Pesquisa e análise de mudanças sociais em América Latina
Seminário: Pesquisa e análise de mudanças sociais em América Latina. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lukluluul • 14/9/2014 • Seminário • 1.377 Palavras (6 Páginas) • 456 Visualizações
é frequente que estudos e análises da mudança social na América
Latina convirjam em torno de problemáticas comuns a essas sociedades.
Todavia, é bem menos corrente que disso resultem ou nisso se inspirem
comparações sistemáticas sobre o conjunto dessas sociedades. Um dos
grandes temas promissores, nesse sentido, é o do papel do setor exportador.
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As já clássicas formulações cepalianas sobre a dependência elaboraram seus
estudos em relação a macroprocessos de mudança, especialmente à
industrialização. Nessa transição, fatores políticos e institucionais
constituiriam mediações críticas. Recentes abordagens, que especificam o
papel de processos de micro-organização social do setor exportador, trazem
elementos novos, os quais prometem uma melhor compreensão da transição
a uma ou outra via de desenvolvimento. Com base nos mesmos, é
inteiramente procedente tentar um novo esforço coletivo de acoplamento e
sistematização dos resultados.
A importância do tema vai muito além da interpretação retrospectiva.
Trata-se de entender melhor a interação de fatores básicos em relação a
ciclos de transformação observados na atual sociedade latino-americana.
Durante muito tempo, em particular quando a “substituição de importações”
se projetava como o único caminho de desenvolvimento na América Latina,
chegou-se a afirmar que o setor exportador ocuparia uma posição cada vez
menos importante. Seu próprio auge e consolidação colocariam bases e
impulsos para a transição à industrialização autossustentada. A isso,
terminaria por se ajustar um jogo político adequado à natureza dos
interesses incorporados à sua amplitude e dinâmica. Em vez disso, os
agentes ativos na dinâmica política de certas sociedades que alcançaram um
alto nível de desenvolvimento “para fora” — como, por exemplo, Cuba, a
1 Convém esclarecer, desde o início, que o termo “setor exportador” é utilizado aqui com
dois significados. Dependendo do contexto, ele significa ou o referente empírico da clássica
discussão sobre economias primário-exportadoras de um só produto, ou uma acepção mais
ampla, que equivaleria a “setor externo”. Em ambos os casos, convém recordar o consenso
sobre o “setor exportador” como expressão da integração das economias periféricas na
economia mundial. 2
partir das primeiras décadas do século XX, e partes da América Central,
mais recentemente — não confluíram para esse tipo de transição; em seu
lugar, desencadearam-se o impasse político, agudos conflitos e formas pré-
burocráticas de autoritarismo. Mais ainda: mesmo naqueles países onde se
completou a substituição de importações, não se colocaram as bases para
que a expansão de um jogo político democrático assegurasse o
desenvolvimento a médio e longo prazo. Foi precisamente nos países em
que o desenvolvimento “para dentro” parecia mais firme e
institucionalizado — como o Cone Sul e o Brasil, mais recentemente —
onde se tomaram mais agudas as inflexões no sentido de um novo
autoritarismo militarizado e se revitalizaram políticas neoexportadoras.
É essa inesperada presença do setor exportador em episódios críticos
da atual mudança social latino-americana o principal móvel que nos leva a
propor aqui uma nova tentativa no sentido de avaliar e aprofundar o
conhecimento dessa mudança com base na política do setor exportador: de
seus interesses e atores, padrões de mobilização e ação coletiva, clivagens,
formação de alianças e mecanismos institucionais para os quais se orientam.
A principal preocupação analítica que orienta os trabalhos aqui
apresentados consiste em vincular o conjunto de atuações políticas dos
principais grupos ligados ao setor exportador, relacionando-o, por um lado,
com o processo formador de políticas, e, por outro, com o grau de
continuidade entre os processos de organização social do setor exportador e
os da sociedade em geral, particularmente nos momentos de mudança
social. Colocado nessa dupla significação — com relação à formação de
certas políticas e estruturas de dominação (sustentando um determinado
processo de desenvolvimento nacional) e à consolidação de modalidades de
produção específicas —, a análise do comportamento político das classes
ligadas ao setor exportador precisa discernir e explicar uniformidades e
variações que se produzem entre setores exportadores e momentos
históricos. Para isso, seria necessário, precisamente, uma estratégia de
análise suficientemente
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