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DA DIDÁTICA FUNDAMENTAL AO FUNDAMENTAL DA DIDÁTICA

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Por:   •  9/10/2014  •  7.516 Palavras (31 Páginas)  •  1.828 Visualizações

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DA DIDÁTICA FUNDAMENTAL AO FUNDAMENTAL DA DIDÁTICA

Vera Maria Candau

Em 1982 escrevi um texto, "A didática e a formação de professo¬res - Da exaltação à negação: A busca da relevância" (apud Candau 1996a) que teve grande repercussão e, até hoje, é freqüentemente citado na produção acadêmica da área de Didática. Esse texto expressava a motivação básica que deu origem à organização do Seminário "A Didá¬tica em questão" (PUC-Rio 16 a 19 de novembro de 1982): realizar uma revisão crítica do ensino e da pesquisa em Didática, tal como esta área de conhecimento se vinha configurando até então.

Esse seminário está na origem de um amplo movimento de revi¬são da Didática, mais tarde assumido pelos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (Endipe), o oitavo dos quais foi recente¬mente realizado (maio 1996) em Florianópolis. A articulação entre esses encontros e o grupo de trabalho de Didática da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) tem favorecido uma intensa mobilização da produção científica da área.

Passaram-se quase 15 anos. A partir dos anos 80 a reflexão acadêmica em Didática no Brasil tem sido especialmente fértil. Viveu um período de ruptura de paradigmas, de buscas, de desconstrução e reconstrução. A produção ampliou-se, diversificou-se, multiplicou-se e adquiriu maior consistência teórica e relevância social. Creio poder afirmar, como quem não somente tem sido um dos atores do processo vivido mas também tem sistematicamente levantado e analisado artigos, livros, dissertações, teses, comunicações etc. apresentados e publicados, que houve um salto qualitativo nos estudos, nas pesquisas e nos traba¬lhos realizados em Didática no nosso país na década de 1980. Esta afirmação é compatível com o reconhecimento da grande heterogenei¬dade, assim como da diversidade de enfoques e perspectivas da produ¬ção da área nesse período. Várias têm sido as publicações que tentam sintetizar o caminho percorrido. Destaque especial merece o trabalho de Maria Rita Neto Sales Oliveira, apresentado primeiramente em 1991 como uma das exigências do concurso de professor titular na UFMG e, no ano seguinte, transformado em livro com o título A reconstrução da didática: Elementos teórico-metodológicos (Oliveira 1992).

Os anos 90 inauguram uma nova etapa na vida da sociedade brasileira, assim como da educação. A hegemonia do projeto neoliberal consolida-se no contexto internacional e nacional, acentuam-se e multi¬plicam-se as formas de exclusão social e cultural, o impacto da globali¬zação econômica e da mundialização da cultura intensifica-se, assim como a revolução da informação e a crise de paradigmas no nível das diferentes ciências, no âmbito cultural, político-social e ético. Esta nova realidade provoca a configuração de diferentes mentalidades e desejos e exige um balanço crítico do caminho realizado, assim como a construção de novas categorias e práticas sociais que respondam aos desafios do momento. Supõe ressituar o trabalho desenvolvido com um olhar dife¬rente. Trata-se de repensar as questões radicais constitutivas da área de educação e, particularmente, da Didática, assim como detectar os temas emergentes. É nesta perspectiva que este trabalho quer se situar, certa¬mente com um caráter exploratório e provisório. Nele, pretendo revisitar aquele texto que publiquei em 1982 e perguntar uma vez mais sobre o fundamental da Didática, apontando caminhos que me parecem fecun¬dos e relevantes para o desenvolvimento da área hoje.

Revisitando a proposta da Didática Fundamental

Quando, em 1982, tentava fazer uma análise crítica do ensino e da produção em Didática, tomei como ponto de partida a constatação do seguinte movimento da reflexão na área a partir dos anos 60: da "afir¬mação do técnico e o silenciar do político: O pressuposto da neutralida¬de" para "a afirmação do político e a negação do técnico: A contestação da Didática". Vivíamos uma época que poderia ser caracterizada como de "antididática" e de perda de identidade deste campo de conhecimento. A Didática era vista como inútil ou alienante. A crítica ao seu caráter pretensamente apenas instrumental e neutro limitava-se a desvelar o conteúdo ideológico conservador e veiculador de uma visão acrítica, descontextualizada e idealizada da escola e do processo pedagógico.

Como tentativa de superação desta encruzilhada na qual compe¬tência técnica e compromisso político se contrapunham, apresentei a proposta de ultrapassar uma visão meramente instrumental da Didática através da construção de uma perspectiva que chamei de "Didática Fundamental" sinteticamente assim formulada:

A perspectiva fundamental da didática assume a muItidimensionalidade do processo de ensino-aprendizagem e coloca a articulação das três dimensões, técnica, humana e política, no centro configurador de sua temática. Procura partir da análise da prática pedagógica concreta e de seus determinantes.

Contextualiza a prática pedagógica e procura repensar as dimensões técnica e humana, sempre "situando-as".

Analisa as diferentes metodologias explicitando seus pressupostos, o contexto em que foram geradas, a visão de homem, de sociedade, de conhecimento e de educação que veiculam.

Elabora a reflexão didática a partir da análise e reflexão sobre experiências concretas, procurando trabalhar continuamente a relação teoria-prática.

Nesta perspectiva, a reflexão didática parte do compromisso com a transformação social, com a busca de práticas pedagógicas que tornem o ensino eficiente (não se deve ter medo da palavra) para a maioria da população. Ensaia. Analisa. Experimenta. Rompe com uma prática pro¬fissional individualista. Promove o trabalho em comum de professores e especialistas. Busca as formas de aumentar a permanência das crianças na escola. Discute a questão do currículo em sua interação com uma população concreta e suas exigências etc. (Candau 1996a, p. 20)

A contraposição entre instrumental e fundamental queria indicar duas abordagens claramente diferenciadas da natureza da Didática então presentes na teoria e na prática pedagógicas.

A primeira concebe a Didática como um conjunto de procedimentos e técnicas que o professor deve dominar para promover um ensino eficiente. É a operacionalidade do processo que constitui a preocupação central.

Quanto à segunda, parte da análise da relação escola-sociedade e articula as abordagens

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