A importância da Hélice Tríplice para o desenvolvimento

A Hélice Tríplice na indústria militar, os benefícios e limitações para governo, empresas e universidades e sua importância no desenvolvimento do Brasil

Cap Saulo Freire Landgraf^[1]

Resumo

O desenvolvimento do Brasil sempre foi tema norteador da discussão de diversos intelectuais brasileiros. Há muito busca-se um modelo que congregue os diversos atores da sociedade brasileira em uma relação sinérgica. A área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é sensível a esta discussão e desperta o interesse de profissionais da defesa, empresários e universidades. Este artigo discute o Modelo da Hélice Tríplice do desenvolvimento na indústria militar, bem como seus benefícios e desafios, particularmente as limitações de seus principais atores.

1. INTRODUÇÃO

A Hélice Tríplice para a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) gera importantes benefícios para governos, empresas e universidades, mas ainda possui significativos óbices para concretizar seus intentos no desenvolvimento do Brasil e, em particular, na indústria militar.

O Brasil é um país de dimensões continentais que possui cerca de 208 milhões de habitantes e está localizado na América do Sul. Pelo fato de estar majoritariamente no hemisfério sul, o Brasil enfrenta obstáculos para o seu desenvolvimento uma vez que está longe dos centros hegemônicos do poder global.

O Governo Brasileiro não tem atualmente capacidade para enfrentar eficientemente os desafios que as demandas em CT&I impõem em quaisquer níveis, federal, estadual ou municipal. Isto decorre, em parte, às mudanças advindas pela gestão da sociedade na era do conhecimento em detrimento do paradigma de gestão da sociedade industrial.

Inicialmente alguns modelos de desenvolvimento em CT&I foram tentados como, por exemplo, o que continha apenas dois atores: o Estado e a Iniciativa Privada (empresas). Porém isto não foi suficiente para superar os problemas existentes, mormente devido a pouca robustez mostrada pelas empresas, principalmente nos casos de tratamento da Inovação, mesmo com os incentivos aportados pelo Governo.

Tendo sido observada a necessidade de aperfeiçoar o modelo existente, a Universidade foi o elemento que amalgamou essa união entre Estado e Iniciativa Privada, colhendo frutos dessa relação. A este novo modelo chamou-se Hélice Tríplice, ou de Três Pás, desenvolvido por Etzkowitz^[2] e Leydesdorff^[3]. Por esse modelo, propõe-se que mudanças executadas em uma pá afetam as demais, tornando-as um sistema sinérgico e único.

A seguir será analisada a importância do modelo da Hélice Tríplice e os benefícios e limitações para o Governo, Empresas e Universidades, destacando-a na indústria militar e concluindo sobre a importância no desenvolvimento do Brasil.

2. DESENVOLVIMENTO

a. Benefícios do modelo da Hélice Tríplice

O modelo da Hélice Tríplice para o desenvolvimento da CT&I reúne condições de gerar benefícios à sociedade como um todo. Particularmente nas forças armadas esse modelo traz benefícios para os três protagonistas dessa relação. Destaca-se, neste bojo, o caso do desenvolvimento da energia nuclear, a demanda de combustível para os submarinos nucleares da Marinha do Brasil fez com que se fomentasse pesquisas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares na Universidade de São Paulo. As demandas na área nuclear hoje movimentam a Indústrias Nucleares do Brasil – SA (INB). Proporcionando, um exemplo claro dos benefícios da interação dessas três esferas.

Além disso, com o modelo da Hélice Tríplice o Governo cria planos políticos com recursos e metas governamentais claras e coerentes voltadas para o conhecimento. Evitando os prejuízos provenientes das oscilações políticas brasileiras, esse modelo dá um direcionamento mais claro para as verbas governamentais. Dessa forma promove o desenvolvimento econômico e social através de estruturas orgânicas e tecnológicas renovadas.

Para as empresas o desenvolvimento de produtos inovadores movimenta a indústria. Com o surgimento da demanda, as empresas passam a liderar os processos e as necessidades de mudança. Um exemplo claro dessa interação podemos observar no caso do desenvolvimento dos Lançadores Múltiplos de Foguetes (LMF) pela AVIBRÁS, hoje mote de exportação dessa empresa brasileira.

As empresas ainda fazem a interface para a interação com Centros de Transferência de Tecnologia da comunidade científica. Ao observar a demanda governamental em defesa, as indústrias buscam o Know How na comunidade científica internacional a fim de atender os Requisitos Operacionais Básicos (ROB) da força requerente. Os contatos realizados com a comunidade internacional abrem a possibilidade da transferência de tecnologia. Destaca-se que o exército desenvolveu no início do século atual, juntamente com a italiana IVECO, diversas viaturas operacionais para uso em defesa e com transferência total de tecnologia, demonstrando a importância dessa interação.

As Universidades auferem múltiplos benefícios desse modelo de desenvolvimento de CT&I. Entre as demandas geradas pelo governo e a criação das Empresas/Indústrias estão os centros de pesquisa e desenvolvimento de CT&I. Algumas empresas dispõem de centros próprios de tecnologia e inovação, e podem se abster de lançar mão das Universidades, porém a universidade é, por definição, um centro de excelência em pesquisa. Quando associada ao processo da Hélice Tríplice, a universidade estabelece vínculos e relações com as Empresas e o Governo.

As universidades ainda buscam obter fontes de novos conhecimentos e tecnologias. Buscando, assim, novos cominhos para solução dos problemas existentes. Destaca-se, nesse escopo, a produção do avião Embraer KC-390 que é uma aeronave para transporte tático/logístico e reabastecimento em voo desenvolvido e fabricado pela Embraer Defesa e Segurança, subsidiária do grupo brasileiro Embraer. A Embraer fomenta nas Universidades cursos de Especialização em Engenharia aeronáutica, visando atender aos seus quadros de engenheiros. Dessa forma, por conta da demanda da aeronáutica, surgiram novas áreas de atuação do ensino.

Conclui-se, que os benefícios do modelo da Hélice tríplice do desenvolvimento na CT&I, são os seguintes:

• Desenvolvimento de Produtos e Serviços Inovadores;
• Interação com Centros de Transferência de Tecnologia da comunidade científica internacional.
• Estabelecimento de vínculos e relações com as Empresas, o Governo e Universidades;
• Geração de novas áreas e métodos de atuação no ensino;
• Promoção do desenvolvimento econômico e social através de estruturas orgânicas e tecnológicas renovadas.
• Obtenção de fontes de novos conhecimentos e tecnologias;

b. Limitações do modelo da Hélice Tríplice

Alguns entraves para a eficiente implementação do modelo da Hélice Tríplice podem minar o desenvolvimento e a sinergia da relação entre os três entes envolvidos.

Por parte do governo a máquina governamental brasileira deve enfrentar a sua burocratização excessiva. Pouco adepta aos projetos de parceria, o seu peso e pouca flexibilidade pode tornar o governo um parceiro pouco pró-ativo. Nesse sentido, uma assessoria profissional próxima aos órgãos políticos é imprescindível.