O Nobre Deputado
Ensaios: O Nobre Deputado. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: NandaOliver • 14/3/2015 • 361 Palavras (2 Páginas) • 235 Visualizações
O assalto ao orçamento
A política é uma arte que desafia a ciência. Como a física explicaria, por exemplo, que um deputado
tem direito a dois gabinetes, em Brasília e outro no Estado de origem? E que, além disso. pode dar
posto de trabalho a até 25 secretários parlamentares. Os jornais nos criticam por isso, mas o número
deveria ser maior. Afinal, temos muitas pessoas a acomodar. E a genética, então? Algumas tentativas
de conceber lideranças políticas de proveta resultam em criaturas que não compartilham sequer um
cromossomo do pai.
Nada se compara, entretanto, àquilo que nós, os políticos, fazemos com a matemática. Quando os
números correspondem a valores em dinheiro, temos o poder de fazer com que uma quantia destinada
a obras públicas sirva também para somar recursos para a conta particular dos prefeitos e
multiplicar o caixa do partido. Quando representam a área de um hospital ou a extensão de uma
estrada, o todo se transforma em fração sem que nenhuma operação oficial tenha sido efetuada.
Obviamente, não estamos falando de mágica, embora a contabilidade muitas vezes se aproxime das
ciências ocultas. Com um bom contador, conhecimento do sistema, influência e os contatos certos, o
parlamentar encaminha habilmente para seu caixa de campanha parte do dinheiro que arrecada para
distribuir benesses em sua base eleitoral. Quando bem-feita, essa operação não atrai a atenção de
ninguém e é aprovada pelos tribunais de conta. Ninguém perde com isso.
Você já deve ter ouvido falar em emendas parlamentares, mas provavelmente nunca se interessou
de fato em saber o que elas são. A maior parte da população instruída – falo de gente que acompanha
o noticiário –, vê com profundo tédio as reportagens sobre o impasse na aprovação do orçamento,
quando parlamentares de todos os partidos e todos os Estados se digladiam para obter uma fatia
maior de recursos a serem distribuídos em seus redutos eleitorais. Sim, tudo isso é muito chato.
Quem está interessado no chororô de deputados para a obtenção de verbas que resultarão em
ambulâncias no Ceará ou em uma barragem em Santa Catarina? Nós não estamos interessados em que
você tenha interesse nisso. Quanto mais modorrenta a coisa parecer, menos fiscalização sobre nós. É
maior o espaço de manobra para obtermos verbas vultuosas que alocaremos do modo que nos for
mais conveniente.
De repente o assunto
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