Os Processos Migratórios
Por: Ana Clara Carneiro • 11/9/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 1.716 Palavras (7 Páginas) • 151 Visualizações
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
BACHARELADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ANA CLARA CARNEIRO
MARINA CONTER FRANCO
RAUL GARCIA SIMÕES
VINÍCIUS RISÉRIO CUSTÓDIO
RELATÓRIO: VISITA AO MUSEU DA IMIGRAÇÃO
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2017
- INTRODUÇÃO
O Museu da Imigração do Estado de São Paulo, que encontra-se no bairro da Mooca, tem como perspectiva o entrelaçamento de memórias, uma reflexão sobre os processos migratórios no Brasil a partir da reconstituição e evocação da memória coletiva desses grupos.
Ainda sobre o museu, podemos trabalhar o conceito de Memória e Lembrança em Halbwachs, o qual diz que para além da formação da memória, as lembranças podem, a partir desta vivência em grupo, ser reconstruídas ou simuladas. Podemos criar representações do passado assentadas na percepção de outras pessoas, no que imaginamos ter acontecido ou pela internalização de representações de uma memória histórica. A lembrança, de acordo com Halbwachs, “é uma imagem engajada em outras imagens” (HALBWACHS, 2004: pp. 76-78). Ou ainda, “a lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada” (HALBWACHS, 2004: pp. 75-6).
Portanto, uma simples visita ao Museu da Imigração tem como finalidade central uma retomada das perspectivas pessoais sobre migrações com base em memórias coletivas, memória qual só existe por estarmos no presente e nos reconectando ao passado, que podemos identificar como nossos próprios processos de migrações e de nossas famílias, demonstrando, novamente, que a condição de migração é inerente à espécie humana.
2. PROPÓSITOS DO MUSEU E SEU CONCEITO DE MUSEU
O Museu da Imigração do Estado de São Paulo não é um mero exercício de colecionismo por parte do Estado ou de alguma figura ilustre, é um museu que segue uma tendência que já se consolidou para este tipo de espaço cultural, modernizante, provocativa, interativa, buscando proporcionar aos visitantes uma experiência única e não apenas um vislumbre de artigos e artefatos antigos de determinada categoria.
Seu propósito é mais que oferecer uma atração cultural acessível sobre o passado da histórica construção que é a hospedaria do Brás, mas também levar o visitante a refletir sobre o fenômeno da migração e, além das agruras da vida do migrante, seu papel tanto na sociedade que deixou para trás quanto na em que se estabeleceu.
Portanto, em termos conceituais, percebe-se que é mais que um espaço de exibição e coleção, mas sim um espaço de preservação de memória, de representatividade e principalmente, de pensamento.
3. APRESENTAÇÃO DA EXPERIÊNCIA/HISTÓRIA DA MIGRAÇÃO E DOS(AS) MIGRANTES
O Museu da Imigração do Estado de São Paulo atualmente apresenta três exposições que abordam a migração seja pela narração de processos migratórios, seja pela perspectiva do legado cultural. A principal é “Migrar: experiências, memórias e identidades”, onde se destaca a experiência de milhares de migrantes que chegaram ao Brasil desde o fim do século XIX e principalmente no início do século XX, a maioria vinda da Europa. Entretanto, a exposição não deixa de exaltar a migração interna - migrantes vindo de outros estados do Brasil para São Paulo -, que era responsável por trazer muitos dos hóspedes que passaram pelo prédio, e também aborda o tema da migração ao longo da história humana como um todo. A segunda é a exposição “Vidas refugiadas”, que expõe a história de mulheres que estão refugiadas no Brasil, buscando pôr o público em contato mais direto com experiências reais de busca por refúgio. Por fim, há a sala “Migrações à Mesa”, que destaca o legado culinário da migração para diversas famílias paulistas.
A última exposição citada terá como objeto o legado cultural da migração, além de nos aproximar de algumas histórias de famílias de imigrantes, indo de acordo com o principal objetivo do museu: humanizar a figura do imigrante.
Cabe aqui destacar a exposição “Vidas Refugiadas”, muito bem curada para cumprir a função de ajudar o visitante a compreender a situação de pessoas sob status de refugiado(a). A exposição primeiramente relata o contexto político e social dentro do país de cada mulher refugiada representada. Em seguida, surpreende com fotos do dia-a-dia de cada uma delas já no Brasil; logo ao lado, deixa suas histórias expostas junto dos retratos que inspiraram as ilustrações de seus rostos; por fim, nos permite presenciar seus relatos através de vídeos. A exposição faz um trabalho excepcional em permitir que o visitante se projete no lugar das mulheres refugiadas, nos aproximando da história de cada uma delas individualmente. Ela nos coloca frente a frente com figuras humanas, nos afastando dos relatos distantes - baseados em números - com os quais costumamos ter contato pela grande mídia.
A respeito da exposição “Migrar: Experiências, Memórias e Identidades”, primeiramente devemos destacar o módulo que trata da diáspora humana, que destaca como a migração tem feito parte da história da humanidade desde o início. De maneira clara, com auxílio da tecnologia para tornar o conteúdo mais acessível, este módulo exporá o modo como a humanidade ocupou cada um dos continentes a partir da origem na África, até se estabelecer por todo o globo. Cremos que esta seja uma das salas mais importantes para o propósito do museu, por destacar a migração como característica própria da humanidade, e criar um sentimento de pertencimento de todos nós ao contexto da migração.
Também merecem destaque outras salas da exposição: a instalação com tijolos, que os nomeia em diversos idiomas, destacando a importância dos imigrantes para a construção e crescimento da cidade de São Paulo; a sala que narra a história do Brasil a partir da perspectiva do “mito das três raças”, exaltando o papel da cultura indígena nativa, dos colonizadores portugueses, e da migração forçada africana para a constituição de nossa identidade nacional; as reproduções do refeitório e dormitório da antiga hospedaria, que visam ambientar o visitante no contexto vivido pelos migrantes no início do século; e o módulo que destaca a migração interna (de outros estados do Brasil) para São Paulo. Todas estas instalações têm em comum o objetivo de fazer o visitante compreender o papel do migrante para a constituição tanto do estado como do país, bem como criar empatia e até mesmo admiração pela experiência vivida pelo migrante. Por fim, cabe destacar a sala que exalta São Paulo enquanto uma cidade “cosmopolita”, em que convivem imigrantes das mais diferentes partes do mundo.
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