RESENHA: “Cultura um conceito antropológico” Roque de Barros Laraia
Por: dudadejavu • 28/4/2022 • Resenha • 1.377 Palavras (6 Páginas) • 1.282 Visualizações
Disciplina: Introdução ao Estudo da Antropologia
RESENHA: “Cultura um conceito antropológico”
Roque de Barros Laraia
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 21. Ed. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2007. 117p
Na obra “Cultura: um conceito antropológico”, Roque de Barros Laraia pretende introduzir o leitor ao conceito antropológico de cultura, destinado principalmente a um público que se inicia no tema. O livro é dividido em duas partes: a primeira “Da natureza da cultura ou da natureza à cultura”, dividido em seis capítulos, se refere ao desenvolvimento do conceito de cultura a partir das manifestações iluministas até os autores modernos. A segunda parte “Como opera a cultura”, dividido em cinco capítulos, procura demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e diversifica a humanidade.
No primeiro capítulo, “O determinismo biológico”, Laraia apresenta teorias velhas e pertinentes que atribuem capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Atualmente, os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado de endoculturação, um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada
O segundo capítulo, “O determinismo geográfico”, expõe os conceitos de Boas Wissler e Kroeber, os quais demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais, e que é possível e comum existir uma grade diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. Laraia apresenta três exemplos que mostram porque não é possível admitir a ideia da “ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade puramente receptiva”, os lapões e os esquimós, a variação cultural observada entre os índios do sudoeste norte-americano, os xinguanos e os Kayabis em relação ao consumo de proteínas. “As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente.” (LARAIA, pg. 24)
O terceiro capítulo “Antecedentes históricos do conceito de cultura” disserta sobre a origem da ideia de cultura que temos hoje, Laraia cita os termos germânico “Kultur” e do francês “Civilization”, ambos sintetizados por Edward Tylor no vocábulo inglês “Culture”, que amplamente inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
O autor apresenta definição de cultura para John Locke em “Ensaio acerca do entendimento humano” (1690), que serve de referência ao antropólogo americano Marvin Harris, qual expressa as implicações da obra de Locke para a época: “Nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento” (Marvin Harris, 1969). Também são citadas as definições de cultura de Jacques Turgot em “Plano para dois discursos sobre história universal” (1740); Rousseau em seu “Discurso sobre a origem e o estabelecimento da desigualdade entre os homens” (1775), seguiu os passos de Locke e Turgot ao atribuir um grande papel à educação.
Ainda no terceiro capítulo, Laraia volta a citar Tylor e Kroebr que definem cultura como todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, e afirmam, assim, que o homem é o único ser possuidor de cultura.
No capítulo mais extenso do livro, “O desenvolvimento do conceito de cultura”, o autor se repete ao citar Tylor para demonstrar que a cultura “pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução”
O livro de Tylor foi escrito durante o impacto da “Origem das espécies” de Charles Darwin, assim, contendo a perspectiva do evolucionismo unilinear, que inspirou muitos estudiosos na década de 60 do século XIX. Nesses estudos eram apresentadas as ideias de “relativismo cultural”, explicitamente associadas às de “evolução multilinear”.
Laraia também aborda novamente a contribuição do antropólogo americano Kroeber, para o conceito de cultura. O ponto principal do capítulo é mostrar que tudo que o homem faz, foi aprendido com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura; mostrar que a cultura é um processo acumulativo; e que a comunicação é um processo cultural.
“Ideia sobre a origem da cultura” refere-se a uma das primeiras preocupações dos estudiosos com relação à cultura. O capítulo apresenta a concepção de que “o conhecimento científico atual está convencido de que o salto da natureza para a cultura foi contínuo e incrivelmente lento” (p. 56). O livro traz as concepções de diversos autores, Richard Leackey, Roger Lewin, David Pilbeam, Kenneth P. Oakley, Claude Lévi-Strauss considera que a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra (p.54), Leslie White considera que a passagem do estado animal para o humano ocorreu quando o cérebro do homem foi capaz de gerar símbolos (p. 55)
No último capítulo da primeira parte do livro, “Teorias modernas sobre cultura”, Laraia apresenta a reconstrução do conceito de cultura pela antropologia moderna. Roger Keesing classifica as tentativas modernas de obter uma precisão conceitual em seu artigo “Theories of Culture” (p.59). Kessing refere-se a cultura, inicialmente, como sistema adaptativo. Em seguida, Kessing refere-se as teorias idealistas de cultura, subdividindo-as em três diferentes abordagens: cultura como sistema cognitivo, cultura como sistemas estruturais e cultura como sistemas simbólicos.
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