A Verdade como conhecimento e como existência
Por: Sabino Flavio Augusto Lima • 17/4/2017 • Resenha • 1.171 Palavras (5 Páginas) • 318 Visualizações
Inicialmente devemos definir o que é a verdade? Algo que foi dito “é verdade”, o que significa “não é mentira”, uma coisa realmente aconteceu, que não é invenção, que “é verdade”. A verdade, então, quer dizer que o que se diz corresponde à realidade do assunto sobre o qual está falando. Ou, que o que se está dizendo realmente aconteceu, que a fala corresponde aos acontecimentos aos quais se refere. Quando Pilatos faz a pergunta pela verdade ele está fazendo uma pergunta fundamental, da qual depende tudo o mais que venhamos a dizer. Em João 18.37-38, no diálogo entre Jesus e Pilatos pouco antes da crucificação, Jesus diz que veio ao mundo “para dar testemunho da verdade”, e que “quem é da verdade” vai reconhecê-la. Ao que Pilatos retruca: “o que é a verdade?”. Para Jesus, portanto, estar na verdade é condição para conhecer a verdade.
Verdade como conhecimento e como existência
Podemos falar de verdade como conhecimento e como existência. Elas não se excluem, mas se completam. Conhecimento: em seu primeiro nível, a verdade é a exatidão de determinadas formulações em contraste com outras. Já em outro nível que opera no chamado de inconsciente cognitivo que se refere às metáforas básicas que moldam nossa apreensão do que compreendemos como verdade. Existência: é a experiência que une o nível cognitivo consciente ao nível inconsciente, onde se sedimentam as metáforas que não só guiarão o nosso jeito de conhecer as coisas, mas também as nossas avaliações e as direções que daremos à nossa existência.
Verdade no NT
Analisando a Bíblia a verdade deixa de ser predominantemente uma questão de conhecimento e se torna uma questão de existência, de jeito de viver. João 7.17: “se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina.” Fazer a vontade de Deus, aqui, não significa tanto fazer coisas, mas viver de um determinado jeito. Assim, a verdade do evangelho é um caminho andado dentro de uma relação com o mesmo, por um lado, e por outro lado é o rumo, a meta deste caminho.
Assim pode-se afirmar que a verdade é a união da ortodoxia com a ortopraxia e com a ortopodia, Ou seja, tanto o que se pensa e o que se faz unido ao jeito que se anda no caminho é que define a verdade. Jesus é o caminho. Vale lembrar que o único “orto-alguma-coisa” que o NT parece conhecer em relação explícita com a verdade é a ortopodia. Doutrina (ortodoxia) e prática (ortopraxia) têm sua verdade definida por sua relação com “o caminho”.
Verdade como caminho
Como definir melhor ortopodia? Primeiro devemos saber que ela se encontra no campo das metáforas fundantes do pensamento e da prática. A verdade é, uma vez, algo que está adiante de nós; e, outra vez, o caminho que leva para lá, bem como a relação que nos define neste caminho. Verdade é mais processo que ponto de partida ou resultado, pelo menos do ponto de vista do ser humano envolvido em sua apreensão.
Esta caminhada é descrita como um desembaraçar-se de todo o peso supérfluo que constantemente somos tentados a adquirir e carregar, e “correr perseverante” o trajeto que nos é proposto, de olho fixo no alvo. O alvo desta caminhada é descrito como “o autor e consumador da fé, Jesus”. Jesus, então, é o que está no início da caminhada da fé e ao mesmo tempo é seu alvo; assim, sua presença e a relação com ela determinam a qualidade do caminho.
A verdade é o caminho. A verdade é a vida. Se pensarmos em termos de paralelismo, “vida” aqui é o caminho que é a verdade. A verdade se encontra no processo de vida entendido como caminho. A verdade é o processo de discipulado, iniciado por Jesus, mediado continuamente por ele e conduzindo a ele. A verdade só se faz e só se deixa apreender no próprio caminho, não em conceitos sobre o mesmo e nem em práticas que supostamente devem mostrar que estamos no caminho.
Verdade e verificação
A questão da possibilidade de verificação é um método que nos permite decidir sobre a verdade ou falsidade de um julgamento. A verificação pertence à natureza da verdade. Sem ela, os juízos que fizermos são simplesmente expressões do estado subjetivo de uma pessoa. Pelo menos dois métodos de verificação deveram reconhecer para a verificabilidade da verdade teológica. Um é o método experimental, científico; o outro é experiencial, é verificado pela união criativa de duas naturezas, a daquele que conhece e a daquilo que é conhecido. Este teste é realizado no próprio processo de vida. Deve-se fugir tanto do reducionismo científico, no qual o racionalismo só aceita algo como verdade quando ela puder ser verificada experimentalmente, quanto do pragmatismo onde só é verdade aquilo que funciona na prática.
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