Capitalismo E Liberdade
Exames: Capitalismo E Liberdade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: cristianojag • 7/11/2014 • 1.561 Palavras (7 Páginas) • 355 Visualizações
Capitalismo e Liberdade
Milton Friedman
Introdução
Há uma frase muito citada do discurso de posse do Presidente Kennedy: "Não
pergunte o que sua pátria pode fazer por você - pergunte o que você pode fazer
por sua pátria". Constitui uma clara indicação da atitude dos tempos que correm,
que a controvérsia sobre esta frase se tenha focalizado sobre sua origem, e não
sobre seu conteúdo. Nenhuma das duas metades da declaração expressa uma relação
entre cidadãos e seu governo que seja digna dos ideais de homens livres numa
sociedade livre. A frase paternalista "o que sua pátria pode fazer por você"
implica que o governo é o protetor, e o cidadão, o tutelado - uma visão que
contraria a crença do homem livre em sua própria responsabilidade com relação a
seu próprio destino. A frase organicista "o que você pode fazer por sua pátria"
implica que o governo é o senhor ou a deidade, e o cidadão, o servo ou o
adorador. Para o homem livre, a pátria é o conjunto de indivíduos que a compõem,
e não algo acima e além deles. O indivíduo tem orgulho de sua herança comum e
mantém lealdade a uma tradição comum. Mas considera o governo como um meio, um
instrumento - nem um distribuidor de favores e doações nem um senhor ou um deus
para ser cegamente servido e idolatrado. Não reconhece qualquer objetivo
nacional senão o conjunto de objetivos a que os cidadãos servem separadamente.
Não reconhece nenhum propósito nacional a não ser o conjunto de propósitos pêlos
quais os cidadãos lutam separadamente.
O homem livre não perguntará o que sua pátria pode fazer por ele ou o que pode
ele fazer por sua pátria. Perguntará de preferência: "o que eu e meus
compatriotas podemos fazer por meio do governo" para ajudar cada um de nós a
tomar suas responsabilidades, a alcançar nossos propósitos e objetivos diversos
e, acima de tudo, a proteger nossa liberdade? E acrescentará outra pergunta a
esta: "o que devemos fazer para impedir que o governo, que criamos, se torne um
Frankenstein e venha a destruir justamente a liberdade para cuja proteção nós o
estabelecemos?" A liberdade é uma planta rara e delicada. Nossas próprias
observações indicam, e a história confirma, que a grande ameaça ã liberdade está
constituída pela concentração do poder. O governo é necessário para preservar
nossa liberdade, é um instrumento por meio do qual podemos exercer nossa
liberdade; entretanto, pelo fato de concentrar poder em mãos políticas, ele é
também uma ameaça à liberdade. Mesmo se os homens que controlam esse poder
estejam, inicialmente, repletos de boa vontade e mesmo que não venham a ser
corrompidos pelo poder, este formará e atrairá homens de tipos diferentes.
Como nos podemos beneficiar das vantagens de ter um governo e, ao mesmo tempo,
evitar a ameaça à liberdade? Dois grandes princípios apresentados em nossa
Constituição nos dão a resposta que foi capaz de preservar nossa liberdade até
agora - embora tenham sido violados, repetidamente na prática, enquanto
proclamados como preceitos.
Primeiro, o objetivo do governo deve ser limitado. Sua principal função deve ser
a de proteger nossa liberdade contra os inimigos externos e contra nossos
próprios compatriotas; preservar a lei e a ordem; reforçar os contratos
privados;
promover mercados competitivos. Além desta função principal, o governo pode,
algumas vezes, nos levar a fazer em conjunto o que seria mais difícil ou
dispendioso fazer separadamente. Entretanto, qualquer ação do governo nesse
sentido representa um perigo. Nós não devemos nem podemos evitar usar o governo
nesse sentido. Mas é preciso que exista uma boa e clara quantidade de vantagens,
antes que o façamos. E contando principalmente com a cooperação voluntária e a
empresa privada, tanto nas atividades econômicas quanto em outras, que podemos
constituir o setor privado em limite para o poder do governo e uma proteção
efetiva à nossa liberdade de palavra, de religião e de pensamento.
O segundo grande princípio reza que o poder do governo deve ser distribuído. Se
o governo deve exercer poder, é melhor que seja no condado do que no estado; e
melhor no estado do que em Washington. Se eu não gostar do que a minha
comunidade faz em termos de organização escolar ou habitacional, posso mudar
para outra e, embora muito poucos possam tomar esta iniciativa, a possibilidade
como tal já constitui um controle. Se não gostar do que faz o meu estado, posso
mudar-me para outro. Se não gostar do que Washington impõe, tenho muito poucas
alternativas neste mundo de nações
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