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LIMITES COLOCADOS PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA BRASILEIRA

Por:   •  20/12/2018  •  Resenha  •  2.419 Palavras (10 Páginas)  •  222 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

LIMITES COLOCADOS PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA BRASILEIRA

Jackson Souza Gois

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Na obra A política do Brasil: Lúmpem e Místico (2011), de José de Souza Martins,  traz o desenvolvimento da sociedade brasileira advinda da questão agrária, o latifúndio, considerada pelo autor como a áreas mais importante daquilo que hoje é, e sempre foi, o Brasil. O que se apresenta é que mediante a questão política, a questão fundiária, continua veementemente a ditar os fundamentos da política brasileira. Isto não quer dizer, obviamente, que o latifúndio continua o mesmo em todo este tempo de história. Entretanto, as suas raízes ainda existem nas instituições, na rebeldia social desmentida, vista como amplamente preguiçosa, junto a uma falta de memória política, ou memória histórica ausente de imparcialidade, uma espera pelo Messias, aquele que irá salvar a nação, fruto de julgamentos levados puramente pelas aparências.

É informado explicitamente que o Brasil é uma sociedade de história lenta. Isto quer dizer que as revoluções históricas no Brasil são feitas de forma lenta, inapropriada, usualmente pela metade, de maneira inconclusiva. Tudo é uma história por se fazer, nunca que se faz. É neste ato que o Brasil moderno pega ao Brasil arcaico como medida de autoafirmação. Ao citar o Brasil moderno, cita-se com ele um ideal de sociedade civil e de cidadania como se ambas pudessem ser colocadas em pratica a partir de uma leitura de livros clássicos do pensamento europeu. Esta perspectiva fútil vem da mentalidade colonizada que não permite, ao brasileiro, ver que o mesmo não está na Europa. E que este discurso repetitivo e incansável, ausente de uma análise fiel à história brasileira e suas reais raízes é impossível de, em algum momento, alcançar a cidadania, a sociedade civil tão desejada. A sociedade civil é somente produzida a partir de conflitos revolucionários que, portanto, são capazes de desraigar a sociedade de seus núcleos mais sólidos.

O Brasil, seguindo essa inacabada formação de identidade, se idealiza moderno e, tão somente, composto de categorias sociais urbanas. Exclui-se, portanto, os pequenos agricultores. Está visão é um grande erro, segundo o autor. Foi-se enraizado no conhecimento brasileiro que a questão da terra vai de interesse apenas dos trabalhadores rurais, não devendo ser assunto de mais ninguém. Esse problema com a terra seria, nesta visão, resolvido conforme o progresso urbano se solidificasse. O autor enfatiza o erro desta visão e, deixa explicito, que o problema latifundiário é o núcleo dos problemas que impedem o país de se modernizar, democratizar. Em outras palavras, é dela que problemas mais amplos surgem,

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não importando a questão posterior a ela, quem está ciente ou não dela, quem a vê e quem não a vê ou, mesmo, a quem a quer e quem não a quer.

Ao se referir ao entendimento atual do Brasil, o autor passa por uma linha do tempo, explicando os fatores que o levaram a ser o que é. Partindo do Brasil Colonial e Imperial, o poder político e econômico e as relações de trabalho escravista, para chegar à proclamação da república, no Golpe de 1964. No tocante a esse processo, faz-se uma anotação extremamente importante sobre o Coronelismo e de sua influência em todo o sistema, afirmando que o mesmo é um compromisso entre o setor público e o privado, os chefes locais, os chefes de terra, em suma, os coronéis, essa troca de favores, segundo o autor, progrediu-se e fortaleceu-se ao decorrer da história do Brasil. Portanto, mesmo formalmente extinto, o coronelismo sobrevive atualmente, nas práticas, onde os governos, ditos, modernizadores e progressistas ou, ainda, à esquerda não escapam desta rede.

Conforme o texto se aproxima do estado atual do país, toma-se evidente uma linha de análise do governo Lula e do que, o autor nomeia, 'lulismo': uma forma de clientelismo estatizado, causado pelo Bolsa Família, que, em 2006, deu uma poderosa alavancagem ao Lula, mesmo em detrimento ao escândalo do PT por corrupção. Esse clientelismo teve poder imenso em todo o período Lula e, inclusive, na eleição da Dilma, tendo em vista que foi o Lula o apoiador da causa. Este clientelismo, segundo o autor, disfarçado do Bolsa Família, inviabiliza a democracia no Brasil. Isto acontece devido ao fato de que o PT, mais precisamente o Lula, tido como Neoesquerda, no texto, incorporou, usando o Bolsa Família, as massas pobres do país, os transformando em sócios menores do poder. Os ludibriando diante de toda uma corrupção dentro do partido. Neste ponto, o autor critica que o PT, que, antes, foi uma poderosa forma de síntese do inconformismo, ao chegar ao poder acabou tornando-se parte de tudo aquilo que lutava contra, que negava para si.

É anunciado, agora, de volta ao tocante ao latifúndio, que o 'lúmpem', nas palavras do autor, um povo desamparado e inquieto, vinha crescendo exorbitantemente e que, portanto, organizar essa população era um fator crucial para uma real mudança no país. No entanto, esta afirmação iria de contra ao que se entendia na esquerda, conhecimento vindo de Marx e Engels, onde o lumpesinato e o campesinato eram vistos como categorias sociais incapazes de impulsionar transformações sociais ou políticas. Na verdade, o entendido era exatamente o contrário: era entendido que tais categorias tendiam para caminhos de direita reacionária.

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O texto, voltando no tocante ao Lula, informa que o PT deu fim a essa dificuldade quando se tomou conhecimento que a massa lúmpen tornou-se parte do lulismo, tornando-se fator de peso crucial para a reeleição de Lula em 2006, e, mais tarde, para a eleição de Dilma, em 2010. A partir deste desdobramento a categoria ganhou um reconhecimento respeitado de integração: subproletariado.

Ainda no tocante ao PT, o texto informa que o mesmo, não obstante o grande sofrimento que passou nesta situação, deu fervor a uma política de conciliação dos contrários, diminuindo as agressividades que, até então, eram bastante expressivas. Esse fator contrário se dá no fato curioso onde os pobres votam nos ricos e nos conservadores, e os ricos votam na esquerda e a favor de transformações radicais. Esta peculiar situação acontece em detrimento de um Brasil que disfarça o passado e seu processo político, que se denomina, futilmente, de pós-moderno sem nunca ter sido, ao menos, moderno.

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