O Tocqueville e Marx
Por: Ana Paula Lizi • 3/6/2015 • Trabalho acadêmico • 1.568 Palavras (7 Páginas) • 564 Visualizações
AS INTERPRETAÇÕES DA MODERNIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS EM ALÉXIS DE TOCQUEVILLE e KARL MARX
Ana Paula Souza Lizi
O trabalho apresentado aqui expõe a visão de modernidade entre Alexis Tocqueville e Karl Marx e como seus pensamentos influenciaram a política atual no âmbito das relações internacionais.
INTRODUÇÃO
Em suas análises sobre a sociedade moderna, tanto Marx como Tocqueville colocam uma pressão em cima da desintegração da ordem social feudal e da ordem social que surgiu em seu lugar. Embora ambos reconheçam o colapso das hierarquias e as mudanças que acompanharam esse colapso, esses dois pensadores tem diferentes entendimentos sobre o caráter dessas mudanças assim como as futuras possibilidades para a sociedade, porque eles veem natureza fundamental da nova sociedade de diferentes maneiras. Tocqueville e Marx alcançam vastas conclusões diferentes acerca da direção da sociedade. Baseando suas teorias em igualdade fundamental ou desigualdade individual em uma ordem social moderna, ambos enxergam os futuros prováveis da sociedade em termo de suas respectivas visões de igualdade no mundo moderno.
TOCQUEVILLE E MARX: AS DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS NA VISÃO DE MUNDO MODERNO
Na visão de Tocqueville, a sociedade moderna difere da sociedade aristocrática anterior por sua natureza fundamentalmente homogênea. Considerando que as sociedades anteriores foram hierárquicas e continham classes distintas, as diferenças na sociedade moderna eram meramente variações sutis no grau de riqueza. Ao contrário da sociedade aristocrática que a precedeu, a sociedade moderna é composta cada vez mais de indivíduos iguais e isolados.
“Portanto é, comumente, na origem das sociedades democráticas que os cidadãos se mostram mais dispostos a se isolar”. TOCQUEVILLE, Aléxis de; A Democracia na América: sentimentos e opiniões: de uma profusão de sentimentos e opiniões que o estado social democrático fez nascer entre os americanos, Martins Fontes, 2000.
Além disso, a ordem moderna não tem mais ligações que uniam os indivíduos no passado; os laços fortes e específicos das sociedades aristocráticas são substituídos por uma conexão muito mais fraca para a humanidade como um todo. Como não há classes específicas para governar, as duas possibilidades para a sociedade moderna são as ordens sociais democráticas e despóticas.
Marx tem um entendimento diferente sobre a natureza e o futuro da ordem social moderna.
Para Marx, a sociedade moderna, como as sociedades que existiram antes dela, foi essencialmente baseada em antagonismos entre as classes dominantes e as classes exploradas (MARX, Karl; O Manifesto Comunista, 1999, p. 7). No entanto, a sociedade moderna é distinta de ordens anteriores, simplificando todo o antagonismo de classes para incluir duas principais: a burguesia e o proletariado. As relações de classe, enraizadas nas relações econômicas de produção, fornecem a base para a superestrutura política.
“... Entretanto, a nossa época – a época da burguesia – caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado”. MARX – ENGELS; O Manifesto Comunista, 1848, versão para eBook, 1999.
Como a política, para Marx, é supérflua para o conflito real na mão, os sistemas políticos vão refletir, ao invés de determinar, a ordem social e a democracia, uma vez que existe uma “farsa” que pode ser eliminada se os interesses da classe dominantes são ameaçados. Para afetar qualquer mudança séria, a classe oprimida deve tomar o poder e produzir uma revolução; isto requer que a consciência de classe do proletariado deve ser levantada. Uma vez que a revolução final do proletariado é concluída, classes e lutas de classes são eliminados, a criação de uma nova ordem social de igualdade fundamental e auto-governança real.
Já Tocqueville acredita que a mudança não deva vir por via revolucionária, independentemente de ser burguesa ou proletária, pois facilmente se torna terror, subtraindo a liberdade. A mudança deve vir por vias legais, ou seja, pelo aprimoramento das leis e do controle sobre os governantes para que cumpram com a função de conduzir a sociedade.
Pegando o exemplo dos Estados Unidos como o sistema ideal de governo, ele afirma que “A grande vantagem dos americanos é terem chegado à democracia sem terem precisado passar por revoluções democráticas e terem nascido iguais, em vez de terem se tomado”. TOCQUEVILLE, Aléxis de; A Democracia na América: sentimentos e opiniões: de uma profusão de sentimentos e opiniões que o estado social democrático fez nascer entre os americanos, Martins Fontes, 2000.
Tocqueville tem a visão de que na sociedade moderna a hierarquia e a divisão de classes da sociedade aristocrática foram dissolvidas, e então existe apenas uma igualdade básica de condições. As diferenças na sociedade moderna para ele eram apenas no grau de riqueza, há ainda pobres e ricos, Os pobres "são poucos, e a lei não os tem atraído juntos pela ligação de um estado irremediável e de hereditária miséria. Os ricos, por sua vez, estão espalhados e impotentes. Como não há mais uma raça de pobres homens, então não é uma raça de homens ricos, o rico diariamente surge da multidão e constantemente retorna para lá”. (TOCQUEVILLE, Aléxis de; A Democracia na América).
Um dos resultados da “demolição” da hierarquia na sociedade moderna é a crescente tendência para o isolamento, como os grupos que uma vez ajudaram a manter as pessoas unidas, dissolvidos em nome da igualdade.
“Aristocracia une a todos, desde o plebeu até o rei, em uma longa corrente. Democracia quebra essa corrente e liberta cada ligação”. TOCQUEVILLE, Aléxis de; A Democracia na América: sentimentos e opiniões: de uma profusão de sentimentos e opiniões que o estado social democrático fez nascer entre os americanos, Martins Fontes, 2000.
As duas direções viáveis que um governo moderno pode tomar são aquelas da democracia participativa e despotismo. Para Tocqueville, muitas das tendências em um ponto de sociedade igualitária moderna no sentido de despotismo, como a retirada e o isolamento mútuo, oferecem condições ideias em que um déspota pode tomar o controle de uma determinada sociedade.
“O despotismo, que, por natureza, é temeroso, vê no isolamento dos homens a mais segura garantia de sua duração e, comumente, faz tudo para isolá-los”. TOCQUEVILLE, Aléxis de; A Democracia na América: sentimentos e opiniões: de uma profusão de sentimentos e opiniões que o estado social democrático fez nascer entre os americanos, Martins Fontes, 2000.
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