ASIM É A VIDA
Resenha: ASIM É A VIDA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: naldoddo • 19/3/2014 • Resenha • 1.710 Palavras (7 Páginas) • 155 Visualizações
Currículo, gênero e sexualidade —
refletindo sobre o "normal", o "diferente" e o "excêntrico"
Guacira Lopes Louro
Resumo:
Na contemporaneidade, "novas" identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de
ser homogênea e monolítica, é complexa, múltipla, desarmoniosa, descontínua. Um novo
movimento político e teórico se pôs em ação, nas últimas décadas, e nele as noções de centro, de
margem e de fronteira passaram a ser questionadas. O presente artigo assume essa perspectiva para
analisar a constituição de diferenças e identidades de gênero e sexuais e, mais especificamente, as
formas como esse processo vem se expressando no campo do currículo. Destaca as estratégias
públicas e privadas que são postas em ação, cotidianamente, para garantir a estabilidade da identidade
"normal" e de todas as formas culturais a ela associadas; bem como as estratégias que são mobilizadas
para marcar as identidades "diferentes" e, ainda, aquelas que buscam superar o medo e a atração
provocados pelas identidades "excêntricas".
Palavras-chave: identidades de gênero e identidades sexuais; normal, diferente e excêntrico.
Nós, educadoras e educadores, geralmente nos sentimos pouco à vontade quando somos
confrontados com as idéias de provisoriedade, precariedade, incerteza — tão recorrentes nos
discursos contemporâneos. Preferimos contar com referências seguras, direções claras, metas sólidas
e inequívocas. Apesar disso, hoje são poucos os que se atrevem a negar que a instabilidade e a
transitoriedade se transformaram em "marcas" do nosso tempo. Já não é mais possível desprezar tais
afirmações como se elas se constituíssem numa ladainha rezada por intelectuais pós-modernistas,
uma espécie de mantra que tem o poder de desmobilizar e que, por isso, deve ser exorcizada do
campo educacional. De formas muito concretas, temos sido lançados a situações absolutamente
imprevisíveis, algumas trágicas, outras fascinantes, quase todas inexplicáveis. Mais do que nunca nos
percebemos vulneráveis, sem qualquer preparo para enfrentar os choques e os desafios que aparecem
de toda parte.
Que fazer? A muitos talvez pareça mais prudente buscar no passado algumas certezas,
algum ponto de estabilidade capaz de dar um sentido mais permanente e universal à ação. O ritmo e
o caráter das transformações podem, contudo, converter esse recuo em imobilidade. Para outros —
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e aqui pretendo me incluir — a opção é assumir os riscos e a precariedade, admitir os
paradoxos, as dúvidas, as contradições e, sem pretender lhes dar uma solução definitiva, ensaiar, em
vez disso, respostas provisórias, múltiplas, localizadas. Reconhecer, como querem os/as pósmodernistas,
que é possível questionar todas as certezas sem que isso signifique a paralisia do
pensamento, mas, ao contrário, se constitua em fonte de energia intelectual e política.
Este ambiente de transformações aceleradas e plurais, que hoje vivemos, parece ter se
intensificado desde a década de 1960, possibilitado por um conjunto de condições e levado a efeito
por uma série de grupos sociais tradicionalmente submetidos e silenciados. As vozes desses sujeitos
faziam-se ouvir a partir de posições desvalorizadas e ignoradas; elas ecoavam a partir das margens da
cultura e, com destemor, perturbavam o centro. Uma outra política passava a acontecer, uma
política que se fazia no plural, já que era — e é — protagonizada por vários grupos que se
reconhecem e se organizam, coletivamente, em torno de identidades culturais de gênero, de raça, de
sexualidade, de etnia. O centro, materializado pela cultura e pela existência do homem branco
ocidental, heterossexual e de classe média, passa a ser desafiado e contestado. Portanto, muito mais
do que um sujeito, o que passa a ser questionado é toda uma noção de cultura, ciência, arte, ética,
estética, educação que, associada a esta identidade, vem usufruindo, ao longo dos tempos, de um
modo praticamente inabalável, a posição privilegiada em torno da qual tudo mais gravita.
"Novas" identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de ser
homogênea e monolítica, é, de fato, complexa, múltipla, desarmoniosa, descontínua. Muitos
afirmam, com evidente desconforto, que essas novas identidades "ex-cêntricas" passaram não só a
ganhar importância nestes tempos pós-modernos, como, mais do que isso, passaram a se constituir
no novo centro das atenções. Não há como negar que um outro movimento político e teórico se
pôs em ação, e nele as noções de centro, de margem e de fronteira passaram a ser questionadas. É
preciso, no entanto, evitar o reducionismo teórico e político que apenas transforma
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