Resumo Trevor-Roper
Por: marimarucha • 26/9/2018 • Abstract • 3.599 Palavras (15 Páginas) • 187 Visualizações
Mariucha da Silva - 5661831
Resumo – Trevor-Roper
A Europa passou por um período de revoluções em meados do século XVII, fazendo os observadores da época acreditarem que a própria sociedade estava em crise. Da Inglaterra (Revolução Puritana) às Províncias Unidas da Holanda, passando por Andaluzia, Nápoles, Catalúnia e Portugal entre outros, dias de agitação estavam instalados. Os observadores da época atribuíram esta crise a razões espirituais, justificadas pelas novas interpretações da Bíblia. Acreditava-se que os reinos tinham duração de 500 a 600 anos e os cientistas, também os mais instruídos na matemática bíblica, apontavam o fim da sociedade e do mundo para algo entre 1640 e 1660. Essas revoluções foram, portanto, de alguma forma previstas, não acontecendo de forma abrupta, se espalhando pela Europa com caráter universal. Assim, qual foi a condição que tornou a sociedade europeia tão universalmente tão vulnerável, intelectual e fisicamente a esta epidemia de revoluções?
A resposta mais óbvia foi a Guerra dos 30 Anos, de 1618 a 1648, que preparou o terreno para a Revolução nos países afetados por ela. Com a guerra houve aumento dos impostos, opressão dos camponeses e deslocamento do comércio, que causou desemprego e violência nas fábricas. Esses fatores juntos causavam a insatisfação e rebelião por parte dos camponeses. Porém, a guerra não é explicação suficiente, pois ela em si não constituía fenômenos novos. Além disso as revoluções do século XVII foram, em algumas ocasiões, independentes da guerra, como é o caso da Inglaterra, onde ocorreu a Revolução, mas que era neutra nas guerras, e da Alemanha, que sofreu intensamente com as guerras, mas onde não houve revolução. As guerras do século XVI não causaram revoluções. Apesar de ter havido revoluções dramáticas da Reforma e Contra-Reforma no século XVI, esse mantém-se contínuo e unitário, com a sociedade do fim do século bem parecida com a do início. É possível afirmar de modo geral que, apesar de toda a violência das convulsões religiosas que viveu, o século XVI conseguiu absorver suas tensões e os pensadores conseguiram engolir suas dúvidas, e que no fim do século reis e filósofos sentiam-se igualmente satisfeitos com o melhor dos mundos possíveis.
Já o século XVII é bem diferente. Ele não absorveu suas revoluções, não é contínuo, mas sim quebrado ao meio. Seu fim é irreconhecível quando comparado ao seu começo, intelectualmente, politicamente e moralmente. Do fim do século XV até a metade do século XVII existe um único clima na Europa, o clima do Renascimento Da metade do século XVII há os anos de transformação, de revolução e daí em diante, por mais um século e meio, o clima do Iluminismo, bem diferente do anterior. A se buscar uma explicação para as revoluções do século XVII deve-se procurá-las na estrutura da sociedade, e não simplesmente a partir das circunstâncias do século anterior. Uma sociedade de estrutura firme, elástica e funcional resiste à revolução, mesmo que no estrangeiro ela seja epidêmica, e a universalidade da revolução no século XVII indica que as monarquias europeias tinham desenvolvido graves fraquezas estruturais, fraquezas essas que não surgiram, somente foram expostas com o reinício da guerra geral.
Contemporâneos que analisaram essas fraquezas gerais, de estrutura, entenderam-nas como revoluções políticas, luta de poder, por sobrevivência entre os dois órgãos tradicionais da antiga “monarquia mista”, a Coroa e os Estados. Mas, que forças e interesses eram representados pelos partidos revolucionários da Europa do século XVII (partidos esses que deram poder e significado sociais às revoltas de Cortes e Dietas, Estados e Parlamentos)? A resposta marxista para essa questão (e também aceita por historiadores não marxista) é que a crise do século XVII foi uma crise de produção, tendo como força motriz de algumas das revoluções a força da burguesia produtora contra o obsoleto, dispendioso e restritivo sistema feudal. De acordo com esse ponto de vista, a crise de produção foi geral na Europa, mas foi somente na Inglaterra que as forças do “capitalismo”, graças a seu maior desenvolvimento e sua representação no parlamento, puderam triunfar. Assim, na Inglaterra, a estrutura antiga do feudalismo foi destruída e o capitalismo moderno, industrial, pôde atingir resultados surpreendentes, transformando o mundo.
Ainda assim não é fácil mostrar que o capitalismo inglês foi diretamente auxiliado pela “vitória” puritana de 1640-1660. Se se pretende provar que a revolução puritana inglesa foi uma “revolução burguesa” vitoriosa, não é suficiente apresentar evidências de que o capitalismo inglês era mais avançado em 1700 do que em 1600, mas sim deve ser provado que os homens que fizeram a revolução objetivavam este resultado, ou que este resultado não teria sido conseguido sem a revolução. Nenhum defensor da teoria marxista estabeleceu qualquer dessas ligações necessárias ao argumento, nem Maurice Dobb nem E. J. Hobsbawn.
A identificação marxista das revoluções do século XVII com revoluções burguesas e capitalistas é uma hipótese a priori. Os marxistas acreditavam como doutrina que uma transformação tão grande não poderia ter sido alcançada pacificamente, portanto buscavam a explicação da transformação capitalista em uma revolução violenta, acontecida em algum momento entre o descobrimento da América e a Revolução Industrial, preferencialmente na Inglaterra, local do principal desenvolvimento do movimento industrial. Encontraram a revolução Puritana e exclamaram Eureka! É ´possível que as transformações sociais não exijam necessariamente revolução violenta, diferentemente do que acreditam os marxistas.
Nesse ensaio sugere-se que a crise do século XVII não foi uma simples crise de produção ou constitucional, mas uma crise geral, mais ampla e vaga, nas relações entre sociedade e Estado. Para explicar tal ponto é necessário analisa-la à luz de um passado mais remoto do que às vezes se pensa ser necessário, e não apenas à década precedente. Deve-se analisar todo o ancien régime, que precedeu a crise, toda forma de Estado e sociedade que se ve continuamente em expansão, absorvendo todos os choques, tornando-se mais confiante no século XVI e que, em meados do século XVII chega ao fim, o que por conveniência chama-se de Estado e sociedade do Renascimento europeu. O Renascimento europeu é tido como a repentina expansão da civilização, a excitante descoberta de mundo após mundo, aventura após aventura, o aumento progressivo da sensibilidade e esplendor que atingiu sua maior extensão no século XVI e começou a declinar no século seguinte. Expansão é a sua palavra, e não transformação.
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