavras (10 Páginas) • 350 Visualizações
Uma crítica - Paul Sweezy
Paul Sweezy se concentra em um livro de Maurice Dobb para falar sobre o declínio do feudalismo e à ascensão do capitalismo. Sweezy observa que Dobb utiliza feudalismo e servidão para de referir a um mesmo sistema, porém ele acredita que a definição é falha por não identificar um sistema de produção, uma vez que pode existir alguma forma de servidão em sistemas que não têm nada de feudal.
Ele diz que o conceito de Dobb é um pouco genérico porque ele não define um sistema social, mas vários sistemas baseados na servidão. Apesar disso, ele consegue traçar de forma resumida algumas principais características como: baixo nível técnico, produção de subsistência, agricultura dominal, descentralização política, detenção condicional da terra e exercício de funções judiciais por um senhor. A partir dessa características Dobb classifica esse sistema feudal como sendo clássico.
Partindo dessa descrição o sistema feudal pode ser definido como um sistema no qual a servidão é a relação principal de produção, no qual é organizada ao redor da propriedade senhorial. Isso não significa que há ausência de transações monetárias, mas sim que a maioria dos mercados são locais e o comércio de longas distâncias não desempenha papel determinante nos métodos de produção.
A característica básica do feudalismo é a subsistência, ou seja, a produção é baseada e organizada para satisfação própria. Logo, não existirá pressão para melhoria do modos de produção como há no sistema capitalista. Isso não significa que o sistema era estático ou estável. Havia competição dos senhores por terras e vassalos, tal competição reforça os vínculos entre senhores e vassalos, fortalecendo, portanto, os aços feudais.
Outro elemento de instabilidade é o crescimento populacional que era limitado ao número de produtores que é capaz de empregar e o número de consumidores capaz de sustentar, inibindo assim a expansão generalizada. É possível concluir que o feudalismo europeu ocidental foi marcado pela manutenção de certas métodos e relações de produção.
Dobb acreditava que além do crescimento do comércio havia algum outro fator externo responsável pelo declínio do feudalismo. As provas não são conclusivas, mas acredita-se que foi a ineficiência do feudalismo somada às crescentes necessidades de receita dos dominantes que levou ao declínio. Basicamente, foi a superexploração dos servos que levou os senhores a adotarem comutação das prestações do serviço, arrendamento de terras dominiais a locatários levando assim a transformação das relações de produções nas regiões rurais.
Sweezy contesta que desprezo pelos interesses dos servos e guerra e banditismo não podem ser caracterizados com elementos naturais do feudalismo, uma vez que existiram durante todo o período e portanto necessitam de uma explicação. De acordo com ele, a pressão exercida pelos senhores, como defendia Dobb, não seria suficientemente responsável pela emigração dos servos e que a explicação mais fácil de ser compreendida seria que a fuga destes ocorreu simultaneamente com o crescimento das cidades, que ofereciam liberdade de emprego e melhoria da posição social.
Sweezy declara que Dobb fez uma má leitura de Marx, quando afirma que "a transformação realmente revolucionária da produção e a ruptura do controle do capital mercantil sobre a produção foi realizada por homens provenientes das fileiras dos antigos artesãos.
Dobb considerou que o processo de acumulação se desenvolveu em duas fase distintas. A primeira é que a burguesia adquire a preço ridículo certos valores e títulos de riqueza. E a segunda é a fase de realização, no qual objetos dessa acumulação eram vendidos, possibilitando investimento efetivo na produção industrial. Sweezy contesta Maurice devido a falta de provas, uma vez que nessa época a burguesia desenvolveu o mecanismo de bancos e créditos para transformar seus bens congelados em realizáveis. Sendo assim fica difícil compreender o que levaria a burguesia sentir a necessidade de vender seus bens. O objetivo da burguesia era romper com o antigo sistema e buscar novos assalariados para a criação de um novo que lhe desse lucro.
Apesar de não considerar a teoria de Dobb sobre o declínio do feudalismo, Sweezy reconhece que ela trouxe uma contribuição importantíssima para a solução do problema. Ele diz que Dobb estava certo ao rejeitar a teoria de que a ascensão do comércio traz junto o fim da servidão e finaliza falando do "excelente tratamento que ele deu aos problemas básicos do período de acumulação original".
Uma Réplica - Maurice Dobb
Maurice Dobb inicia sua réplica admitindo a importância de um debate para entender o desenvolvimento da história e do marxismo como metodologia de estudo . Diz concordar com muitas questões levantadas por Sweezy, porém, em outras, diz que a interpretação dele lhe parece enganadora.
Dobb concorda quando Paul diz que feudalismo não deve ser definido apenas como servidão, uma vez que apresenta uma definição mais ampla, merecendo, portanto, uma análise mais cuidadosa.
Sweezy acreditava que a característica principal do feudalismo é a produção de subsistência, e Dobb acredita que a principal característica é que os métodos produtivos eram relativamente primitivos, sendo que o produtor detinha dos meios de produção.
De acordo com Sweezy, Dobb deveria entender o feudalismo europeu ocidental separadamente, já que apresentava algumas distinções em cada região. Mas, Maurice acreditava nas semelhanças existentes entre Europa Ocidental e Oriental, na forma como eram explorados os produtores, sem qualquer tipo de remuneração.
Para Sweezy o sistema feudal não é necessariamente estático, porém os movimentos que acontecem não tendem a transformá-lo, demonstrando assim que a luta de classes não poderia desempenhar qualquer papel revolucionário. Dobb não disse que a luta entre servos e senhores feudais desempenhou o capitalismo. O que ocorreu foi o desligamento desse processo de comando do senhor, que com o passar do tempo liberou os pequenos produtores de exploração feudal. Foi desse modo de produção que o capitalismo nasceu.
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