CARÁTER MASCARADO - O QUE BATMAN NOS ENSINA SOBRE O EVANGELHO?
Por: Ian Hott • 24/5/2017 • Artigo • 1.429 Palavras (6 Páginas) • 701 Visualizações
CARÁTER MASCARADO - O QUE BATMAN NOS ENSINA SOBRE O EVANGELHO?
Na última semana eu tirei alguns dias para rever pela 10ª vez a trilogia do Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan. É uma série de filmes que me fascina. Minha mente está cheia da realidade desses filmes. E, ao assisti-lo novamente acabei descobrindo uma relação surpreendente entre o herói de máscara e a vida cristã.
O que mais me chama atenção é o conceito de herói que os filmes de Batman trazem. Classicamente, o herói é uma personalidade única, em quem normalmente não se vê qualquer distinção moral entre a “face” e a “máscara”. Aqui, diferentemente deste conceito, Bruce Wayne e Batman não podem sequer serem considerados duas personalidades de um mesmo corpo; estariam mais para um homem que se compromete a manter, proteger e promover uma entidade com vida própria.
De um lado temos um homem que têm sua casa destruída, sua amada tomada de seus braços e o mordomo (que é quase um pai) o abandonando. Do outro lado temos uma lenda, um símbolo de justiça que, mesmo afligido pelas trevas de uma cidade corrupta, permanece sempre disposto a tudo para manter os seus seguros e que não deixa se abater por nada.
Isso me leva a pensar sobre até que ponto somos de fato cristãos ou apenas usamos desse “disfarce”. Em quais áreas da nossa vida somos desestruturados e em quais nós colocamos uma máscara para fingir que está tudo bem? Digo isso por mim, quantas vezes eu estava desmoronando em casa, ou na universidade ou em minha vida pessoal, mas subia no púlpito, ou pregava no meu pequeno grupo como se tudo estivesse bem?
AS ESCRITURAS E O PROCEDER CRISTÃO
Na segunda carta de Paulo a Timóteo, vemos um manual divino que orienta a prática cristã diante dos grandes embates da vida e das tensões cotidianas. No capítulo 3, Paulo nos apresenta uma lista de qualificações para alguns ofícios eclesiásticos, mas é importante entender, olhando para a passagem, que tais qualificações se aplicam na vida de qualquer cristão.
Obviamente, seria impossível para qualquer um de nós se enquadrar em tais qualificações. Porém, alguns estudiosos do texto bíblico dizem que o gênero literário usado aqui é panegírico. As raízes desse gênero se encontram nos louvores de heróis gregos ou nos discursos fúnebres de pessoas importantes. Sua distinção se encontra nas palavras enaltecedoras, quase que idealistas, e é isso que nós vemos no texto bíblico. Por isso a ilustração de Batman cabe tão bem aqui.
Contudo, Paulo apresenta uma imagem da qual todos devemos nos aproximar. É claro que nenhum de nós pode ser considerado irrepreensível, mas nossa vida deve ser, no mínimo, coerente com o caráter do que cremos. A vida da igreja deve ser coerente com seu caráter divino.
Concordo com o estudioso Glenn Gould, comentando esse texto de 2 Timóteo 3, quando ele alerta que a palavra "episcopado", encontrada na passagem, é um tanto enganosa para os leitores de hoje, porque para nós tem conotação eclesiástica. Mas na verdade essa palavra tem mais o significado de uma vida inteira dedicada à uma obra.
Das quinze qualificações exigidas para um homem ocupar o presbiterado da igreja, por exemplo, apenas uma se refere à habilidade de ensino. Nas palavras de Erdman, a maioria são qualificações morais e apenas uma está relacionada à habilidade intelectual. Na verdade, os requisitos para viver de forma digna do evangelho exigem excelência moral mais que intelectual. As qualificações estão relacionadas com a personalidade, o caráter e o temperamento da pessoa.
Um outro ponto levantado pelo autor é a inconstância do cristão. Há uma canção que eu gosto muito de uma banda cristã chamada Jars of Clay, que diz assim: "O que me torna tão mal resolvido?". Esse é um mal perigoso, que compromete o nosso crescimento espiritual e que não nos permite ser cheios do Espírito. Paulo está condenando veementemente uma vida de inconstância espiritual. Por isso a alegação de que um presbítero ou diácono não pode ser recém convertido, pois estes ainda estão engatinhando, ainda estão aprendendo, seu testemunho ainda está sendo construído. Contudo, esse também é uma alerta para todo cristão maduro: não viva para sempre como um novo na fé. Há alguns que já conhecem ao Senhor há anos, que já assistiram milhares de aulas de EBD, que já assistiram inúmeras pregações, mas insistem em viver como novos na fé, sem se comprometer com Cristo, com a igreja.
A vida cristã é como uma horta que deve ser cultivada a fim de produzir para Deus frutos de santidade. Dessa forma, todas as dádivas que vimos anteriormente derivam fazer parte desse cultivo.
Uma coisa que ainda não apontei foi o propósito de Paulo de confrontar as heresias e os falsos mestres que pervertiam o evangelho em Éfeso, onde Timóteo estava. E, nessa ótica, vemos que Paulo com seu discurso panegírico a respeito do cristão, não está, simplesmente, fazendo declarações afirmativas sobre uma vida coerente, mas criando um contraste entre o verdadeiro e o falso, o coerente e o incoerente.
Os falsos mestres ensinavam assuntos religiosos e muitos poderiam até ter algumas qualidades
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