OS IMPACTOS EM LONDRES DURANTE E APÓS OS JOGOS OLIMPICOS
Por: Viviane Amaral • 13/1/2016 • Trabalho acadêmico • 2.224 Palavras (9 Páginas) • 517 Visualizações
OS IMPACTOS EM LONDRES DURANTE E APÓS OS JOGOS OLIMPICOS
A Olimpíada de Londres do ano passado foi vista como um grande sucesso. Desde as cerimônias de abertura e fechamento de Danny Boyle até a tranquila organização dos jogos, o evento parecia representar um modelo de hospedagem de um mega evento, e apesar das reclamações do público britânico sobre os altos custos, e questionamento de sua utilidade para o país no decorrer até o acontecimento dos jogos, o país foi varrido por uma onda de orgulho nacional quando os jogos chegaram e passaram.
Mas e os impactos locais e o legado das Olimpíadas no Leste de Londres, o principal cenário dos jogos de 2012 e o Parque Olímpico?
Historicamente, o East End de Londres tem sido o lado mais pobre da cidade. No século XIX, a população de Londres cresceu rapidamente e o leste da capital ficou caracterizada pela concentração dos pobres urbanos e imigrantes que levou a criação de uma superpopulação e a criação de favelas muito precárias. As docas no Rio Thames e as indústrias de construção de navios dominaram a economia e foram grande empregadoras na região nesta época, o ápice do império inglês com comodities chegando das colônias de todas as partes do mundo. O caráter áspero da indústria do Leste de Londres prevaleceu mesmo depois da queda do império inglês e as docas declinaram na segunda metade do século XX, enquanto a área continuou sendo uma das mais pobres do país, casa para uma diversa mistura de imigrantes e comunidades britânicas de brancos.
A imagem do East End de Londres como um sinônimo de pobreza e precariedade tem sido explorada por empreiteiras nos últimos anos para implementar projetos agressivos de desenvolvimento urbano por empresas privadas, começando com a Canary Wharf nos anos 80. Para muitos comentaristas e ativistas locais, as Olimpíadas são a maior e mais recente oportunidade de especulação imobiliária num processo de gentrificação que está redesenhando o East End, expulsando as populações tradicionais da região.
As Olimpíadas, que apresentam uma enorme oportunidade para a reconstrução de uma grande área, são um veículo fundamental para este tipo de modelo, em que os pobres são expulsos ou deslocados. Um relatório publicado em 2007 pelo Centro de Direitos de Moradia e Expulsão financiado pelas Nações Unidas (COHRE) concluiu que, entre 1988 e 2008, as Olimpíadas têm deslocado mais de dois milhões de pessoas ao redor do mundo e são uma das principais causas da inflação imobiliária.
Em uma matéria para a revista Cease em abril de 2012, geógrafo econômico Ashok Kumar afirmou que essa é a verdadeira razão para as cidades licitaram para sediar as Olimpíadas, dizendo: “Qualquer leitura da história Olímpica revela os verdadeiros motivos de cada cidade hospedeira. É a necessidade de chocar, para acelerar a desapropriação dos pobres e marginalizados, como parte das maiores maquinações de acumulação de capital. Os arquitetos deste plano precisam de um show espetacular, um dispositivo hegemônico para reconfigurar os direitos, as relações espaciais e auto-determinação da classe trabalhadora da cidade, para reconstituir para quem e para que finalidade a cidade existe. Ao contrário de qualquer outro evento, só as Olimpíadas fornecem esse tipo de oportunidade.”
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Desde a escolha de Londres como cidade sede dos Jogos Olímpicos tem se falado muito sobre os benefícios das Olimpíadas para os habitantes da cidade.
O governo argumenta que as verbas foram investidas em construções que, segundo eles, poderão ser usufruídas após o término das Olimpíadas. Além da revitalização dessa área que antes era precária, um lugar esquecido da cidade. Já os moradores de Stratford contra-argumentam que antigos colegas de bairro foram obrigados a se mudar da região, para que suas casas fossem destruídas e dessem lugar ao Parque Olímpico. Para isso eles até chegaram a receber uma compensação financeira, mas muito abaixo do esperado segundo alguns moradores da região.
Representantes do governo dizem que os projetos arquitetônicos já melhoraram bastante a imagem do leste de Londres e os moradores serão beneficiados pelo subsídio do governo, empregados nos prédios da Vila Olímpica, que serão vendidos bem mais baratos em relação aos outros prédios da cidade. As Olimpíadas gerarão 13 bilhões de libras. Este valor será o lucro em relação aos 9 bilhões de libras investidas nos Jogos, devido principalmente ao turismo. Já economistas acreditam que as Olimpíadas trarão um significativo impulso no turismo a curto prazo para a economia, atrelada a um acréscimo de 0,3% no PIB do Reino Unido.
Outro fator que pôs em cheque a realização dos Jogos pelos londrinos é a questão da segurança. Desde a escolha de Londres como sede das Olimpíadas nesse ano e dos atentados sofridos na semana seguinte, o governo britânico colocou a segurança como prioridade. Entre as medidas está a instalação de mísseis espalhados por telhados da cidade. Escolhidos entre 6 endereços estratégicos, tipos diferentes de mísseis foram instalados nos topos de edifícios, sem o a autorização ou consulta prévia dos moradores. Claro que ninguém gosta de dormir em seu “lar, doce lar”, sabendo que existem bombas bem acima de suas cabeças. Por isso, houve uma tentativa de ação na justiça por parte desses cidadãos, mas o governo ganhou o direito dos mísseis.
A ECONOMIA DOS JOGOS OLÍMPICOS E OS ERROS DO GOVERNO BRITÂNICO
O primeiro ministro David Cameron disse que os Jogos aportariam cerca de 13 bilhões de libras à economia, mas os próprios erros do governo conspiraram contra este impacto. O prefeito de Londres, Boris Jonson, lançou uma campanha pedindo que os ingleses evitassem o centro durante os Jogos. O resultado foi que a zona central se converteu em uma cidade fantasma. Restaurantes e teatros vazios, ruas sem muita gente, queda das vendas do comércio.
O otimismo desportivo que se respira nas ruas de Londres é palpável, mas os números são muito mais decisivos. No último trimestre a economia caiu 0,7%, aprofundando a tendência marcada pelos trimestres anteriores (menos 0,4% e menos 0,3%). O poder aquisitivo dos britânicos – capturado pela pinça de um estancamento salarial devorado pela inflação – sofreu nos últimos três anos a pior queda desde os 70. O primeiro ministro David Cameron disse que os Jogos aportariam cerca de 13 bilhões de libras à economia, mas os próprios erros do governo conspiraram contra este impacto positivo.
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