Resumo analítico do livro: “CULTURA: Um conceito antropológico”. Roque de Barros Laraia.
Por: Giovana Ioriatti • 15/11/2016 • Resenha • 4.816 Palavras (20 Páginas) • 2.027 Visualizações
Resumo analítico do livro:
“CULTURA: Um conceito antropológico”.
Roque de Barros Laraia.
Apresentação
Na apresentação do livro o autor aponta a importância de seu trabalho para a inserção do leitor à concepção antropológica de cultura. Relata a divisão e formatação deste estudo em duas partes: a primeira trata do “desenvolvimento do conceito de cultura” e a segundo tem a intenção de revelar como a cultura intervém na conduta social e diversifica o comportamento humano.
Primeira parte
A primeira parte do livro discorre sobre o estudo, a análise e as características da diversidade cultural existente, iniciada já na antiguidade e fundamentada pelo autor, em escritos de “Heródoto, Marco Polo, José de Anchieta, Montaigne, entre outros”.
Entende-se que o autor, assim, aponta que as diversas culturas nascem nas várias formas de organização social humana e que seus hábitos e costumes, adquiridos dentro do convívio social, determinam o comportamento social humano dentro destas sociedades, caracterizando, desta maneira, o modo de viver de um povo.
As citações utilizadas pelo autor, em seu texto, nos permitem perceber, a “estranheza” com relação aos hábitos e costumes apresentados, denotando um etnocentrismo por parte de seus autores. O mesmo ainda nos faz entender que o determinismo geográfico, concepção na qual se acredita que o meio ambiente define, interfere ou influência o comportamento ou hábitos humanos, e, o determinismo biológico, a herança genética, não são suficientes para determinar a relação existente entre o desenvolvimento humano e a variedade de hábitos, costumes, ou seja, as diversas culturas existentes.
Nesta primeira parte, no primeiro capítulo, o autor aborda o determinismo biológico e declara que a antropologia está segura de que os fatores genéticos não ocasionam a diversidade cultural.
Com relação ao determinismo biológico pode-se verificar que este foi considerado como fator que atribuía “capacidades específicas e inatas” a determinados grupos humanos e que, esta tese ainda existe no imaginário humano, pois acredita-se ainda que alguns grupos são mais inteligentes, mais desenvolvidos intelectualmente, entre outros, como podemos citar os japoneses que julga-se serem mais inteligentes que outros grupos devido a seu desenvolvimento alto tecnológico.
Á partir de estudos consegue-se verificar que estas considerações são incoerentes, pois não foi possível comprovar tal teoria. O que o autor assinala, e, com base nas análises das atividades de diferentes culturas, o indivíduo constitui-se de acordo com os costumes, hábitos e valores de cada sociedade, mostrando que estes são determinados culturalmente e não biologicamente.
O autor usa como exemplo a divisão sexual do trabalho nas diversas culturas existentes. Em determinada cultura o trabalho predominantemente masculino (em outras culturas) é delegado a mulheres e a atividade que deveria ser realizada pela classe feminina (também de acordo com a cultura) é atribuída ao homem, constatando-se que, nestas sociedades, a condição sexual, masculina ou feminina, não foi elemento impossibilitador da ação, nos fazendo entender que as variadas maneiras de agir do ser humano não ocorrem em função da herança genética, ou seja, do seu determinismo biológico.
Não nascemos predispostos a executarmos ações e a possuirmos hábitos e costumes preestabelecidos biologicamente, mas nossas ações são o resultado do que aprendemos em sociedade, mais precisamente da sociedade em que estamos inseridos.
O segundo capítulo ocupa-se do determinismo geográfico, argumentando que este se fundamenta na consideração de que o ambiente condiciona a ação/atividade social determinando a cultura vigente e modelando o comportamento do indivíduo. De acordo com o autor tal tese também foi contestada, pois observando o comportamento de indivíduos de uma mesma região geográfica se percebeu que seus hábitos, costumes e valores divergem e que o homem muda seus hábitos conforme o local geográfico que reside, adaptando-se a ele.
O autor utiliza-se de exemplos de comportamentos e ações humanas diferentes em um mesmo espaço e condições geográficas, quando, frente à teoria do determinismo geográfico, esperava-se que fossem as mesmas, demonstrando assim, que não é possível admitir uma “ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade puramente receptiva” (LARAIA, p. 24, 2001).
Finaliza este capítulo esclarecendo que para a antropologia, os vários modos de agir humano não podem ser elucidados pelo determinismo geográfico sequer pelo determinismo biológico, pois ambos impõem limitações ao estudo das diversas culturas existentes.
No terceiro capítulo é apresentado o conceito histórico de cultura. O termo cultura foi sintetizado por “Eduard Taylor” (1832-1917) dos termos “Kultur, utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade e Civilization, francesa que se referia as realizações materiais de um povo” (LARAIA, p. 25, 2001).
Delimitado por Taylor, nasce o conceito de cultura que temos que se fundamenta na ação humana, em seus hábitos, costumes, crenças, ações e construções sociais, ou seja, nas realizações humanas.
Na realidade o que Taylor fez foi dar formas a uma ideia que já nascia na sociedade, pois segundo Locke (1632-1704) já se entendia que o ser humano nascia “com a mente vazia” e que possuía a capacidade de aprender por meio dos processos culturais no qual o indivíduo se encontra inserido, ou seja, de aprender e adquirir, de acordo com os costumes, hábitos, crenças, conhecimentos e comportamentos sociais específicos. Locke também contrariava a ideia de que o ser humano nasce com habilidades inatas que seriam adquiridas hereditariamente, pois entendia e percebia as práticas humanas diferentes umas das outras.
Neste capítulo ainda o autor cita Marvin Harris (1969) que, de encontro ao que nos apresenta Locke, afirma que nenhum sistema social fundamenta-se em “verdades inatas” todas as transformações no meio social acarretam uma mudança no modo de agir humano.
Podemos apreender, na leitura deste capítulo, que apesar da definição antropológica de cultura apresentada por Taylor ser entendida como sendo a mais coerente diante do contexto de cultura, a mesma serviu mais para confundir que pra elucidar o conceito, pois diante da complexidade do mesmo e de sua amplitude, somente um estreitamento do tema poderia direcioná-lo novamente a um entendimento antropológico.
Diante disso, em 1871,Taylor definiu
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