CULTURA
Tese: CULTURA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: PriscilaTessaro • 20/3/2014 • Tese • 2.243 Palavras (9 Páginas) • 347 Visualizações
3- CULTURA
Ao se trabalhar com o tema Mercosul e Cultura pretende-se examinar como a questão da integração cultural é tratada pelas autoridades governamentais brasileiras no contexto da formação do Mercosul, ou seja, como ela debatida, proposta e propagada.
Compreende-se por cultura toda produção material e simbólica dos homens, inseridos em um contexto social, político e histórico. Sendo assim, tanto a produção cultural como a apropriação destes bens culturais se dão de maneira desigual e diferenciada, pois se está em um mundo onde as pessoas não são iguais e, além disto, situam-se em diferentes classes sociais, estratos sociais e contextos históricos diferenciados.
THOMPSON (1995), dialogando com Geertz, não nega o caráter simbólico na produção dos bens culturais. Mas enfatiza que o caráter simbólico dos fenômenos culturais deve estar sempre inserido em contextos sociais estruturados. É o que Thompson chama de concepção estrutural da cultura.
A semelhança de pensamento de Thompson, García Canclini faz a seguinte ressalva:
“Afirmar que a cultura é um processo social de produção significa, antes de tudo, opor-se às concepções que entendem a cultura como um ato espiritual (expressão, criação) ou como uma manifestação alheia, exterior e posterior às relações de produção (sendo uma simples representação delas.) (...) Qualquer prática é simultaneamente econômica e simbólica, uma vez que agimos através dela, construímos uma representação que lhe atribui um significado." (GARCÍA CANCLINI, 1983, p.30)”
Portanto, ao se abordar o termo cultura nos processos de globalização e regionalização, surge algumas dúvidas e indagações. Tornar-se-ão as culturas nacionais e/ou regionais homogêneas neste novo contexto mundial?
Levando-se em consideração as proposições apresentadas anteriormente, de que a identidade é um processo em curso que está em constante mudança, pode-se afirmar que as culturas nacionais não se tornarão homogêneas. O que há são tentativas de nações mais desenvolvidas economicamente de impingir ao restante do mundo o seu modo de ser, de viver, e seus valores culturais. Mas, por outro lado, é possível observar resistências de alguns países a estas imposições, ou uma nova elaboração destes valores culturais, dando-lhes um novo significado.
Alguns autores, como FEATHERSTONE (1997), ACHUGAR (1993) e HALL (1997), afirmam que as culturas nacionais não se tomarão homogêneas ou pasteurizadas com
o processo de globalização ou regionalização. Para HALL (idem, p.84), "parece improvável que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É mais provável que ela vá produzir simultaneamente, novas identificações 'globais' e novas identificações 'locais'."
Segundo ACHUGAR (1993, p.6), "a integração não passa exclusivamente pela homogeneização e nem pela construção de universos imaginários pasteurizados". O autor defende a idéia da construção de políticas culturais democráticas, com o intuito de formar identidades coletivas.
Observam-se ao longo da história, que os homens sempre se relacionaram. No entanto, os relacionamentos foram diversificados, pois muitas culturas foram suprimidas e outras foram "apropriadas" ou recriadas, etc. O que se observa ao longo da história é que práticas sociais e culturais de um país são apropriadas por outro e passam por reelaboração.
Segundo FEATHERSTONE (1997, p.I8),
”em certo sentido todos somos produtores culturais, uma vez que nos entregamos a práticas que não só reproduzem os repertórios culturais de que somos providos e de que necessitamos, enquanto percorremos a vida social, como também, até certo ponto, somos capazes de modificar e moldar tais práticas, enquanto elas se estendem através da cadeia ininterrupta de gerações que constituem a vida humana.”
Mas o que estariam compreendendo por integração cultural as autoridades do Mercosul?
No dia 17 de dezembro de 1996 foi aprovado pelo Conselho de Mercado Comum, em Fortaleza, o Protocolo de Integração Cultural do Mercosul. Para ALVAREZ & REYES (1997), as noções de cultura e de integração cultural presentes no Protocolo de
Integração Cultural é preservacionista e conservadoras, pois possuem um enfoque baseado, principalmente, nos bens e instituições culturais tradicionais e eruditos (a arquitetura, o livro, a música, as artes plásticas, os museus)? Resta, portanto, uma indagação: como fica a cultura popular no âmbito do Mercosul? Sendo assim, o Protocolo de Integração Cultural não contempla.
“A estruturação das relações sociais, os imaginários sociais, as redefinições das identidades locais e nacionais, os hábitos de consumo, as migrações, os preconceitos e os estereótipos; isto é: a densa trama intercultural aparentemente invisível, que imprime sua própria lógica a possíveis 'espaços de conversação' regional, e que pode por em relação a cultura com paradigmas atualmente operativos como o desenvolvimento cultural, o desenvolvimento humano e o desenvolvimento sustentável." (ALVAREZ & REYES, 1997, p.166)
Para SARA VIA (1997), o processo de integração cultural do Mercosul só poderá acontecer, de fato, se houver um incentivo a uma divulgação cultural ampla, principalmente através da educação, que possibilita o conhecimento de um país por outro nos dois sentidos. Segundo o autor, o turismo cultural, a interconexão entre as bibliotecas nacionais, a criação de um banco de dados culturais da região, os meios de comunicação e a promoção de um fundo editorial do Mercosul (SARAVIA, 1997, p.151),bem como a promoção de eventos culturais que expressam formas de vida, de valores e condutas seriam essenciais neste processo de estabelecimento de um diálogo no âmbito da cultura entre os diversos países das regiões que compõem o Mercosul.
Ao analisar os documentos elaborados pelos secretários e ministros da Cultura, percebe-se que eles se preocupam com a integração cultural nos países que formam o Mercosul. Compreendem também que o conhecimento e a apreciação das culturas dos Estados-partes assegurariam ao processo de integração bases sólidas e estáveis
No entanto, COLOMBRES (1997) já afirmara anteriormente que os ministros da Cultura e das Relações Exteriores pouco têm feito no sentido de agilizar a integração cultural no Mercosul. Constata-se nos documentos produzidos que há estratégias para avançar no processo de integração,
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