Sobre o Acordo Núclear do Irã
Por: Hilanú Neris • 30/10/2019 • Resenha • 1.222 Palavras (5 Páginas) • 234 Visualizações
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS II
DOCENTE: PAULO ROBERTO FERREIRA
DISCENTES: EDUARDA MADALOZZO, HILANÚ DE PAULA NERIS
Sobre o Acordo Nuclear do Irã e conflitos no Estreito de Ormuz
Estreito de Ormuz é uma das rotas marítimas mais importantes e estratégicas do mundo, sua parte mais estreita possui apenas 54 quilômetros de largura e está localizada na entrada do Golfo Pérsico, entre Omã e o Irã. O estreito é o caminho do petróleo produzido no Oriente Médio até os grandes mercados no mundo.
Cerca de 40% de todo o petróleo exportado no mundo e 20% do transporte marítimo mundial passa por esse corredor. São quase 19 milhões de barris de petróleo por dia. Daí que vem a importância estratégica dessa rota.
Em 2018 os Estados Unidos abandonaram o acordo nuclear com o Irã, este, que foi negociado durante o governo de Barack Obama, antecessor de Trump, o acordo também teve a participação da Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia. Os EUA foram o líder das negociações.
Entre outros pontos, por meio do acordo o Irã se comprometeu a reduzir seu estoque de urânio (elemento químico utilizado em usinas nucleares e em bombas atômicas), as taxas de enriquecimento de urânio, e o número de reatores nucleares em uso. Em troca, foram retiradas sanções econômicas. A primeira leva de sanções internacionais ao Irã foi suspensa em janeiro de 2016, quando a agência internacional assegurou, após inspeções no território iraniano, que o país estava seguindo os termos do acordo.
A partir da desistência do acordo pelo Presidente Donald Trump, as relações entre esses dois países ficaram mais preocupantes. Em novembro, Trump baixou novas sanções contra o Irã e, em abril, ameaçou os países que comprarem petróleo iraniano com outras sanções. E nessa atual queda de braço, de um lado estão vários países árabes aliados dos americanos, do outro, o Irã.
O petróleo corresponde a 2/3 das exportações iranianas, ou seja, 66 bilhões de dólares em 2017. E como o Irã não almeja uma proibição das vendas de seu petróleo, ele está ameaçando bloquear a passagem de petróleo pelo Estreito de Ormuz, por meio de minas marítimas, submarinos, mísseis e navios de ataques, caso os Estados Unidos tentem parar suas exportações.
Hoje em dia essa ação poderia resultar em um aumento nos preços do petróleo no mercado internacional, automaticamente, qualquer derivado do petróleo ficaria mais caro. Além disso, o fechamento do estreito poderia ser considerado um ato de guerra pela comunidade internacional.
A pressão coloca em cima do Irã pelos EUA, causou grande tensão em boa parte do Golfo Pérsico. A derrubada de um drone americano pela Guarda Revolucionária Iraniana levou o presidente dos EUA, Donald Trump, a ordenar um bombardeio que só foi cancelado no último minuto. Em meio a isso, vários acidentes, desde sabotagem de navios até captura de petroleiros, colocaram em risco a segurança do transporte marítimo e encareceram os seguros.
Se formos ponderar com olhar crítico, conseguimos perceber que ambos os países possuem diferentes interesses sobre um mesmo objeto. Isso reflete a ideia de que as diferentes unidades buscam seus propósitos e, através disto, entram em conflito sem avaliar consequências em busca de maximizar e manter o seu poder. Segundo Kenneth Waltz, dentro do sistema, a guerra é um resultado à ação dos Estados advindo da resultante política, no que lhe concerne em um dilema que não pode ser explicado pela vontade ou interesse das partes.
Fica claro diante desse pensamento o porquê uma solução por meio da cooperação é uma tarefa difícil, devido as unidades estarem em busca dos seus objetivos, nenhuma delas vai desistir (resultante sistêmica). Se um país possui potencial para obter armas nucleares, não seriam acordos e sanções que os impediria, tendo em vista que se obtivesse as armas, conseguiria maximizar seu poder em relação a todo o sistema internacional.
Se isso vier a ocorrer, haverá um equilíbrio de poder, onde os Estados, buscando todos alcançar o mesmo objetivo, acarretariam um balanceamento de poder, maximizando-o. Isso decorreria, não por vontade dos mesmos, mas sim, porque o sistema os impõe a fazê-lo. Waltz defendia a ideia de que quanto maior fosse o número de Estados com armas nucleares, maior seria o equilíbrio e a paz global, pois os custos de uma guerra nuclear seriam tão altos que os Estados optariam por outros meios de resolução dos seus conflitos. Assim confirmamos que a “Paz não escrita”, aquela que não é resultante de acordos e sim dos confrontos de interesse é mais forte, pois não derivou da vontade dos Estados.
Entretanto, se formos analisar através da teoria de Keohane, diferentemente de Waltz onde a interdependência é moeda de troca, para Keohane, ela gera mais conflitos. O que se assemelha é a relação de que o conflito também é uma resultante sistêmica, um choque de interesses e não de intenção dos atores. Vemos que quando Irã ameaça realizar um bloqueio, isso reflete em âmbito mundial, EUA tenta “resolver” o conflito através da imposição de poder. Nesse contexto, para que exista a real cooperação é necessário um esforço maior do que os riscos do conflito, considerando a escala do problema em que Irã e EUA estão, quanto maior o conflito, maior será o esforço para que uma cooperação exista. A cooperação acontece quando os atores ajustam os seus comportamentos as reais ou previstas preferências dos outros, através do processo de coordenação de políticas. Mas, a cooperação sempre estará a sombra de um novo conflito.
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