A Literatura De Cordel Como Elemento De Resgate E Preservação Da Memória Coletiva Do Povo Nordestino
Por: Dâmares Carla • 10/7/2023 • Trabalho acadêmico • 4.687 Palavras (19 Páginas) • 93 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - ICHS
DEPARTAMENTO DE LETRAS - DELET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: ESTUDOS DA LINGUAGEM
A LITERATURA DE CORDEL COMO ELEMENTO DE RESGATE E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA DO POVO NORDESTINO
DÂMARES CARLA DA SILVA
NOVEMBRO/2018
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 2
2. OBJETIVOS 5
2.1 Objetivo geral 5
3. JUSTIFICATIVA 5
4. DISCUSSÃO TEÓRICA 7
4.1 Aspectos históricos da literatura de cordel no Brasil 7
4.2 Memória e identidade na poesia popular nordestina 9
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 12
6. CRONOGRAMA 14
REFERÊNCIAS 15
ANEXO 1 – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 16
1. INTRODUÇÃO
Os folhetos de cordel, desde o surgimento desta manifestação literária no Brasil, costumam apresentar temáticas que circundam o cotidiano e o imaginário do povo nordestino, remontando cenas de um passado em que as relações sociais, as organizações políticas, econômicas e as múltiplas tradições religiosas eram aspectos unificadores dos processos de construção da identidade regional.
O avanço tecnológico, a facilidade de acesso à informação através de meios de comunicação de massa e as transformações espaciais ocorridas em função do observável desenvolvimento econômico do Nordeste alterou de modo significativo as formas de interação social, os processos de construção e armazenamento de memórias e as representações coletivas nesta região. Nesse contexto, a literatura de cordel mostra-se um importante instrumento de preservação das memórias construídas social e coletivamente, mantendo-se presente no cenário cultural nordestino, estendendo-se a outras regiões do país e adentrando os espaços educativos formais e não formais.
Embora em outros estudos já realizados seja recorrente o protesto dos poetas mais tradicionais contra a velocidade de informações das mídias digitais, o que, para eles, tem atrapalhado a continuidade da difusão do cordel, não se pode negar que as novas mídias têm contribuído também para a expansão dessa literatura, que aos poucos tem conquistado espaço na imprensa nacional e na internet, por meio de redes sociais, sites, blogs e canais no Youtube. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel, por exemplo, mantém páginas nas redes sociais e um site onde disponibiliza informações sobre eventos relacionados à literatura de cordel, como lançamentos e publicações, além de arquivos de cordéis digitalizados. Desse modo, é possível entender que a tradição não é amortecida pelo avanço dos meios de comunicação midiáticos, mas pode ser adaptada por eles.
Entendendo o papel que este gênero literário desempenha nos processos de construção e reconstrução da identidade do povo nordestino, bem como no fenômeno de manutenção e ressignificação de memórias, proponho um estudo acerca dos elementos de resgate e preservação de memórias coletivas em 12 cordéis escritos por 6 poetas e poetisas da região Agreste do estado de Pernambuco, membros da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel.
O interesse por discutir aspectos da literatura popular nordestina é algo que me acompanha desde o meu ingresso no curso de graduação em Pedagogia, na Universidade Federal de Pernambuco, no campus de Caruaru, Agreste de Pernambuco. Ao contrário do que se pode imaginar, não foi o trabalho com a temática em grupos de estudo ou a participação em projetos sobre cordel o que despertou o interesse por adotar os folhetos como objeto de estudo. Pelo contrário. Perceber a ausência da literatura, sobretudo a popular nordestina, em um curso de formação de professores para o ensino básico foi o gatilho que despertou em mim o sentimento de urgência em trazer o cordel para uma posição de destaque no âmbito dos estudos acadêmicos, no momento em que esta literatura tem perdido espaço em seu próprio território.
Anterior à escolha de adotar o cordel em um trabalho de pesquisa, a minha ligação com os folhetos começa ainda na adolescência, no ano de 2006, quando cursava o 9º ano do ensino fundamental, não sabia o que era pesquisa científica e tinha quase certeza de que jamais poderia ingressar no ensino superior. No mês de agosto do referido ano, visitei, junto com a turma e a professora de Língua Portuguesa, o Museu do Cordel Olegário Fernandes, localizado no meio da feira livre de Caruaru. Na ocasião, a turma foi recebida por dois poetas de gerações distintas (Jénerson Alves, na época com 19 anos de idade e estudante de jornalismo e Paulo Pereira, 65 anos, alfabetizando do Programa Brasil Alfabetizado). Houve declamação de poemas, uma peleja improvisada entre os dois poetas e uma exposição sobre o processo rudimentar de confecção dos folhetos e das xilogravuras (espécie de carimbos de madeira que servem para ilustrar as capas dos cordéis).
Na semana seguinte, participei de uma oficina de literatura de cordel na escola, onde aprendi as normas estruturais para a escrita dos versos e escrevi o meu primeiro poema: uma adaptação da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos. A partir daí, passei a frequentar o museu do cordel para conversar com poetas e comprar os folhetos. Também passei a ouvir com assiduidade um programa de uma rádio local (Cultura AM) onde cordelistas declamavam seus poemas. Como esse era um meio majoritariamente masculino, não havendo na cidade nenhuma poetisa naquela época, não era comum a presença de mulheres nos raros festivais de declamação e recitais de cordel. Desse modo, precisei desenvolver estratégias para burlar a vigilância dos meus pais e estar presente nesses eventos. Mais tarde, em 2008, fui convidada pelo extinto Jornal Extra de Pernambuco a participar da edição especial de fim de ano, apresentando, dentro da estrutura poética da literatura de cordel, uma retrospectiva dos fatos mais marcantes do ano. Essas experiências me levaram a reconhecer o valor histórico e cultural da literatura de cordel no meu estado e favoreceram o interesse por me ajuntar a outros pesquisadores que adotam a literatura de cordel como seu objeto de estudo.
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