OS RITOS DE PASSAGEM
Por: Chokitolc • 16/5/2016 • Monografia • 2.894 Palavras (12 Páginas) • 424 Visualizações
CAPÍTULO I
VISÃO ANTROPOLÓGICA DO RITO
1. Objetivos do estudo
No presente estudo, temos por objetivos, fazer uma analise dos Ritos Iniciais da Celebração Eucarística, primeiramente observando os seus diversos elementos a partir de uma ótica dialógica e sistêmica e num momento segundo aprofundar o significado e a relevância de cada um deste elementos dentro do jogo celebrativo. Tomaremos por objeto de estudo os Ritos Iniciais da Celebração Eucarística segundo o Rito Romano presente no Missal de Paulo VI. O que se pretende a partir das análises feitas é, identificar como a visão e a vivência fragmentada de cada um dos elementos dos Ritos iniciais comprometem a desejada ritualidade dos mesmos e consequentemente em prejuízo para a celebração da eucaristia como um todo.
Por Ritos Iniciais, entenda-se: a) a chegada e o acolhimento das pessoas à porta do templo; 2)O canto de entrada; 3) a procissão até o altar; 4) saudação e beijo do altar; 5) Saudação do presidente da celebração; 6) Ato Penitencial (Kirie eleison); 7) Hino do Glória à Deus; 8) A Oração Coleta. Deseja-se aqui aprofundar a relevância de cada um desses elementos citados acima com um duplo interesse: sua peculiaridade e, sobretudo, a relação e interação que deve ser estabelecida entre esses diferentes elementos como caminho vital a ser percorrido para que aconteça a ritualidade.
A ritualidade será sempre alcançada na medida em que cada uma destas partes for bem entendida e executada não como realidades estanques, mas sim em perfeito diálogo e enquanto elementos que se comunicam no conjunto da celebração enquanto um sistema aberto. O contrário do que se deseja, será sempre ritualismo a repetição fria e alienada dos ritos iniciais, que vistos dessa forma não poderão contribuir para aquilo a que se deseja: “…fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembleia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia.”
2. O Rito: uma realidade poliédrica
Antes de avançarmos na compreensão dos Ritos Iniciais dentro da dinâmica da Celebração eucarística, desejamos refletir, ainda que de maneira breve, sobre a importância do rito e dos rituais na vida do ser humano. De imediato nos deparamos com uma grande dificuldade semântica: quando se fala na palavra rito, um vasto campo de compreensões, sentidos e significados preenchem o seu campo de compreensão, sendo estes muitas vezes diferentes entre si, seja no sentido da palavra ou até mesmo dos diversos componentes que a qualificam. Rito, portanto, é abordado nos mais diferentes campos; podemos citar aqui alguns: teológico, fenomenológico, psicológico, sociológico, etológico, biológico… esta diversidade de abordagens pode ser entendida como diferentes facetas que fazem do rito, enquanto objeto de estudo, uma realidade poliédrica , e o aproxima, portanto, do complexo conceito de cultura. Seguindo essa trilha de pensamento o rito pode ser compreendido mediante círculos concêntricos que se articulam a partir de uma interdisciplinaridade nos mais diversos campos da vida social até poder abraçar o próprio conceito de cultura; essas ondulações designam uma contínua oscilação em sua essência e isto faz com que o rito possa ser compreendido de diversas formas, seja como um conceito, uma praxe, um processo, uma ideologia, uma experiência ou até mesmo uma função. Diante dessas inumeráveis possibilidades de apreensão da palavra rito na vida do ser humano, levanta-se a questão: que caminhos pode-se percorrer para capturar dele o que lhe seja essencial e fundamental?
Uma primeira tentativa de abordagem é nos servirmos da sua antiga etimologia . De acordo com Benveniste
“…rito vem do latim ritus, que indica a ordem estabelecida e, mais atrás, liga-se ao grego artýs, com o significado também de “prescrição, decreto”. Mas a verdadeira raiz antiga e original parece ser a de ar (modo de ser, disposição organizada e harmônica das partes no todo), da qual derivam a palavra sânscrita rta e a iraniana arta, e, em nossas línguas, os termos “arte”, “rito”, “ritual”, família de conceitos intimamente ligada à ideia de harmonia restauradora e a ideia de “terapia” como substitutivo ritual”
Contudo, outros autores justificam que rito pode ter uma raiz indo-européia ri e é desta raiz que encontramos as palavras “escorrer”, “ritmo”, “rima”, “rio”, sugerindo a ideia de um constante e ordenado fluir de palavras que num sentido mais amplo poderia se conectar ao conceito de musica e de água. Stravinsky escreve:
“…a música nada mais é que uma sequência de impulsos convergentes para um ponto final de repouso”.
E Aldo Natale conclui:
“…o mesmo – creio eu – se poderia afirmar do rito entendido como um fluir de movimento e repouso, uma realidade que decompõe o tempo e modula harmoniosamente os registros do nosso agir no mundo.”
Portanto, o rito, de acordo com seu sentido étimo, revela-se como o lugar da ordem social e cósmica, mediante o critério da classificação:
“…o rito coloca ordem, classifica, estabelece as prioridades, dá sentido ao que é importante e do que é secundário. O rito nos permite viver num mundo organizado e não-caótico, permite-nos sentir em casa, num mundo que, do contrário, apresentar-se-ia a nós como hostil, violento, impossível. Se é verdade que o cosmo tem a força de opor-se ao caos, isto se deve ao rito e à sua força organizadora”
Dito isto, podemos deduzir que a realidade do rito tem a força de nos retirar do campo do particular e privado e nos inserir na dinâmica da coletividade. O ser humano é por natureza um ser gregário. A coletividade é um traço antropológico essencial, pois é justamente do jogo intrincado de relações e interações que depende o desenvolvimento e amadurecimento de cada pessoa. Não nascemos para viver sozinhos e isolados, mas sim mergulhados no grande tecido social. É deste tecido que brota O conceito de homo socialis, no qual o ser humano é entendido como um ente sempre motivado, principalmente, pela necessidade de reconhecimento, de participação e de aprovação social nas atividades dos grupos sociais onde está inserido. A sociabilidade humana caracteriza-se por uma convivência do ser humano com seus semelhantes de maneira ordenada e harmônica. Este ordenamento e harmonia somente são possíveis mediante a existência de ritos e rituais. Só é possível falar de rito a partir da compreensão do
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