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A Angustia Da Vida Executiva

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Por:   •  13/10/2014  •  4.950 Palavras (20 Páginas)  •  542 Visualizações

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Nos últimos sete meses, a executiva paulistana Denise Santos, de 38 anos, presidente da

BenQ Mobile no Brasil, fabricante de celulares, esteve no centro de um furacão. A empresa

é subsidiária do grupo taiwanês BenQ, que em 2006 registrou o maior prejuízo de sua

história. Para ajustar as contas, fábricas foram fechadas mundo afora, e centenas de

funcionários, demitidos. De Taiwan, Denise recebeu ordem para reduzir em 40% a

estrutura da filial. Sua rotina tornouse

caótica. Ela chegou a trabalhar até 17 horas por dia.

Nos finais de semana, reuniões intermináveis paralisaram sua vida pessoal.

Praticamente só respirava trabalho. Numa das decisões mais difíceis e doloridas de sua

carreira, ela se viu na contingência de afastar 300 funcionários. "Amo o que faço, mas os

momentos de infelicidade no trabalho já me fizeram ir diversas vezes para uma sessão de

terapia", afirma Denise, uma das mais jovens presidentes de empresa no Brasil.

As angústias, temores e dilemas enfrentados por executivos do topo como Denise são o

tema de um profundo mergulho nos corações e mentes dos altos executivos brasileiros,

num estudo conduzido, nos últimos dois anos, pela psicóloga mineira Betania Tanure e

pelos pesquisadores Antonio Carvalho Neto e Juliana Oliveira Braga. Professora

associada da Fundação Dom Cabral e mestre convidada do Insead (França) e da London

Business School, autora de sete livros na área de negócios e membro dos conselhos de

administração da Gol e da Medial Saúde, Betania e seus colegas entrevistaram

pessoalmente 263 presidentes, vicepresidentes

e diretores de grandes empresas

nacionais. Outros 965 altos executivos responderam a um extenso questionário. O

levantamento abrangeu mais de mil executivos de aproximadamente 350 empresas. Dele

emergiu um quadro preocupante. Acompanhe:

>>> 84% dos executivos são infelizes no trabalho.

>>> 76% deles acessam email

profissional fora do horário de trabalho.

7/8/2014 Época Negócios - EDG ARTIGO IMPRIMIR - A angústia da vida executiva

http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDR77246-8374,00.html 2/9

>>> 58% acham que os cônjuges estão descontentes com o ritmo excessivo de trabalho

deles.

>>> 55% vivenciam uma mudança radical no trabalho.

>>> 54% estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal.

>>> 35% apontam problemas com o chefe como a crise mais marcante de suas vidas.

"Fiquei abismada com o grau de desconforto dos executivos em seu trabalho", afirma

Betania. Algumas entrevistas, que acabaram se convertendo em sessões de desabafo,

duraram horas. Em alguns casos, tantas eram as queixas que a conversa teve de ser

retomada. Todos foram ouvidos sob a condição de que seria mantida confidencialidade (o

que faz toda a diferença em um trabalho dessa natureza). Lastreada pela atuação

profissional de mais de duas décadas, a pesquisadora valeuse

da sólida relação de

confiança estabelecida com seus entrevistados. Prevaleceu um clima de franqueza acima

do comum em trabalhos dessa natureza. "Para seguir em frente, os executivos costumam

colocar um véu em seus problemas e se recusam a olhar para suas infelicidades", afirma

Betania.

Esta não é mais uma daquelas pesquisas simplistas, que se limitam a contabilizar

respostas formais. Para chegar à conclusão de que 84 de cada 100 altos executivos

brasileiros são infelizes no trabalho, os pesquisadores combinaram dois índices de

avaliação. O primeiro, chamado Índice Global de Satisfação, considera variáveis como as

horas trabalhadas, o grau de satisfação com os chefes e subordinados, os níveis de

cobrança por resultados e os sistemas de recompensa, entre outros. O segundo critério,

denominado Índice Global de Sensações e Atitudes, avalia o grau de ansiedade, insônia,

problemas familiares, desânimo e consumo de bebidas alcoólicas, entre outros aspectos

relacionados à vida pessoal. Depois de cruzados esses dados, com os respectivos pesos,

foram considerados infelizes aqueles executivos cujos indicadores negativos

sobrepujavam os positivos.

A globalização desponta no estudo como uma das principais vilãs responsáveis pelo

aumento da tensão no mundo corporativo. Com a competição disparando de todos os

lados, as empresas correm atrás de aumento de produtividade para brigar em condições

de igualdade com a concorrência mais e mais voraz. Legiões de profissionais foram

demitidas nesse processo. Quem antes fazia apenas o seu trabalho passou a realizar o de

três pessoas. Quem chefiava um único departamento assumiu o comando de vários

setores.

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