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Resenha "Cultura - Um conceito antropológico"

Por:   •  11/11/2019  •  Resenha  •  1.916 Palavras (8 Páginas)  •  281 Visualizações

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PRIMEIRA PARTE

Entre as teorias mais persistentes para explicar as diferenças entre as sociedades e que tentam impor uma hierarquia intersocial está a teoria do Determinismo Biológico que defende que pessoas de certas sociedades são biologicamente mais evoluídas do que outras. Entretanto o autor une uma série de informações e pesquisas que questionam e mostram as falhas dessa teoria. Por fim, ele conclui que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais, mas sim a história cultural que diferencia os grupos/culturas.

Para fortalecer essa conclusão é expostos os resultados de uma pesquisa que revelam que o nível de aptidões mentais é quase o mesmo em todos os grupos étnicos. Isso necessariamente refuta a teoria do determinismo biológico.

Além dessa, outra questão refutada é que são as diferenças biológicas que determinam a divisão do trabalho entre os sexos, o que determina é a cultura. Pois até as funções que necessitam das diferenças, como a amamentação, já podem ser executadas por ambos os sexos, seja pelo próprio aparelho natural, o seio, ou por um artificial, a mamadeira. Por fim, é conceitualizado o termo “endoculturação” que significa que o comportamento de cada indivíduo depende do seu aprendizado, da cultura em que está inserido.

Outra dessas teorias persistentes é o Determinismo Geográfico, o qual explica as diferenças entre as culturas baseando-se na teoria de que o fator determinante para isso são as condições geográficas em que as sociedades se encontram. Apesar de muitos geógrafos defenderem essa teoria, após 1920, antropólogos a refutaram estabelecendo, através de pesquisas, que o fator geográfico tem um limite de influência na sociedade. Além disso também demonstraram a possibilidade de haver uma grande diversidade cultural em um mesmo tipo de ambiente físico.

Por esses motivos, a antropologia moderna considera que a cultura tem sua própria seleção sobre seu meio ambiente,  "explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura". Isso unido ao fato de o ser humano ter a característica única de romper com as suas próprias limitações refuta totalmente o Determinismo Geográfico. Isso porque se difere dos outros animais por deter uma característica própria: a cultura.

Mas afinal, o que é cultura? Bom, houve muito trabalho antes de se chegar ao conceito que temos hoje. A primeira definição que se aproximou foi a de Edward Tylor, que definiu a palavra inglesa Culture como "tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Assim, ele uniu em uma palavra as possibilidades de realização humana, o caráter de aprendizado da cultura, típico do humano. Apesar de muito importante, essa definição apenas formalizou uma ideia que já estava em formação há muito tempo.

Nesse processo de amadurecimento do pensamento sobre cultura muitos pensadores escreveram fragmentos que juntos se complementam. Locke, por exemplo, explica a mente humana como uma caixa vazia, quando nascemos, com capacidade ilimitada de armazenar conhecimento, ou seja, o que chamamos de endoculturação. Além disso ele tambem afirma que “nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”.

O estudo desse tema é muito vangloriado entre os antropólogos. Kroeber afirma que foi  "a maior realização da Antropologia na primeira metade do século XX foi a ampliação e a clarificação do conceito de cultura". Já Geertz diz que esse tema é o mais importante, pois “diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente", entender Cultura como uma ciência.

Entende-se que o homem se diferencia dos outros animais por duas características próprias: comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos. Ou seja, possuidor de cultura.

Ainda procurando desenvolver o conceito de cultura e sob o entendimento de cultura como ciência, Edward Tylor tenta demonstrar que a cultura pode ser o objeto de um estudo sistemático, uma vez que trata-se de um fenômeno natural com causas e padrão. Isso possibilita um estudo objetivo e uma análise para a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução.

O autor desenvolve sobre o conceito de livre-arbítrio. A visão popular desse conceito tem a ver com a liberdade de agir de acordo com motivações e também sem causa, podendo quebrar a continuidade. como fruto da discussão se expõe a afirmativa de que causas naturais e definidas determinam as decisões de ação humanas.

Dentro da evolução do conceito de cultura, durante muito tempo a função da antropologia foi estabelecer uma escala de civilização, uma hierarquia de superioridade para as nações europeias. Isso porque em um longo percurso da evolução científica a ciência e o etnocentrismo andaram lado a lado. por esse motivo Tylor, antropólogo dessa época, foi muito criticado  "deixar de lado toda a questão do relativismo cultural e tornar impossível o moderno conceito da cultura", como disse Stocking.

Franz Boas foi o primeiro a criticar o evolucionismo, além disso ele elencou duas tarefas à antropologia:

a) a reconstrução da história de povos ou regiões particulares;

b) a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

Ele também mudou a metodologia do estudo da antropologia, colocando em foco a comparação da história de culturas e da compreensão da influência das condições psicológicas e dos meios ambientes.

Além disso, Franz desenvolveu o particularismo histórico (Escola Cultural Americana), linha de pensamento que defende que se faça uma abordagem multilinear no estudo das culturas.

O ser humano, ao contrário dos outros animais não sofre adaptações biológicas para se adequar ao ambiente, pelo contrário, ele adapta o ambiente ou cria adaptações sintéticas tais como o avião para voar e o submarino para explorar os oceanos.

Enquanto para os outros animais a evolução exige perder uma característica para receber uma nova, para o ser humano é claramente acumulativo, se conserva o antigo apesar da aquisição do novo. Entretanto, houve uma exceção, ao adquirir a cultura, o humano perdeu a propriedade animal de repetir a mesma coisa que seus antepassados, agora o ser precisa ser ensinado.

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