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Análise de conjuntura em relações internacionais

Por:   •  12/11/2018  •  Resenha  •  1.812 Palavras (8 Páginas)  •  166 Visualizações

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Capítulo 1. Análise de conjuntura em relações internacionais: Ayerbe

Primavera Árabe

Tudo começou na Tunísia, quando um jovem teve sua banca de frutas e legumes confiscada pela polícia e ateou fogo em seu próprio corpo em protesto as condições de vida que era submetido. É claro que a revolta no país não foi ocorrida somente por isso, uma vez que esse evento foi somente a gota d’água, pois a população estava profundamente insatisfeita com os rumos políticos-sociais do país e clamava por democracia, exigindo o fim da ditadura de Ben Ali, que se encontrava no poder há 23 anos (desde 1987).

Em pouco menos de um mês após a derrubada de Bem Ali na Tunísia, foi a vez de Hosni Mubarak, no Egito (no poder desde 1981). A Primavera Árabe expandia-se. Na Líbia, em 2011, buscando o fim do regime de Muammar-al-Gaddafi, no poder durante 42 anos, o país entra em uma guerra civil. Pouco tempo depois é derrubado e morto. A Síria, é o país onde os conflitos mais se estenderam. Isso porque a oposição também procurou ascender no poder por meio de uma revolta armada, duramente reprimida pelas tropas de Bashar-al-Assad (no poder desde 2000). A iniciativa contra o governo, dá lugar a enfrentamentos étnicos e religiosos que impactam diretamente a internacionalização do conflito. O acirramento mulçumano entre xiismo e sunismo, cresce com a emergência do Estado Islâmico (EI). Essa fragilização ou queda de governos tem favorecido a expansão do jihadismo (guerra pela fé/restauração do governo de Deus na terra), ameaçando a promoção da democracia nesses países.

Após essa série de revoltas, a CIA admitiu dificuldade para analisar uma conjuntura em que o equilíbrio se quebra pela precipitação de eventos que alteram radicalmente o cenário. Nessa situação não tinha como eles preverem o mecanismo de disparo(estopim). EX: Na Tunísia, o disparador foi o jovem tacar fogo em si mesmo.

Sistemas de diagnóstico de risco político: Tem como finalidade o alerta antecipado a partir da geração de conhecimento sobre a realidade, combinando análise e trabalho de campo que permitem captar níveis de descontentamento com potencial de explodir em violência a partir de fatos como o protagonizado pelo tunisiano.

Nassim Taleb descrê na possiblidade de calcular esses fatos. Ele fala que não podemos saber que catalisador produzirá tal efeito, os acontecimentos são imprevisíveis e não podem ser medidos com base em acontecimentos anteriores. Para ele, a implosão dos regimes de Ben Ali e Hosni Mubarak entraria na categoria de Cisnes Negros.

Três características definem um Cisne Negro:

1.A improbabilidade

2.O alto impacto

3.Previsiblidade apenas após a ocorrência

Diante da impossibilidade de antecipar Cisnes Negros, Taleb recomenda limitar a exposição aos seus impactos identificando e reduzindo fragilidades. O governo Obama subestimou a gravidade dessas crises regionais pós-Primavera Árabe, com isso, tivemos o surgimento do Califado e aumento do poder do Estado Islâmico. Esses acontecimentos, estão na categoria que os cientistas chamam de acontecimentos: “aparição inesperada de algo novo que debilita qualquer desenho estável” e “não só as coisas mudam: o que muda é o próprio parâmetro pelo qual medimos os fatos de mudança” (Zizek,2014). Lembrando que o acontecimento não é algo preso ao passado, ele pode ocorrer novamente.

Nos autores citados no texto, percebe-se uma paralelo com a noção de Cisne Negro, cuja centralidade situa-se no improvável. Na perspectiva deles, a incorporação num mesmo campo de observação de acontecimentos, atores e interesses relativiza, na análise de conjuntura, o absolutismo do imponderável: atos espontâneos poderão catalisar Cisnes Negros, assim como eventos provocados por cálculos estratégicos, em que o impacto de desdobramentos subestimados complica avaliações de sucesso ou fracasso a partir da racionalidade de meios e fins do planejamento inicial.

Conjuntura, atores e interesses

Estudo de situações a nível internacional, exemplificando nesse caso, a recente evolução política no mundo árabe e mulçumano. Vimos 2 momentos:

1.Acontecimentos “cisne negro” cujo impacto instala quadro de incerteza”

2.Após deflagrada a crise e em contexto convulsionado, as possibilidades de permanência e mudança de estrutura

Demarcar o conjunto associando a temporalidades curtas e transformações aceleradas, da estrutura, de durações longas e mutações dilatadas, representa uma análise aliada a subjetividade, que é acentuada quando se juntam duas categorias de variáveis como estabilidade/crise e ordem/desordem, também sujeitas a várias interpretações. Esses são os riscos da abordagem compreensiva da ação social.

Para Michel Dobry, a análise de processos de crise política se corresponde com o desvendamento de configurações de fatos que evidenciam uma diferenciação estrutural das sociedades. Trata-se de conjunturas fluídas marcadas por: descontinuidades que intervêm no fluxo “normal” das rotinas ou interações sociais. De uma perspectiva sociológica, Julien Freund associa crise com transição, espaço “entre um antigo estado de estabilidade relativa e a busca de um novo equilíbrio”

No campo da abordagem institucionalista das R.I, Giovanni Capoccia e Daniel Kelemen fazem menção a conjunturas críticas: caracterizadas por uma situação em que as influências estruturais (econômicas, culturais, ideológicas, organizacionais) sobre a ação política são significativamente relaxadas por um período relativamente curto, com duas consequências principais: a gama de opções plausíveis abertas a poderosos atores políticos se expande muito e as consequências das suas decisões para o desfecho de interesse são muito mais importantes. Contingência, torna-se primordial. O interesses desses atores seria: crise/desordem/oportunidade, transição para nova estabilidade/ordem.

Henry Kissinger, diz que um dos desafios da atualidade está na ampliação e consolidação dos movimentos jihadistas, que tem apelo militante e capacidade militar. Para ele, a raiz do problema não é só regional, mas envolve o governo de George W. Bush, que como resposta aos atentados de 11/09/2001, inicia a “Guerra Global contra o Terrorismo”. A invasão americana ao Afeganistão e Iraque, é para Kissinger, um idealismo de moldar esses países a um modelo político como o ocidental, e com isso, aumentar a influência americana para a região. O que de fato aconteceu foi a potencialização das disputas envolvendo potências regionais e atores não estatais. Kissinger é a favor de uma doutrina preventiva: antecipar-se, mesmo a partir de suspeitas, à possiblidade sempre eminente de atentados terroristas.

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