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A característica fundamental do naturalismo na novela "O Cortiço"

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Por:   •  13/8/2014  •  Resenha  •  8.497 Palavras (34 Páginas)  •  837 Visualizações

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questões

O Cortiço

Aluísio Azevedo

    Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca: achava-se casada havia treze anos e durante esse tempo dera ao marido toda sorte de desgostos. Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera, uns oitenta contos em prédios e ações da divida publica, de que se utilizava o desgraçado tanto quanto lhe permitia o regime dotal. Além de que, um rompimento brusco seria obra para escândalo, e, segundo a sua opinião, qualquer escândalo doméstico ficava muito mal a um negociante de certa ordem.

(Trecho da obra “O Cortiço”)

    E foi uma dessas tardes, em que o meu Príncipe assim procurava desesperadamente um “bocado de frescura e paz”, que encontramos, ao meio da escadaria suave, entre as palmeiras, o marido de Madame de Oriol. Eu já o conhecia – porque Jacinto mo mostrara uma noite, no Grand Café, ceando com dançarinas do Moulin Rouge. Era um moço gordalhufo, indolente, de uma brancura crua de toucinho, com uma calvície já séria e já lustrosa, constantemente acariciada pelos seus gordos dedos carregados de anéis. Nessa tarde, porém, vinha vermelho, todo emocionado, calçando as luvas com cólera. Estacou diante de Jacinto – e sem mesmo lhe apertar a mão, atirando um gesto para o patamar:

    – Visita lá acima? Vai achar a Joana em péssima disposição... Tivemos uma cena, e tremenda.

    Deu outro puxão desesperado à luva cor de palha, já esgaçada:

    – Estamos separados, cada um vive como lhe apetece, é excelente! Mas em tudo há medida e forma... Ela tem o meu nome, não posso consentir que em Paris, com conhecimento de todo o Paris, seja a amante do trintanário. Amantes da nossa roda, vá! Um lacaio, não!... Se quer dormir com os criados que emigre para o fundo da província, para a sua casa de Corbelle. E lá até com os animais!... Foi o que lhe disse! Ficou como uma fera.

    Sacudiu então a mão de Jacinto que “era da sua roda” – rebolou pela escadaria florida e nobre. O meu Príncipe, imóvel nos degraus, de face pendida, cofiava lentamente os fios pendidos do bigode.

TRINTANÁRIO – lacaio que nas carruagens se assentava ao lado do cocheiro, e que tinha a obrigação de abrir e fechar a portinhola, levar recados etc.

(Trecho da obra “A cidade e as serras”)

1. Observando as reações do marido da Madame de Oriol e o do Miranda, em qual dos dois casos a avaliação social é tão predominante que consegue conter os ímpetos pessoais? Explique sua resposta.

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2. Considerando o comportamento das personagens Madame de Oriol e Dona Estela, como se mostra a ausência de um código moral?

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3. Madame de Oriol se entregava sexualmente a trintanários e Dona Estela a caixeiros (vendedores da loja do Miranda). O Sr. de Oriol e o Miranda demonstravam pequena preocupação com o adultério e grande com a condição social dos amantes. O caráter dessas preocupações do Miranda e do Sr. de Oriol tem fundamentação racional ou sentimental? São próprias de obras literárias românticas ou realistas? Personagens movidos por sentimentos conseguem demonstrar pequena preocupação com o adultério? Relacione os caracteres dos personagens Miranda e Sr. de Oriol ao perfil das obras “A cidade e as serras” e “O Cortiço”.

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    João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar‑se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.

    Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou‑se à labutação ainda com mais ardor, possuindo‑se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava‑lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.

    Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil‑réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua,

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