A Brinquedoteca
Pesquisas Acadêmicas: A Brinquedoteca. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: suedna • 22/5/2013 • 4.743 Palavras (19 Páginas) • 620 Visualizações
A BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA INFÂNCIA
Suely Amaral MELLO1
Resumo: Este artigo trata essencialmente de duas questões fundamentais que nos
preocuparam ao longo do desenvolvimento deste projeto2: a questão da formação
dos professores, e a questão do direito à infância. É a partir destas duas linhas de
reflexão que compreenderemos o projeto desenvolvido.
Palavras-chave: formação de professores; direito à infância; disciplina.
INTRODUÇÃO
Formação de professores: a lógica cotidiana no agir não-cotidiano da educação
Não se concebe, hoje, atividade criadora humana que não se baseie no
conhecimento das leis e fenômenos que regem os fenômenos e processos envolvidos nessa
atividade. Vivemos o tempo da formação permanente em todas as áreas do conhecimento. Na
educação, esta necessidade se coloca de forma ainda mais impositiva dadas as novas
concepções que emergem dos conhecimentos mais recentes – como as neurociências – ou de
teorias mais recentemente conhecidas – como a teoria histórico-cultural desencadeada por
Vygotsky – que envolvem a formação e o desenvolvimento das capacidades humanas. Ao
apontarem o papel essencial da educação na formação e desenvolvimento da inteligência e da
personalidade humanas, apontam também para a complexidade do processo educativo.
Com a compreensão dessa complexidade destaca-se a necessária
intencionalidade do educador nos processos pedagógicos que exige, para a obtenção de fins
intencionalmente projetados, o conhecimento do saber elaborado acerca do desenvolvimento
humano que possibilite a correta organização da educação orientada para alcançar tais fins.
Trabalhando com a formação de professores nos últimos vinte anos, tenho
procurado as formas mais adequadas de garantir uma formação sólida aos professores, de
modo a lhes permitir o exercício de sua atividade criadora e, sobretudo, romper a resistência em
relação às mudanças de concepções e práticas, comuns nos processos de formação
continuada, ainda que não restritas a eles.
Enfrentar a complexidade do processo educativo envolve essencialmente uma
nova atitude por parte dos professores em relação ao ato educativo. A reflexão e a análise dos
1 Docente do Departamento de Didática da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marilia. Coordenadora do
Projeto “Brinquedoteca: espaço permanente de formação de professores”, junto ao Núcleo de Ensino da Unesp de Marilia, em 2002
e 2003.
2 Este artigo foi escrito a partir das atividades e reflexões desenvolvidas no projeto acima mencionado.
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problemas devem orientar o agir do educador que dirige sua prática para fins intencionalmente
estabelecidos. A mesma reflexão e análise devem acompanhar o desenrolar da prática
redirecionando-a de acordo com os fins propostos. Em outras palavras, o processo de reflexãoação-
reflexão é atitude fundamental à prática educativa consciente de sua complexidade e de
seu papel. No entanto, a atitude reflexiva não é típica da vida em nossa sociedade. Ao
contrário. O pensar e agir da maioria das pessoas em nossa sociedade – entre elas os
professores – é construído a partir das categorias da lógica cotidiana. Tais categorias são
suficientes para pensar e resolver problemas que dizem respeito ao conjunto de atividades que
fazem parte da vida cotidiana, mas insuficiente para pensar e resolver problemas nas áreas
mais complexas – não-cotidianas – da atuação humana, como é o caso da educação.
Uma vez que nossa vida cotidiana é constituída por um conjunto de situações
que se repetem com alguma periodicidade – a alimentação, a rotina de horários, os hábitos de
higiene, por exemplo – a relação das pessoas nesta esfera, tende a ser imediatista e
pragmática. Por isso, as características essenciais do pensar e agir – na esfera das atividades
cotidianas – são a espontaneidade, a heterogeneidade, a economia de ações e a
generalização.
Porque se repetem com uma certa periodicidade, as atividades da vida cotidiana
dispensam a reflexão. De fato, uma certa espontaneidade é essencial para a própria
concretização do volumoso conjunto de atividades que precisam ser realizadas e que se
dependessem de reflexão, não se realizariam.
Da mesma forma, pelo volume das atividades a serem realizadas – se
pensarmos na organização da vida de uma família, por exemplo, teremos uma idéia desse
conjunto de atividades que se repetem diariamente – é necessária uma certa heterogeneidade
no fazer cotidiano. Ou seja, não é preciso que o sujeito se detenha a fazer uma coisa de cada
vez; pode fazê-las ao mesmo tempo. Essa heterogeneidade – ao mesmo tempo em que o ritmo
fixo, a
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