Os Modelos de Ação Pastoral
Por: lvbento • 5/6/2019 • Resenha • 2.674 Palavras (11 Páginas) • 539 Visualizações
TEOLOGIA PASTORAL
CAPÍTULO 1 - MODELOS DE AÇÃO PASTORAL E MODELOS ECLESIOLÓGICOS
A ação pastoral, ainda que permeada pela graça e sob o dinamismo do Espírito Santo, não deixa de ser uma ação humana, sujeita às contingências de qualquer ação, configurada em determinados “modelos” nas mais diversas épocas e culturas. Subjacente a cada modelo de ação está um modelo eclesiológico. Enquanto instituição divina e humana, por um lado, é santa e, por outro, estampa em cada época um rosto inevitavelmente imperfeito, modificável e reformável. Como estrutura hierofânica, ela tem a missão de transparecer o divino através do humano. É a história do Espírito na história do peregrinar do Povo de Deus. Fundada por Jesus, mas constituída pelo Espírito em Pentecostes.
1. O modelo normativo neotestamentário da tradição apostólica; (elementos essências que devem estar presentes em todo e qualquer modelo, porque foram tecidos sob a inspiração do Espírito Santo)
- A Igreja é apostólica: não há Igreja sem apóstolos ou sem relação com eles. Eles são as testemunhas do Ressuscitado, os primeiros receptores do Espírito e seus dons para o serviço do Evangelho (cf. Mt 28, 19-20; Jo 20, 21-23; Atos 2,14);
- A Igreja é una: sua unidade vem de Deus, que é um só e Trindade. Vem, também, de sua constituição – uma só fé, um só batismo, um só espírito (cf. 1 Cor 1-13);
- É a Igreja da Palavra e dos sinais sacramentais: antes de tudo, a Igreja é Igreja da Palavra anunciada como Evangelho, acolhida e proclamada pelo testemunho e que, pela força do Espírito Santo, atualiza a salvação, sobretudo pelo batismo e a eucaristia (Atos 2, 14-36; 3, 12-26; 4, 8-12);
- A Igreja está regida por uma ordem de carismas e ministérios: no Novo Testamento, não há contraposição ou separação entre carismas que o Espírito confere a todos e ministérios. Não há duas classes de cristãos – clérigos e leigos –, mas uma comunidade toda ministerial, destacando sobretudo o carisma da Palavra (cf. (Jo 3,8; Rm 12, 4-5; 1 Cor 12, 1-31);
- A Igreja é a comunidade dos convertidos e dos que nasceram para a fé: a fé é concebida como acolhida do Evangelho e da vida em Deus, vivida na esperança, na perseverança e na fidelidade até o martírio (cf. 1Jo 2,4; Mt 4,17; 11,12; Lc 16,16);
- A Igreja esta no mundo mas não é deste mundo: ela existe para o mundo em vista do Reino, está no mundo (local), não é do mundo (origem), vem de Deus. A Igreja deve convidar o mundo a transcender-se e plenificar-se no seio da nova criação inaugurada pelo Cristo Ressuscitado (cf. Jo 11,52; 10,16; Hb 13,14; Ef 2, 21-22);
- A Igreja é realidade escatológica: a Igreja vive a tensão entre o “já” e o “ainda não”, já é sinal do Reino, mas será plena na eternidade (cf. Rm 8, 19-22; 1Cor 10,11).
2. Os modelos históricos da trajetória eclesial (sob a assistência do Espírito Santo)
Ao longo da história é possível identificar pelo menos cinco modelos de ação, com seus respectivos modelos eclesiológicos. Nos períodos patrístico e pós-Vaticano II, primeiro vem o modelo de ação pastoral, depois o eclesiológico; nos períodos medieval e moderno, primeiro aparecerá o modelo eclesiológico, sucedido pelo modelo de ação dele decorrente.
2.1. A pastoral profética: A Igreja como mistério da comunhão ( Ecclesia Mater – Igreja mãe). Igreja Antiga, período patrístico (do século II ao início do século VII, no ocidente e século VIII no Oriente).
modelo de ação: Na Igreja antiga três ações principais ocupavam a vida dos cristãos: testemunho de vida (martyría); proclamação da fé em Jesus Cristo (kerigma); ensinamento da Palavra de Deus (didaskalia).
A ação pastoral está centrada no testemunho (o batizado passava a fazer parte da “comunidade dos santos”, quem tem a eucaristia como expressão mais viva da nova vida), no anúncio e ensino feito pela pregação missionária, pela homilia e pela catequese (catecumenato) e pelas “escolas de teologia” (Alexandria e Antioquia), neste período, a reflexão teológica é basicamente bíblica. No início deste período a Igreja é toda ministerial: episcopos, presbíteros, profetas, doutores, guias, evangelistas, responsáveis. Depois, com a perseguição romana também tornou importante a reconciliação e penitência para os que renegaram a fé, há também resistência por parte dos cristãos para com as estruturas pagãs e opressoras do Império Romano.
modelo eclesial: uma igreja (ecclesia/assembléia) em cada cidade, unida em torno de uma celebração eucarística dominical e reunida ao redor de um colégio de presbíteros, composta principalmente por pessoas das periferias. Mais tarde no Egito, foram criadas as primeiras comunidades rurais; há uma única categoria de cristãos (os batizados e os catecúmenos ainda se prepararam para sê-lo). A partir do século III se impõe a tríade bispos-presbíteros-diáconos e com isso surge o termo leigo, distinguindo-o do clero. Há uma Igreja toda ministerial, na qual os leigos guardam e administram a eucaristia, exercem o ministério da educação na fé, participam da eleição dos bispos e presbíteros, bem como administram bens eclesiásticos. A Igreja é local, povo escatológico de Deus, povo de discípulos, irmãos, “chamados”, “santos”. É pneumatológica, é assembléia convocada por Deus, é denominada mãe (esposa de Jesus Cristo e mistério de comunhão), sem triunfalismo é “pequena grei” diante de um mundo pagão, que persegue e martiriza.
2.2. A pastoral sacramental: A Igreja como corpo de Cristo (Mater Regina) do século VIII ao XV; com raízes do giro constantiniano do século IV (o eclesial, o imperial e o geográfico passariam a tecer laços que configurariam o modelo eclesial da cristandade medieval) e no agostinismo do século V (intervenção do Estado na Igreja e Igreja dando suporte ideológico para o Estado).
modelo eclesial: É o modelo denominado cristandade com a conjugação de dois poderes – o sacerdotium (altar) e o imperium (trono), sendo que a autoridade máxima reside no Romano Pontífice, os bispos tornam-se supremos funcionários do Estado. O Papa adquire um perfil imperial, o povo de Deus se converte em povo cristão, o inimigo não é o mal espiritual, mas o inimigo do império, o não cristão é um inimigo político. A cruz, sinal teológico da redenção, converte-se em sinal de vitória militar e insígnia imperial oficial. Igreja “Corpus Christi”, não como referência à realidade misteriosa, mas como soberania e poder espiritual da Igreja sobre a humanidade, como uma sociedade do poder. O poder de Cristo Rei, passado para a hierarquia eclesial, não há lugar para o Espírito Santo.
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