TESTEMUNHAS DE JEOVÁ: Uma Cultura Etnocêntrica.

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ:

Uma Cultura Etnocêntrica.

Introdução:

O ensaio apresentado tem como objetivo fazer uma análise da religião e como ela influencia a visão de mundo de seus adeptos. A etnografia tem como base a crença das testemunhas de Jeová, onde o seu eixo principal de estudo foi pesquisado desde sua origem até a atualidade. O ponto central são questionamentos diversos, dentre os quais citamos: - como seus fundadores conseguiram angariar tantos seguidores e se expandir por vários continentes? - qual sua base teórica, seus dogmas? - a que é atribuído o peculiar comportamento de seus membros? Tais questionamentos surgem da constatação de diversas críticas dirigidas ao sistema organizacional religioso, por tratar-se de um sistema estritamente fechado e excludente. Seu principal mandamento é seguir as escrituras sagradas na íntegra, mesmo que paralelamente haja outras interpretações.

A religião Testemunhas de Jeová foi fundada por Charles Taze Russel, nascido na Pensilvânia em 1852. De origem presbiteriana, passou pela igreja Congregacional e se tornou membro da nova seita. Tomando o seu próprio caminho, começou a fazer estudos bíblicos semanais com um grupo composto, inclusive, de pessoas de outras igrejas evangélicas. Logo começou a discordar de muitos pontos doutrinários dos adventistas e, em 1872, reunindo alguns simpatizantes de suas idéias, começou a organizar o movimento que hoje é conhecido como "Testemunhas de Jeová".

As Testemunhas de Jeová estão presentes em quase todos os países e territórios do mundo e é conhecida pelo seu trabalho regular e persistente de evangelização de casa em casa e nas ruas. Sua interpretação peculiar da Bíblia gera polêmicas. A versão impressa que norteia a prática religiosa é editada exclusivamente pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, gráfica pertencente a organização que abriga a seita religiosa. O objetivo primordial da evangelização é conscientizar as pessoas a tornarem-se associados de sua congregação. Adoram exclusivamente a Jeová e consideram-se seguidores de Jesus Cristo. Acreditam que sua religião é a restauração do verdadeiro cristianismo.

Segundo os estudos antropológicos de Geertz, “a dimensão cultural de uma religião, reflete um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio dos quais os homens se comunicam , perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação a vida” (pag,103). De acordo com o autor, o estudo da religião não deve ser analisado separado da cultura, devido a existência de uma inter-relação entre estes dois aspectos. Através da análise do autor, compreende-se que a prática religiosa, o estilo de vida de um grupo torna-se aceitável pelo fato de não ser encontradas explicações plausíveis para determinados fenômenos. Assim a religião funciona como forma de adaptar o indivíduo a realidade presente.

Comemoração da morte de cristo (memorial)

Em 2011, 19.374.737 pessoas assistiram à Comemoração da Morte de Cristo. Está é a única data religiosa que eles comemoram e é denominada memorial, pois relembram a última ceia de Jesus com seus apóstolos. Tal comemoração é realizada uma vez por ano na Páscoa e sua data é determinada pelo calendário judaico. O acontecimento é permeado por rituais simbólicos, onde após uma oração proferida apenas pelo membro superior da organização, denominado Ancião, uma espécie de pão não fermentado e um vinho tinto é passado de mãos em mãos. Esse ato é praticado por todos os fiéis que desejam viver aqui na terra quando esta se tornar um paraíso. Apenas um número limitado de 144.000 pessoas que participam dessa reunião podem comer o pão e beber o vinho. Estes são os “escolhidos” para ir ao céu e estar junto de Jesus.

“O homem tem uma dependência tão grande em relação aos símbolos e sistemas simbólicos a ponto de serem eles decisivos para sua viabilidade como criatura e, em função disso, sua sensibilidade á indicação até mesmo mais remota de que eles são capazes de enfrentar um ou outro aspecto da experiência provoca nele a mais grave ansiedade”. (GEERTZ,pag,114).

Para o autor, a definição de uma religião consiste em um sistema de símbolos e que atua nas relações e motivações nos homens através de conceitos. Os símbolos religiosos estabelecem um harmonia fundamental entre um estilo de vida especifico e a visão de mundo.

As Testemunhas de Jeová são bem conhecidas por sua regularidade e persistência na obra de evangelização de casa em casa e nas ruas. Considera-se membro efetivo quem já estudou a Bíblia por algum tempo com as Testemunhas de Jeová. E evidenciar claro entendimento das crenças, tendo demonstrado viver segundo as normas de conduta moral aprendida e participado na obra de pregação pública. Para se tornar um membro é preciso ser batizado na água por imersão. Tem que ter conhecimento da doutrina é feito uma avaliação prévia, para comprovar sua aptidão para tornar-se um membro efetivo da congregação.

Na sequência, o aspirante faz um juramento e segue para a piscina onde é sacramentado o batismo de imersão em água, dirigido sempre por um ancião. Como o membro efetivo, os adeptos tem que prestar um relatório mensal significativo de horas utilizadas pregando as boas novas de porta em porta ou outro meio similar.

“O ritual permite, assim, concentrar a atenção, na medida em que fornece um quadro, estimula a memória e liga o presente a um passado pertinente. Facilita, deste modo, a percepção. Ou antes, transforma-a porque modifica os princípios de seleção. Não basta, pois, dizer que os ritos nos ajudam a viver com mais intensidade uma experiência que teríamos vivido de qualquer maneira.” (DOUGLAS, M., p. 81) Cotidianamente utilizamos o termo ritual para nos referirmos a momentos formais e religiosos. Os rituais realizados sequencialmente nos dão a sensação da existência de certa coesão social e, de algum modo, eles possuem um caráter organizativo da vida social. Os ritos criam uma realidade que sem eles não existiria. O ritual permite estimular a sensibilidade necessária para que sejam desempenhados os papéis que lhes são atribuídos. Por intermédio dos nossos ritos, criamos muitos pequenos mundos