Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa
Por: Bruno Queiroz • 12/1/2017 • Relatório de pesquisa • 1.486 Palavras (6 Páginas) • 594 Visualizações
Relatório de Estágio – UNESP, 2016. Professor: Marsiel Pacífico.
Escola Visitada: Professora Léa de Freitas Monteiro Duração: 15 horas.
Nome: Bruno Miranda Queiroz. RA: 121127362. Período: Diurno.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
Paulo Freire.
Tive a oportunidade de estagiar na escola Profª Léa de Freitas Monteiro situada na zona leste de Araraquara, no bairro Jardim Silvana Vila Xavier, escola na qual inclusive também foi o meu espaço de formação na etapa secundarista do ensino compreendendo passagem pelos três períodos úteis. A escola em si traz consigo senão a velha estigma do espaço hiper controlado pela autoridade, disposto de várias grades que separam o saguão das escadarias(três no total distribuídas simétricamente em um espaço retangular) que dão acesso às salas de aula no piso superior. Existem grades também que limitam o pátio para a área externa que dá acesso a quadra, prerrogando senão a verdadeira configuração de um presídio, embora as grades sejam abertas nos intervalos para que os alunos aproveitem o ar livre da área externa , alguns estudantes acabam aproveitando até demais evadindo a escola por um dos muros nada propícios para uma fuga, considerando sua altura. A frente da escola possui um jardim que da entrada para a recepção, uma sala espaçosa decorada por um vitral que toma conta de uma das paredes e dividi o balcão de atendimento com janela de vidro, a secretaria aliás se mostrou extremamente competente na direção de respostas tanto para estudantes quanto para a comunidade pelas poucas mas preciosas rotinas que pude observar atentamente, para completar a escola possui refeitório com merenda disponível nos três períodos e aprovada com unânimidade como ótima pela comunidade de estudantes, a carne moída com purê é um diferencial mas não menos apreciado que o famoso omelete. A escola possui sala de vídeo, um salão nobre para apresentação de péças ou números e sala de informática. As salas de aula encontram-se em bom estado, carteira, lousas, portas com trancas não quebradas, vidros novos, compondo um ambiente visualmente satisfatório e livre de interferências visuais para a transmissão dos saberes entre professores e estudantes. Existem algumas pichações especialmente no piso inferior mas não passam de assinaturas de caneta, já os banheiros encontram-se pichados por tinta spray mas em perfeitas condições de uso. A escola como um conjunto funciona bem e possui uma equipe de colaboradores comprometida e de relacionamento profissional e ao mesmo tempo divertido, o suporte dos professores para os alunos se dava até mesmo fora das salas, tive a oportunidade de ver um professor de matemática corrigindo exercícios com um estudante no banco do pátio, outra cena interessante foi um professor se aventurando em uma escada para consertar a caixa de som externa, foi perigoso mesmo a inspetora segurando a escada mas ficou claro para mim o comprometimento dessas pessoas em zelarem pela “funcionalidade” do ambiente.
Um detalhe que vale todas as menções é um poema que foi escrito por um estudante do terceiro ano e estampado na escada central intercalando as frase sucessivamente entre os degrais pintados de colorido, sem dúvida é o cartão de visita do local sendo a primeira imagem identificada após adentrar o portão eletrônico que separa a secretaria frontal para o interior do pátio, na minha opinião a direção acertou em cheio em estimular nos estudantes uma identificação maior com o espaço escolar emprestando a este nada melhor do que “seu próprio corpo” para abrigar um poeta da casa. Além dessa arte não existem muitas manifestações artísticas dispostas pelo ambiente, uma outra gravura ampliada na escada central com a Abaporu de Tarsília do Amaral estampa o meio lance central entre os pisos.
A cantina no piso inferior vende salgados delciosos além de balas, doces, refrigerantes e duas pessoas incríveis que ja trabalham la a mais de 15 anos, inclusive a Dona Selma se lembrou de mim e ficou bem contente ao me ver por lá novamente, foi nostálgico. A limpeza também é um ponto forte sempre estando tudo limpo, pelo menos no decorrer dos dias em que a visitei. Durante as aulas ocorreram problemas de indisciplina, conversas paralelas, risinhos inseguráveis e um pouco de estardalhaço momentâneo, mas os professores souberam controlar as situações de maneira educadamente rigída, com seriedade ao desferir o conteúdo e pedir silêncio, e com a colaboração mútua da sala o próprio clima se afrouxava naturalmente diminuindo a tensão. Com temas que despertaram nos estudantes a vontade em se inteirar e participar da aula, um exemplo foi o debate promovio pelo professor Agnaldo retratando a atual situação do conflito no oriente médio envolvendo as forças rebeldes islâmicas e a ofensiva ocidental, de traquejo didático e ambivalente o professor discorreu sempre apresentando os dois lados do conflito, esmiuçando sobre a real agência das forças e interesses capitais enredadas nesse processo bélico, e sobretudo pude sentir os estudantes instigados, criando inquietações em suas cabeças, com o brilho nos olhos que quem por um momento despertou para uma nova idéia sem préviamente ter a sensação de capacidade de atingi-la, e que quando chega sem avisar, mediada pelo discurso em tom crítico tem a capacidade de abraçar os estudantes jovens a um novo mundo não pela ótica da formação e especialização como objetivo de inserção no mercado profissional, mas pelo viés de um pensamento que despe o mundo da maneira que estamos tão acostumados a vê-lo, rompendo com o ponto de vista puramente contemplativo. Houve participação dos estudantes e colaboração de uma maneira geral, conversando com um jovem após a aula perguntei sobre o conteúdo, o que havia entendido, mesmo de maneira sucinta e sem grandes explanações o garoto mostrou ter captado a idéia de ambiguidade das forças em conflito, das exarcebações religiosas, políticas e militares e mais do que isso foi capaz de me ensinar um pouco de coragem para a necessidade de acreditar no potencial dos estudantes, sensação que me atentou para uma cena muito comum que pude observar que foi a quantidade de comentários negativos que são trocados entre os professores quando se reúnem, alguns comentários que não merecem nem ser citados pelo desleixo enquanto educadores. No entanto, essa é uma lição que vou carregar para além de uma possível prestação de serviços para a escola pública, ela se encaixa no dia-a-dia, já que alguns comentários me pareciam até mesmo surgir de maneira automática nas palavras dos docentes como um comportamento padrão edificado e auto reprodutivo, pelo contrário penso que devemos aproximar nosso discurso o máximo possível das nossas práticas e para tanto não tornar um hábito costumeiro a falta de cuidado com o vocabulário utilizado quando estamos nos tratando de pessoas, como nós, sejam estudantes, trabalhadores, a nossa própria família, de maneira profunda e simples nossos hábitos e vícios linguísticos, vigiar a sordidez das nossas palavras. Como diria Platão: “Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo.”
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