Letramento E Alfabetização : As Muitas Facetas

Letramento e alfabetização : as muitas facetas

É curioso que tenha ocorrido a invenção em um mesmo momento histórico a sociedade distanciada graficamente e socioeconomicamente e culturalmente, e necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leituras e de escrita mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita.

Entretanto se há coincidência quanto ao momento em que as práticas sociais de leitura e escrita emergem como questão fundamental em sociedades distanciadas geograficamente, socioeconomicamente e culturalmente, o contexto e as causas dessa emersão são essencialmente diferentes em países em desenvolvimento, como no Brasil e em países desenvolvidos, como a s França, os Estados Unidos, a Inglaterra. Sem pretender uma discussão mais extensa dessas diferenças, o que ultrapassaria os objetivos e possibilidades deste texto, destaco a diferença fundamental, que está no grau de ênfase posta nas relações entre práticas sociais de leitura e escrita e a aprendizagem do sistema de escrita, ou seja conceito de letramento e o conceito de alfabetização.

A discussão sobre problemas de aprendizagem inicial da escrita o que se quer aqui destacar é que os dois problemas, o domínio precário de competências de leitura e de escrita necessárias para a participação em práticas sociais letradas e as dificuldades no processo de aprendizagem do sistema de escrita, ou da tecnologia da escrita, são tratados de uma forma independente, o que revela o reconhecimento de suas especificidade e uma relação de não-causalidade entre eles.

No Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam, se superpõem, frequentemente se confundem. esse enraizamento do conceito de letramento no conceito de alfabetização pode ser detectado tomando-se para análise fontes como censos demográficos, a mídia, a produção acadêmica.

A hipótese aqui levantada é que a perda de especificidade do processo de alfabetização nas últimas décadas, é um entre os muitos e variados fatores, que pode explicar a atual modalidade do fracasso escolar em alfabetização.

A reinvenção da alfabetização

A aquisição do sistema convencional de escrita, o aprender a ler como decodificação e a escrever como codificação- procedendo o letramento- o desenvolvimento de habilidade textuais de leitura e de escrita, o convívio com o tipo e gêneros variados de textos e de portadores de texto, a compreensão das funções da escrita. Na concepção atual a alfabetização não precede o letramento, os dois processos são simultâneos, o que talvez até permitisse optar por um ou por outro termo, como sugere Emilia Ferreiro em recente entrevista á revista Nova Escola, em que rejeita a coexistência dos dois termos com o argumento de que a alfabetização estaria compreendido o conceito de letramento, ou vice-versa.- o que seria verdade, desde que se convencionasse que por alfabetização seria possível entender muito mais que a aprendizagem grafofonica, conceito tradicional atribuído a esse processo, ou que em letramento seria possível incluir a aprendizagem do sistema de escrita.