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O Turismo e Patrimônio

Por:   •  17/5/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.743 Palavras (7 Páginas)  •  309 Visualizações

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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

AVALIAÇÃO À DISTÂNCIA – AD2

Disciplina: Turismo e Patrimônio

Coordenador: Euler David de Siqueira

Aluna : Grace Nunes da Silva Reis

Curso : TGT

Polo : Duque de Caxias

1 – De que forma a noção de Fato Social Total, de Marcel Mauss, permite pensar a clássica divisão do patrimônio como material e imaterial? Dê exemplos. (4 pontos)

A distinção entre patrimônio material e imaterial não se trata de uma matéria pacífica.

O impacto do turismo tem sido cada vez mais estudado, e seu maior estímulo é econômico, pois o dinheiro trazido pelo turista gera um incremento na economia local mediante um efeito multiplicador. Os resultados econômicos do turismo se dão sobre as indústrias de ofícios locais. A jornada turística envolve os “souvenires” que são parte das “memórias de experiência” e são materializadas enquanto evidências tangíveis da viagem que o turista empreendeu e divide com a família e sua comunidade de relacionamento ao retornar ao seu local de origem. Os turistas levam uma bagagem acumulada em suas histórias de vida.

No Brasil esse processo responde a situações variadas. Certamente, uma delas diz respeito ao fato de que grupos sociais antes não reconhecidos como importantes à fundação da matriz cultural brasileira ganharam visibilidade nas últimas décadas, cujo artigo 216 declara que o patrimônio cultural brasileiro é constituído de bens de natureza material e imaterial. Pela primeira vez os Quilombos são reconhecidos através do tombamento de documentos e dos lugares fato que possibilitará mais tarde à construção das identidades quilombolas como base no fator étnico. Outro decreto importante  instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Acredito que foi todo esse quadro que possibilitou um ambiente favorável à instalação de demandas de reconhecimento e valorização do patrimônio imaterial, sobretudo. Ao invés de casarões coloniais e igrejas barrocas típicas das cidades mineiras, os novos e inusitados patrimônios, sobretudo de ordem imaterial, colocam em evidencia novas representações, grupos, territórios, sujeitos, identidades e memórias. Os novos patrimônios, materiais ou imateriais, datam, sobretudo, do começo dos anos 2000 e agrupam manifestações diversas como: a torcida do Flamengo, o ofício de fotógrafo de rua mais conhecido como lambe-lambe, a Capoeira, o Samba, o Jongo, os poemas do profeta Gentileza, o ofício de vendedor ambulante de mate, limonada e biscoito de polvilho praias do Rio de Janeiro , a feijoada carioca, a Cachaça, a Caipirinha, o sanduíche Bauru, o Empadão Goiano, a voz da narradora oficial do aeroporto do Galeão, Iris Lettieri, a feira Hippie de Ipanema, o Tatuí, rosquinha produzida há mais de cem anos em Conceição de Macabu, no Rio de Janeiro; o Funk carioca, a Serra das Cervejas em Petrópolis, Bloco Cordão do Bola Preta, Escadaria Selaron, na Lapa, centro do Rio, Sambódromo, Estatua de Martinho da Vila, além de outros. No Brasil também assistimos ao crescente uso do instrumento do tombamento ou do registro de elementos que apontam também à ideia de autenticidade, como é o caso do ofício das baianas do Acarajé ou das paneleiras de goiabeiras, no Espírito Santo ou ainda do modo artesanal e tradicional de fazer o queijo do Serro ou da Serra da 5 Canastra em Minas Gerais.    Nesse sentido Marcel Mauss declarava que “uma colher nos ensina tanto quanto uma máscara”. Mas, progressivamente, um desinteresse apareceu para com os objetos com ganhos de outras manifestações do real. Ao definir a sociedade como um “fato social total”, Mauss compreendeu que a vida social é essencialmente um sistema de prestações e contra prestações que obriga a todos os membros da comunidade. Mas entendeu, também, que essa obrigação não é absoluta na medida em que, na experiência concreta das práticas sociais, os membros da coletividade têm uma certa liberdade para entrar ou sair do sistema de obrigações – mesmo que isto possa significar a passagem da paz para a guerra. Como fenômeno social total, Mauss denomina os tipos de fatos sociais nos quais são expressas a riqueza e a variedade das instituições religiosas, jurídicas, morais, políticas, familiares, econômicas, estéticas e morfológicas; ou seja, diferentes domínios da vida social são agenciados: a sociedade funciona de modo sistemático nele.

2 – Discuta em que medida a feijoada, prato considerado um signo da identidade nacional, é reivindicado como elemento da identidade regional carioca. Discuta também em que medida a ideia de autenticidade é relativizada nesse texto. (3 pontos)

Muito mais que um ato biológico, a alimentação humana é um ato social e cultural. Mais que um elemento da chamada "cultura material", a alimentação implica representações e imaginários, envolve escolhas, classificações, símbolos que organizam as diversas visões de mundo no tempo e no espaço. Vendo a alimentação humana como um aro cultural, é possível pensá-la como um "sistema simbólico" no qual estão presentes códigos sociais que operam no estabelecimento de relações dos homens entre si e com a natureza.

Tratando de cozinhas como de identidades, podemos dizer que "Diga-me o que comes e te direi de onde vens". Indo mais longe, podemos afirmar:  "Diga-me o que comes e te direi qual Deus adoras, qual grupo social te incluie. “  

Não há a menor dúvida de que diferentes povos foram importantes para formar o que hoje é o Brasil. Mas esta afirmação é um ponto de partida, e não de chegada. Pensar no Brasil é pensar em diversidade. O problema está na maneira como a diversidade é percebida e utilizada. Converter a participação dos povos fundadores em "vestígios", é uma ação redutora que ignora o processo histórico em que se deu essa participação, processo este que envolveu desigualdades, conflitos, discriminações e hierarquizações.

O que se chama hoje de "cozinha brasileira" é o resultado de um processo histórico, o qual traz em si elementos das mais diversas procedências que aqui foram modificados, mesclados e adaptados. Não é possível pensar em uma "cozinha brasileira" sem pensar em uma miscigenação.

E frequente a afirmação de que "os negros trouxeram" tal e tal coisa, como se dentro dos navios negreiros fosse possível trazer uma bagagem. Trazidas como? O escravo não conduzia bagagem e sua alimentação era diariamente fornecida no navio e no mercado até ser vendido. Trazia sementes? . Plantas? Sucumbiriam pela falta d'água.

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