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O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL E SEUS ESTERIÓTIPOS ”

Por:   •  28/7/2017  •  Seminário  •  1.632 Palavras (7 Páginas)  •  273 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA MEDIEVAL II

ANÁLISE DAS AULAS:

        “O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL E SEUS ESTERIÓTIPOS ”

SOBRAL – CEARÁ

2017

        “O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL E SEUS ESTERIÓTIPOS ”

                

SOBRAL – CEARÁ

2017

Durante o período medieval, não era conhecida a expressão “Idade Média”, tal expressão surgiu por volta do século XVI, por meio dos humanistas e só se tornou de uso corriqueiro no século XVII, termo que significa “a idade do meio”, isto é, intermedia a antiguidade e a Idade Moderna. Isso significa que aqueles homens e mulheres que viveram no período dos castelos, dos feudos e das cruzadas não tinham o mínimo conhecimento de que estavam inseridos no que hoje conhecemos como Idade Média. Estas pessoas não se reconheciam como medievais, mas sim como cristãos já que esse era o seu laço de identidade, ser cristão era o que os definia. A idade média ensinada nas escolas, não abrange toda a Europa, sendo muitas vezes confundida somente com o feudalismo, seus conceitos e a sociedade do sistema feudal. No “mundo medieval” a palavra “feudo” era conhecida, usada para nomear a posse do patrimônio do rei, já o feudalismo e seus conceitos foram criados para serem utilizados como ferramenta teórica para o estudo da Europa Medieval, tendo a França como modelo, ou seja, não abrangem todas as realidades econômicas, políticas e sócias que existiam na Europa nesta época.

Também é bastante comum que em sala, o professor trace uma espécie de linha do tempo escrevendo os anos 476 e 1453 como os marcadores o início e fim do período medieval. Estas datas foram identificadas pela necessidade do ensino escolar, mas não são consensualmente consideradas por historiadores. É necessário se periodizar, mas não há a ideia de que mudanças ocorram em uma única data, em um único lugar. Com a tomada de Constantinopla no ano de 1453, marca-se o fim do império Romano, há quem marque o término do período medievo no ano de 1492, com a descoberta da América, Já Jacques Le Goff, afirma que o período medieval estendeu-se até o século XVIII. Portanto, não há uma data que delimite especificamente o início e o fim da Idade Média. Porém, há um período específico que merece destaque, período que consiste entre 908 e 1040, um momento de crescente na vida econômica e social onde, desenvolveu-se a construção de castelos, a vassalagem, entre outros fatores e no plano relacionado à religião o movimento de construção de igrejas e a preparação para as cruzadas.

A limitação do ensino da referida disciplina nas escolas encontra-se a evidenciação das formas de governos e a história dos impérios e reinos, enfatizando os Francos e Germânicos, modelo que herdamos e adotamos no ensino de História que ainda está presente em muitos livros didáticos, onde caracterizam a economia do medievo como fechada, feudal e agrária, Mach Bloch critica esta visão referenciando o mercado e às cidades onde haviam vendas de produtos por meio dos camponeses, onde existiam as trocas.

Há uma abordagem única do período neste texto especificado, que são as relações sociais e politicas que opõe um rei com “pouco poder” e os poderosos senhores feudais, situação que sofre alterações após o “rei” se aliar a burguesia. Em uma mesma linha de pensamento estão definidas a relação entre senhores feudais e camponeses, muitas vezes confundidos com servos, onde os senhores são “exploradores” e os camponeses “passivos e submissos”. Uma abordagem que mostra uma tríade social entre senhores, clero e servos, hierarquizada, é reforçada pela chama “pirâmide social”, que reproduz a ideia de Adalberón de Laon de que na sociedade havia os que rezavam, os que combatiam e os que trabalhavam. Segundo Bloch, a sociedade medieval foi mais desigual do que hierarquizada, a servidão foi o tipo de relação social predominante, mas não a única, existiram também comerciantes, artesãos e até mesmo escravos vindos da África.  

O ensino do período Medieval nas escolas tem como característica, a opressão do senhor feudal em detrimento do camponês que é oprimido por suas obrigações, pela fome, pela guerra. Trata-se de uma forma de caracterizar o período que não abrange a dinâmica da sociedade do período. A sociedade Medieval dava-se pelos vínculos de fidelidade, implicava no contrato no que pregava a proteção e devoção, o camponês devia prestar os serviços e a obediência ao senhor, e ao senhor cabia à proteção do servo.  Esse vínculo reproduzia-se pela entre vassalos e suseranos, entre a Igreja e seus fieis. Os laços de dependência e fidelidade eram a base da sociedade Medieval.

Contrariando aquilo que é por muitas vezes é repassado nas escolas, o período Medieval difundiu conhecimentos científicos e seu maior legado foi a criação das universidades.  As primeiras surgiram em Bolonha, Paris, Oxford e Cambridge como associações de mestres e alunos, foram valorizadas por reis e papas e reagiram às tentativas de controle em poderes locais, a burguesia além de favorecer a expansão das atividades econômicas, estimulou a expansão da escrita, disseminação de ideias novas e transformações culturais.

Uma das teses clássicas sobre a Idade Média afirma que após um processo de ruralização da economia em que as cidades e o comércio desapareceram, a Europa conheceu um vigoroso renascimento comercial e urbano. Criticando essa visão, Marc Bloch lembra que o comércio nunca deixou de existir durante toda Idade Média. Jacques Le Goff completa afirmando que as cidades criadas na Antiguidade sobreviveram na Idade Média e que a partir do século XI ocorreu um alargamento das atividades econômicas dos núcleos urbanos de origem antiga. Assim, no lugar de um “renascimento comercial e urbano”, houve, na verdade, um crescimento das atividades comerciais como também a expansão da produção agrária, que favoreceu o desenvolvimento do comércio. Tais transformações contribuíram para um forte crescimento demográfico entre os séculos XII e XIII. O mundo urbano estava intimamente vinculado ao mundo rural medieval exercendo influências sobre a nobreza e os camponeses acelerando mudanças no campo. As atividades comerciais e artesanais das cidades estavam ligadas às atividades desenvolvidas no campo. A cidade medieval era consumidora de víveres e matérias primas produzidos nos feudos. Os senhores davam proteção às feiras e garantiam a segurança nas estradas.

Uma das teses clássicas sobre a Idade Média afirma que após um processo de ruralização da economia em que as cidades e o comércio desapareceram, a Europa conheceu um vigoroso renascimento comercial e urbano. Criticando essa visão, Marc Bloch lembra que o comércio nunca deixou de existir durante toda Idade Média. Jacques Le Goff completa afirmando que as cidades criadas na Antiguidade sobreviveram na Idade Média e que a partir do século XI ocorreu um alargamento das atividades econômicas dos núcleos urbanos de origem antiga. Assim, no lugar de um “renascimento comercial e urbano”, houve, na verdade, um crescimento das atividades comerciais como também a expansão da produção agrária, que favoreceu o desenvolvimento do comércio. Tais transformações contribuíram para um forte crescimento demográfico entre os séculos XII e XIII. O mundo urbano estava intimamente vinculado ao mundo rural medieval exercendo influências sobre a nobreza e os camponeses acelerando mudanças no campo. As atividades comerciais e artesanais das cidades estavam ligadas às atividades desenvolvidas no campo. A cidade medieval era consumidora de víveres e matérias primas produzidos nos feudos. Os senhores davam proteção às feiras e garantiam a segurança nas estradas.
Já não se usa mais o termo “idade das trevas”, porém, ainda subsiste a ideia de uma Europa medieval atrasada mergulhada em crenças ditas absurdas e fantasias repletas de magos, feiticeiras, fadas, dragões, ogros, cavaleiros errantes e duendes. É pertinente lembrar a atração que essas representações exercem sobre os alunos e o sucesso que fazem no cinema, em jogos eletrônicos e livros de ficção. Talvez, por isso mesmo, deve-se considerar a pertinência de levar esse conteúdo à sala de aula. As figuras do imaginário pagão sobreviveram à consolidação da fé cristã e continuaram vivas nas camadas populares mesmo sofrendo a perseguição e intolerância da Igreja medieval. A Igreja denominava-os de “seres maravilhosos” pertencentes a uma realidade sobrenatural (mas não sagrada nem religiosa) que poderia se manifestar como os anjos e os demônios. Criou-se assim uma simbiose onde se misturavam elementos cristãos e pagãos, como foi o caso de São Jorge, o santo cavaleiro que matou o dragão. O imaginário pagão e o maravilhoso cristão produziram uma rica tradição oral em lendas, contos e fábulas que hoje fazem parte de nossa herança cultural. Como lembra Macedo, “herdamos da Idade Média nosso gosto por ouvir boas histórias, boas narrativas, boas canções”. Trazer esse patrimônio cultural para a sala de aula é uma boa maneira de aproximar os alunos da Idade Média e do imaginário medieval.  Além disso, a rica literatura medieval aborda situações, sentimentos e padrões de conduta que são importantes aos adolescentes como amor, amizade, honra e fidelidade. São numerosas as opções de textos da literatura medieval, entre elas, o ciclo do rei Arthur e dos cavaleiros da Távola Redonda, a busca do Santo Graal, El Cid campeador, Carlos Magno e os doze pares de França, contos de aventura e amor escritos por Maria de França no século XII, e uma infinidade de fábulas. (Veja sugestões ao final desse artigo.) Cabe lembrar ainda que os europeus que participaram da expansão marítima e comercial, da conquista e da colonização da América, apesar de serem contemporâneos ao humanismo renascentista, estavam impregnados de uma mentalidade de base medieval. As façanhas dos heróis lendários e as ameaças de seres fantásticos ainda povoavam suas cabeças e foram trazidas para o Novo Mundo aqui se espalhando e criando novas formas de pensamento. Uma Idade Média mágica e sobrenatural subsiste no nosso imaginário.

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