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O TRABALHO COMO BASE DE PREPARAÇÃO: ELEMENTOS DE EDUCAÇÃO EDUCATIVA PARA EDUCAÇÃO DE JUVENTUDE E ADULTOS

Projeto de pesquisa: O TRABALHO COMO BASE DE PREPARAÇÃO: ELEMENTOS DE EDUCAÇÃO EDUCATIVA PARA EDUCAÇÃO DE JUVENTUDE E ADULTOS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  11/8/2014  •  Projeto de pesquisa  •  6.511 Palavras (27 Páginas)  •  385 Visualizações

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TRABALHO COMO BASE DA FORMAÇÃO: ELEMENTOS DE UM CURRÍCULO PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

GT Nº 09 – Trabalho e Educação

RIBEIRO, Marlene - UFRGS

1. Trabalho e formação: colocando as questões

Como construir um currículo para Educação de Jovens e Adultos que tenha o trabalho como base da formação? Esta questão está colocada para um Grupo de Trabalho (GT) cuja organização tem por finalidade a construção de uma política pública que articule a escolarização e a profissionalização, a partir da discussão e problematização do currículo de escolas municipais que trabalham com a Educação Básica, mais propriamente, com Educação de Jovens e Adultos.

Assim, o objetivo deste texto é propiciar um debate sobre esses elementos básicos - trabalho e formação - que irão fundamentar uma proposta curricular para aquelas escolas. A importância desta abordagem está implícita nos propósitos do GT de construção de uma política pública de educação básica que contemple as necessidades e os interesses dos trabalhadores em relação aos desafios colocados pelo mundo do trabalho, dominado pela globalização neoliberal.

Numa perspectiva interdisciplinar, vou trabalhar os conceitos, historicizando-os, delimitando-os em seus sentidos contraditórios e enraizando-os nas relações sociais que os engendram. A abordagem assim feita poderá apontar caminhos para a elaboração do currículo das escolas municipais, caminhos esses que propiciem a escolha e a organização dos conhecimentos, saberes e práticas, buscando formas de articular os mundos, hoje separados, do trabalho e da formação.

2. Desconstruindo/reconstruindo conceitos de trabalho e formação

O trabalho toma diferentes sentidos ao longo da história. O mais forte, talvez, pelas condições de exploração e dominação a que têm sido submetidos os trabalhadores em todas as épocas, é o do esforço físico, do castigo, da subordinação, do sofrimento. A condenação bíblica “Comerás o pão com o suor do teu rosto”, dirigida a Adão, é a versão religiosa negativa do trabalho, embora a Reforma protestante passe a dar-lhe outra conotação.

Hannah Arendt estabelece a distinção entre labor, referente ao esforço do corpo para prover o sustento, e trabalho, como um fazer das mãos que realiza um produto. De tripalium (três paus), instrumento de tortura, deriva-se a palavra trabalho que, em todas as línguas em que aparece com o significado de labor, também carrega sentidos relativos à dor e ao sofrimento (Arendt, 1983, p. 90; Nosella, 1987, p. 30).

No mundo grego clássico o exercício do pensamento é incompatível com qualquer espécie de trabalho envolvendo o corpo; a desconfiança em relação ao labor funda-se “na convicção de que o labor do nosso corpo, exigido pelas necessidades desse último, é servil” (Arendt, 1983, p. 93-94). O desgaste físico provocado pelo trabalho e a subordinação às suas atividades rotineiras para a reprodução da existência, segundo Aristóteles, embrutecem o homem e subtraem a liberdade de pensar. Não só o trabalho escravo é visto como um impedimento à participação nos círculos restritos da Academia; todos os tipos de trabalho: aqueles que decorrem do comércio; os inferiores ou “os que mais sujam o rosto e as mãos; os mais servis, aqueles que o corpo trabalha mais do que o espírito; os mais ignóbeis, aqueles que não exigem qualquer espécie de virtude” (Aristóteles, 1977, p. 26). São considerados ignóbeis porque o espírito daquele que trabalha fica subordinado às condições e às atividades desenvolvidas pelo corpo, não estando, portanto, liberto para o exercício do pensamento.

Na Grécia, o trabalho escravo sustenta as condições de produção da ciência que permitem às classes proprietárias e dirigentes o tempo livre necessário à produção filosófica e à atuação política. O trabalho, no entanto, não ingressa nos ambientes onde se produz o conhecimento nem onde se produzem as políticas que o mantêm fora desses ambientes e que o separam da formação político-filosófica. Até então, a formação daqueles que trabalham: camponeses, artesãos, escravos, comerciantes, soldados... faz-se no próprio trabalho, iniciando-se na família.

No mundo feudal, o trabalho continua a ser o divisor dos estamentos sob os quais se organiza a sociedade entre senhores e servos. Artesãos e comerciantes são uma cunha que, introduzida entre os estamentos, irá, pouco a pouco, rachando as estruturas sociais no movimento em que se constitui a classe burguesa e o modo de produção capitalista. Comerciantes levam aos mercados os objetos produzidos pelos camponeses e artesãos. Pelos estatutos feudais e/ou da corporação, tais produtos não podem ser vendidos fora da aldeia (Gorender, 1994). A burguesia tem sua gênese nesses primeiros comerciantes que realizam a intermediação entre a produção camponesa e artesanal e os mercados onde esta produção poderia ser trocada e/ou vendida (Polanyi, 2000).

A formação é feita nos próprios processos de trabalho, tendo, os artesãos, criado estatutos de proteção às suas obras e corporações de ofícios visando a organização profissional e a ocupação dos espaços econômico-sociais. Não há escolha profissional; os homens se encontram presos aos seus estatutos estamentais; não há mobilidade social de um estamento a outro. As mulheres não existem como sujeitos que trabalham; seu trabalho é “invisível”. Não mudam as classes, as profissões, os processos de trabalho; também não mudam os currículos - se assim se pode chamar - do que constituem os conhecimentos e saberes necessários à formação do clero e da nobreza nas escolas monásticas e catedrais, a formação do aprendiz junto a um mestre-artesão ou a formação de um camponês junto à família, principalmente ao pai, na lida com a terra e a criação e domesticação de animais.

De modo bastante resumido, o que vemos até aqui é a via negativa do trabalho, que implica em esforço físico, em exploração, em subordinação, seja à atividade rotineira seja à determinação de um estatuto ou de uma ordem. No que diz respeito ao objetivo do texto, observa-se, de um lado, que a formação do trabalhador acontece no próprio processo de trabalho e, de outro, que este trabalhador não tem acesso ao conhecimento científico socialmente produzido. O impropriamente indicado como currículo de sua formação constituir-se-ia pela transmissão oral de saberes da experiência e pelas práticas profissionais acompanhadas pelos pais e/ou pelos artesãos.

As concepções de trabalho ou de labor associadas à escravidão,

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