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Resumo Chang-Rivero

Por:   •  25/4/2015  •  Resenha  •  1.480 Palavras (6 Páginas)  •  125 Visualizações

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A discussão sobre as razões da pobreza ou desenvolvimento das Nações tem sua origem atrelada à do próprio pensamento econômico moderno. A obra de Adam Smith, que só poderia ser fruto de um momento histórico caracterizado pela já consolidação do modelo Estado-Nação, fundamental ao empreendimento capitalista, acabou por se tornar cânone do pensamento econômico hegemônico, atualmente menos pela força de suas idéias e mais pela de quem as expõe. O discurso pela liberalização dos mercados, abolição das tarifas, redução da presença do Estado na economia ganhou status de instituição internacional, como será abordado. Mas, apesar de amplamente divulgado, raros são os exemplos das nações que alcançaram a riqueza aplicando o receituário prescrito, e mesmo assim com ressalvas, se examinarmos a História com atenção. Os Estados que se 'desenvolveram' (conceito fugidio) o fizeram por meios próprios, resolvendo seus problemas e, acima de tudo, protegendo seus setores estratégicos e em consolidação da concorrência estrangeira. Mesmo aqueles que adotaram a posição de advogados do liberalismo econômico fazem questão de 'esquecer' seus passados protecionistas, quando ainda não o exercem de maneira velada por barreiras técnicas entre outras. O que Ha Joon Chang faz, em seu "Os Maus Samaritanos", é relembrar várias histórias de sucesso, como a da sua Coréia do Sul, na década de 1960 entre as economias mais pobres do mundo,    do Japão, que apresenta várias semelhanças com a sul-coreana, precedendo-a, a da Inglaterra que acolheu as ideias do economista escocês para depois levá-las ao mundo, e a dos Estados Unidos, atual potência econômica e militar e principal defensor do livre comércio, seja por meios ideológicos, institucionais, ou mesmo bélicos. O autor coreano demonstra que praticamente todos tem em comum a adoção de medidas protecionistas para a proteção e consolidação de suas indústrias nascentes (termo cunhado por Alexander Hamilton, um dos 'pais' da industrialização estadunidense, como relata em seu livro).

Em seu primeiro texto, "Milagre Econômico em Moçambique", o autor utiliza-se de um cenário hipotético para narrar uma história real: a de como a Coréia do Sul saiu de uma condição de pobreza, com uma produção basicamente agrária e insuficiente, para a de um dos países com maior desenvolvimento tecnológico, no espaço de tempo entre sua infância e sua fase adulta. Na condição privilegiada de testemunha ocular e esclarecida dos fatos, pode descrever como a adoção de um programa sistemático de medidas, que envolveram a industrialização, a aplicação conjugada de engenharia reversa e desenvolvimento tecnológico, a adoção de um rígido protecionismo associado à importação seletiva dos bens de capital necessários, e o necessário investimento em educação colocaram a Coréia do Sul na lista das potências tecnológicas. E, mais importante, como a qualidade de vida de seus habitantes melhorou drasticamente como resultado do processo. Mas Ha Joon Chang enfatiza justamente a palavra 'planejamento'. Não foi a mão invisível do mercado, nem o egoísmo racional dos investidores, que operou o 'milagre' sul-coreano. Não foi a tradicional receita prescrita, de que uma economia aberta tornar-se-ia atrativa para investimentos diversos, de tal forma que estes trariam a tecnologia estrangeira e gerariam os tão desejados empregos, formando um mercado desenvolvido e 'saudável'. Pode-se (e deve-se) questionar que o radicalismo das medidas adotadas só poderiam sê-lo mediante um regime autoritário mas, do ponto de vista econômico, foi o rigoroso planejamento e controle da economia que permitiram a formação de uma indústria, e sua proteção nos períodos iniciais a permitiu consolidar-se tanto em níveis tecnológicos como administrativos a ponto de poder concorrer com similares do resto do mundo.

Já em "O Lexus e a Oliveira Revisitado", o autor responde ao livro de Thomas Friedman sobre os supostos benefícios que o Japão teria alcançado por haver adotado o chamado receituário liberal, capaz de levá-lo de um Estado pobre, semelhante a outros tais em que oliveiras representam sua principal 'linha de produção', ao  elevado patamar tecnológico capaz de criar um automóvel como o Lexus. Chang argumenta que foi justamente por não adotar tal receituário, e insistir mesmo quando não havia uma tradição japonesa na produção de automóveis, que se passou de produtos inicialmente toscos a refinados. Foi o aprendizado com erros e a auto-imposição de metas de qualidade que permitiu a evolução realizada a despeito das teorias econômicas hegemônicas, como a Lei das Vantagens Comparativas e suas prescrições liberalizantes. Chang então aproveita para desmentir os mitos alardeados sobre a globalização, como o sucesso daqueles que adotaram a livre iniciativa e o 'fracasso' dos que adotaram a intervenção estatal, e apontar o também uso de medidas protecionistas em algum momento da história dos industrializados bem como demonstrar que aquele 'fracasso' dos interventores, como a adoção da chamada Industrialização por Substituição das Importações não foi tão mal, em especial se comparado com as políticas neoliberais adotadas por governos posteriores. Mas tais políticas não foram adotadas apenas por razões ideológicas, e sim muitas vezes impostas pela tríade Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (anteriormente o GATT). Deste modo, concessão de crédito e contrapartidas se encontravam vinculada a cláusulas de comprometimento com a redução de barreiras e de controles sobre o capital.

Finalmente, em "A Dupla Vida de Daniel Defoe", Chang aproveita como motivação a vida de homem de negócios do autor de "Robinson Crusoe" para traçar um histórico do processo de industrialização britânico. E, ao contrário da bandeira do liberalismo, a grande potência do século XIX foi forjada através de uma consistente intervenção de seus monarcas, que vislumbraram a importância de se constituir uma  forte frota naval e do domínio das técnicas de manufatura da época. Desta forma, fizeram amplo uso de espionagem industrial, importação de cérebros, e por meios pacíficos ou bélicos fizeram colônias, constituíram monopólios, e abriram mercados para suas mercadorias. E também a grande potência do século XX fez uso de um consistente planejamento e do estabelecimento de metas para levar os EUA do status de nação agrária à industrialização. O grande responsável foi o anteriormente citado Alexander Hamilton, que contrariando as 'sugestões' de Adam Smith, e acatadas por Thomas Jefferson,  iniciou o processo industrialização dos EUA.

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