Trabalho Final de Política Externa Brasileira para América Latina
Por: Marcelo Fabri • 19/8/2016 • Ensaio • 2.004 Palavras (9 Páginas) • 519 Visualizações
Trabalho Final de Política Externa Brasileira para América Latina
De acordo com a notícia em formato de entrevista realizado pela BBC Brasil, o cientista político argentino Marcelo Cavarozzi possui uma visão pessimista das lideranças na região da América Latina. Esta visão é determinada segundo uma análise das lideranças chamadas de “esquerda”, como Evo Morales na Bolívia, Lula e Dilma no Brasil e Cristina Kirchner na Argentina. Existem, segundo Cavarozzi, lideranças fracas, incapazes de realizar mudanças eficazes as quais as populações latino-americanas aspiram nas últimas décadas. Justamente por uma falta de mudança no “sistema” durante períodos de governos “progressistas” que as populações possuem uma descrença cada vez maior na política e nos políticos. Dessa maneira, como entender o cenário atual da América Latina?
Tomando como início o texto de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em uma coluna escrita para o jornal O Estado de São Paulo, o mesmo analisa um suposto ressurgimento dos regimes de esquerda na América Latina. Ele ressalta a ideia de Kenneth Maxwell argumentando que a região latino-americana é “mosaico de perguntas e respostas específicas a estruturas políticas decadentes e aos cada vez mais altos níveis de desigualdade social e exclusão social”. Isso tudo resultaria numa crise de governabilidade. Dessa maneira, é necessário a pesquisa sobe as transformações sociais, políticas e econômicas de cada país para compreender o que está ocorrendo em cada cenário político nacional, além de argumentar que existe um populismo travestido de pautas anti-americanistas.
Já no livro “História do Cone Sul”, texto de Carlos Eduardo Vidigal, segundo o autor, a partir dos anos 2000, países sul-americanos adotaram certa autonomia em suas políticas exteriores, diferentemente das políticas neoliberais da década anterior, respondendo a necessidades nacionais. Dessa maneira, identifica-se três projetos distintos de integração no início do século XXI na região: o projeto socialista venezuelano, a projeto comercialista argentino e o projeto globalista brasileiro. Fica claro que cada um dos projetos terminou por declinar rapidamente em suas propostas, evidenciando como os ciclos políticos estão cada vez mais rápidos e incapazes de gerar continuidade ou sucessores. O mais crítico acaba sendo a vulnerabilidade que as instituições na região possuem dentro deste contexto.
Como debatido ao longo do semestre podemos dizer que há uma crise na relação de representatividade da sociedade civil latino-americana neste início de século XXI, na medida em que a sociedade civil se modifica muito rapidamente, ao passo que as instituições e a representação da sociedade nelas não conseguem acompanhar esse desenvolvimento no mesmo compasso. É dizer, a sociedade se modifica, se altera, tem novos anseios, novas características que pouco são absorvidas pelos seus representantes nas instituições, tais como o parlamento. Isso faz com que constantemente impere um sentimento de descontentamento político da população para com seus representantes. Isso fica claro nos protestos brasileiros, na crise argentina e até mesmo na Venezuela, onde a população clama por uma mudança presidencial.
Isso reflete a falta de dinamismo dos representantes que muitas vezes se inserem no jogo político eivado de vícios que levam a determinadas ações, como a corrupção e o aparelhamento estatal, enquanto a sociedade, cada vez mais politizada e com acesso à informação, acompanha de perto e não tolera mais esse tipo de comportamento das classes ditas representantes.
Fica, portanto, as indagações finais: para onde vai a América Latina? E qual projeto político e econômico o continente se encaminhará através do século XXI?
Referências:
CERVO, Amado Luiz. Relações internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas. São Paulo: Saraiva, 2007.
FHC. Esquerda e Populismo na América Latina. O Estado de S.Paulo – coluna Espaço Aberto. Junho 2006.
ANGELL, Alan. Regímenes dictatoriales desde 1930. In: PALACIOS, Marco; WEINBERG, Gregorio (dir.). História General de América Latina. Vol. VIII. Paris: UNESCO, 2008.
CERVO, Amado Luiz; RAPOPORT, Mario (orgs.). História do Cone Sul. Rio de Janeiro: Revan, 2015. pp. 317 - 375.
Notícia Escolhida:
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36544950
América Latina deve ter 'lideranças mais fracas e ciclos políticos mais curtos', diz analista argentino
Marcia Carmo De Buenos Aires para a BBC Brasil | 19 junho 2016
Os escândalos de corrupção envolvendo políticos de esquerda e a percepção da população de que o Estado não melhora o cotidiano de suas vidas estão contribuindo para desprestigiar ainda mais a política em toda a América Latina, na visão do cientista político argentino Marcelo Cavarozzi, diretor do mestrado em Políticas Públicas e Governo da Universidade San Martin (UNSAM), de Buenos Aires.
Esse "desencanto" com a política - refletido pela crise no Brasil e pelas eleições presidenciais de Argentina e Peru - pode indicar o surgimento de uma nova etapa na América Latina, com "lideranças mais fracas", sem as figuras populares do início deste século, e "ciclos políticos mais rápidos", opina Cavarozzi, doutorado pela Universidade de Berkeley (EUA), em entrevista à BBC Brasil.
Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - As ultimas eleições presidenciais de Brasil, Argentina e Peru foram bem disputadas. No Peru, a diferença foi ainda mais dramática (Pedro Pablo Kuczynski venceu por menos de 1%). O que está acontecendo?
Marcelo Cavarozzi - Acho que existem pontos em comum no caso de Brasil e Argentina. Mas o Peru é diferente: nesta eleição, como na anterior, as forças políticas queriam impedir que (a candidata) Keiko Fujimori chegasse à Presidência. Muitos votaram em Pedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK) para que Keiko não ganhasse - e ele, como seus antecessores ao longo da história peruana, será um presidente fraco, sem capacidade de mudar nada.
BBC Brasil - Por quê? Pelo resultado eleitoral?
Cavarozzi - Ele foi eleito sem apoio de força partidária, com um Congresso opositor (a maioria do Parlamento é ligada a Keiko), e curiosamente, apesar de ser um liberal apoiado pelo eleitorado de direita, recebeu apoio da esquerda. O Peru tem uma história diferente do Brasil e da Argentina, que têm trajetórias de Estados mais consolidados.
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