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A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA E IDENTIDADE SOCIAL DE IDOSAS ABRIGADAS NO LAR TORRES DE MELO

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Por:   •  9/9/2014  •  2.220 Palavras (9 Páginas)  •  448 Visualizações

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1. Introdução

O envelhecer é um processo que acontece a partir de um determinado contexto. O ser humano traz características de acordo com sua história de vida, através de experiências adquiridas no decorrer de sua existência. É um processo natural que se distingue por mudanças físicas, psicológicas e sociais que influenciam o comportamento (GOYAZ, 2003). Uma fase em que o idoso alcançou muitos objetivos, mas que sofre muitas perdas.

Na perspectiva do senso comum, parte uma ideia negativa que o idoso é frágil, vulnerável, totalmente dependente, pois o envelhecer, etapa da vida considerada como o fim de tudo, é associada à inutilidade, incapacidade, perda de autonomia, desgaste do corpo, sofrimento, doenças, rugas (SCHNEIDER; IRAGUARY, 2008).

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Com esse contexto de divulgação do envelhecimento da população e dos assuntos que o envolvem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) exerceram um papel fundamental em analisar e comunicar o impacto do envelhecimento sobre os países em desenvolvimento com o propósito de incentivá-los a criarem medidas para se contrapor a essa realidade, no sentido de proporcionar um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. (GOLDMAN, 2004 apud FERNANDES; SANTOS, 200:53).

Apesar das inúmeras mudanças o idoso ainda é muito desvalorizado e excluído. O estilo de ser e viver padronizado pela sociedade de consumo descarta o idoso e cada vez mais valoriza o novo, o belo, o físico, as relações descartáveis. A cultura, a sabedoria, os valores construídos ao longo do tempo são desvalorizados diante do saber jovem adquiridos e influenciados pela mídia e pela internet.

A construção social do conceito velhice é marcada por preconceitos em relação ao fator físico, que está em declínio, à sua condição social, ao afastamento do trabalho, isolamento sócio familiar, dentre outros, que formam a base de valores na sociedade contemporânea que vê a velhice de forma depreciativa (SESC, 2009:08). Ocorre uma vulnerabilidade social em que o idoso é considerado fora do convívio social, sobretudo se está abrigado em uma instituição de longa permanência.

O Lar Torres de Melo, fundado em 10 de agosto de 1905, atende a duzentos e vinte idosos residentes e cem que fazem parte do Projeto de Convivência, em que passam duas tardes na instituição, com a finalidade de haver uma integração entre idosos externos e internos. Suas ações são baseadas nas áreas do social, saúde, nutrição e gestão, com uma equipe de multiprofissionais como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, também voluntários, e profissionais de apoio administrativo, serviços gerais, segurança, dentre outros. É a única instituição filantrópica de atendimento de alta complexidade, em diferentes graus de dependência, com uma grande demanda, mas com dificuldades no atendimento devido à falta de capacidade física e carência de recursos.

2. Narrativas, Memória e Identidade

A partir de diálogos acerca da velhice, da interpretação da fala, memórias e histórias de duas idosas internas do Lar Torres de Melo procura-se construir a identidade e memória social das mesmas. Busca-se também entender e reconhecer, por meio de suas narrativas, as dimensões desse universo, o resgate de suas histórias de vida e de suas memórias.

Com a entrevista semiestruturada as idosas vão relembrando e narrando suas vivências, o que possibilita reconhecer o que está sendo exposto e até mesmo entender e/ou decifrar o que não é dito. Perceber suas representações ideológicas concretizadas na linguagem e através da análise de discurso, captar sua visão de mundo.

A Sra. S. tem 66 anos de idade, é natural da cidade de São Benedito, Ceará, é divorciada, estudou até a 5ª série, mora há um ano na Instituição, é aposentada. A Sra. R. tem 72 anos de idade, é natural de Itaitinga, Ceará, é viúva, aposentada, sabe ler e escrever pouco, e está há mais de dois anos na Instituição

Indagadas sobre o que representa a velhice e como a sentem, a Sra. S. (66 anos) diz que “velhice é uma coisa que não se pode esconder, e todos nós temos que se adaptar, porque chega de qualquer maneira e isso é muito conversado aqui dentro até porque só tem idoso”. Já para a Sra. R. (72 anos), “Eu não penso em velhice, penso é ir pra festa brincar, dançar, quando tem festa na quadra eu entro e meto o sarrafo a dançar, penso só em me divertir, Velhice pra mim não tem, quem faz isso é a gente”. De acordo com Beauvoir, (1990, apud Paiva, 2011 p. 27) a velhice pode ser considerada uma questão complexa com diferentes pontos de vista. A diversidade sociocultural faz surgir uma pluralidade de formas de sentir e viver a velhice (Mercadante, 2009, apud idem).

Em relação à vida na Instituição, a Sra. R. fala: “eu não desgosto, quem faz a casa é as pessoas, se não sabe levar, nada presta, acho ruim não, se num saber levar, não tem nada que preste, dá briga, e não ter paciência é pior, é você não se importar com tudo no mundo, é saber viver”. Para a Sra. S. “aqui dentro não se sente solidão, porque somos abraçada todos os dias, a maior saudade mesmo é dos meus filhos”. Percebe-se que as idosas interagem com outras pessoas, desenvolvendo relações sociais e a vivência em comunidade, que de acordo com seus relatos, há bailes, atividades físicas em grupo, passeios, dentre outras, o que contribui para o entretenimento, lazer e convívio social.

O resgate da memória, a evocação das origens, a Sra. S. relata com nostalgia suas maiores lembranças da infância, “ah quando eu morava no interior de São Benedito, era muito bom, as diversões, as novenas do padroeiro, as tertúlias, os namoradinhos escondidos porque meu pai era muito bravo e não deixava nós namorar, a gente morava num no sitio muito grande, chamado Sítio Pimenteira e lá tinha muita diversão, que é diferente de hoje, tenho saudade disso”. A Sra. R. fala sobre sua infância em Itaitinga, CE., rindo, “quando eu era pequena eu não brincava muito, porque minha mãe era carrasca, estudei pouco porque antigamente a mãe não queria que a gente estudasse ou trabalhasse, e falava assim: eu não sei escrever o (o) com a quenga do coco e ‘tou’ passando.” Segundo Pollak, (1992, p. 05), a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, individual e/ou coletiva, que gera um sentido de continuidade, de reconstrução de si próprio.

Ainda revisando memórias e vivências, a Sra. R. diz que na sua juventude tudo era muito bom: “Ora eu ia pras festas só chegava de manhã,

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