A Eficacia Da Inclusão
Dissertações: A Eficacia Da Inclusão. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: educacao • 21/10/2013 • 10.090 Palavras (41 Páginas) • 422 Visualizações
AÇÃO INCLUSIVA: REALIDADE OU UTOPIA?[1]
Profa. Dra. Leny Magalhães Mrech
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
1. INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Comissão Organizadora a lembrança do meu nome para participar deste evento. É uma enorme honra e prazer estar com os meus colegas de área a Enicéia, o Romeu e a Maria Lúcia nesta mesa - redonda.
Peço desculpas pela apresentação singela que farei a seguir. Ela diz respeito à coleta de dados que venho fazendo para um Banco de Dados de Educação Inclusiva. Ela parte de estudos referentes às origens da Educação Inclusiva, seus principais conceitos, procedimentos e as implicações nas práticas educacionais.
Devido a minha formação como psicóloga, socióloga, psicanalista e psicopedagoga tenho vivido a questão da Educação Inclusiva sob vários ângulos. Assim, irei transitar por alguns deles ao longo deste trabalho.
O tema Educação Inclusiva não é neutro. Desde o início, suscita uma série de posicionamentos prévios, tanto favoráveis quanto desfavoráveis. Tendo em vista este aspecto, e para tornar as discussões um pouco mais tranqüilas e menos emocionais, tenho optado, mais recentemente, por abordar a Educação Inclusiva como mais um paradigma da Educação Especial.
Em um texto recente (MRECH, 1999)[2] assinalei que a Educação Especial apresenta atualmente seis paradigmas fundamentais : o Paradigma da Segregação, o Paradigma da Desadaptação Social, o Paradigma da Prevenção ou Paradigma Psicopedagógico, o Paradigma da Integração, o Paradigma da Inclusão e o Paradigma da Psicanálise. Cada um destes paradigmas apresenta processos de formação e capacitação de docentes inteiramente distinto dos demais.
Para fins do tema que me foi solicitado, tentarei me concentrar apenas no Paradigma da Inclusão, lembrando que muitas das discussões ultrapassam seus próprios limites, estabelecendo conexões e inter-relações com os demais paradigmas.
2. O CONCEITO DE PARADIGMA APLICADO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA
O conceito de paradigma foi criado originariamente por Thomas S. Kuhn para nomear os processos de evolução e transformação pelos quais passa a chamada Ciência Normal. Esta apresenta um conhecimento socialmente aceito fundamentado em um ou mais paradigmas dominantes. Quando há a crise em um ou mais dos paradigmas pode ocorrer a chamada revolução científica, ou seja, uma mudança radical no próprio olhar que a ciência normal apresenta.
Por uma analogia inicial, vamos conceber a Educação Especial como um campo de conhecimento, a nossa ciência normal, e os diversos olhares a ela atrelados, como os paradigmas que ela utiliza para melhor explicitar os seus processos, procedimentos e conceitos.
A Educação Especial será tomada aqui como um campo de conhecimento no sentido proposto por Pierre Bourdieu:
" A noção de campo é, em certo sentido, uma estenografia conceitual de um modo de construção do objeto que vai comandar - ou orientar - todas as opções práticas da pesquisa. Ela funciona como um sinal que lembra o que há que fazer, a saber, verificar que o objeto em questão não está isolado de um conjunto de relações de que retira o essencial de suas propriedades. Por meio dela, torna-se presente o primeiro preceito do método, que impõe que se lute por todos os meios contra a inclinação primária para pensar o mundo social de maneira realista ou, para dizer, como Cassirer, substancialista : é preciso pensar relacionalmente. Com efeito, poder-se-ia dizer, deformando a expressão de Hegel: o real é relacional." (BOURDIEU, 1989)[3]
Pensar a Educação Especial através de um modelo relacional, desde o início, evita que nós caiamos em um modelo clássico de como as relações educativas devam ser.
Partindo desta premissa, a questão agora é pensarmos se a haveria a possibilidade da Educação Inclusiva ocupar ou não o lugar do paradigma revolucionário que reformula a própria Ciência Normal. Foi dentro desta vertente que resolvemos retomar o tema que nos foi proposto inicialmente: Educação Inclusiva: realidade ou utopia.
Primeiramente, é preciso que entendamos o que é um paradigma tal como foi proposto por Thomas S. Kuhn. Um paradigma propõe problemas e soluções e soluções modelares aos praticantes de uma dada área ou campo do conhecimento. Um paradigma faz um determinado recorte do real.
" Um paradigma é uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas compartilhadas por uma comunidade científica que apresenta uma determinada concepção da realidade, estruturada a partir de um determinado tipo de pensamento". (KUHN, 1978)[4]
Um paradigma é um modelo mental, uma forma de ver o mundo, um modelo de referência, filtrando outras percepções, conteúdos determinados, etc. Ele estabelece, em suma, um modelo de pensamento e/ou de crenças através do qual o mundo pode ser interpretado. Isto quer dizer que, ao adotarmos um paradigma a nossa escolha deixa de ter como referenciais apenas os aspectos cognitivos. Ela passa a ter também componentes emocionais, que podem fazer com que as idéias daquele paradigma ou dos paradigmas oponentes a ele sejam realmente aceitas ou rejeitadas.
É por tudo isto que acreditamos ser importante resgatar o bebê que está sendo jogado fora com a água da bacia. Pois, muitas das discussões atuais, no Brasil, com relação ao paradigma da Inclusão[5] minimizam sua importância, atribuindo-lhe um sentido mais ético e "politicamente correto" do que propriamente à importância da sua fundamentação científica e teórico-prática. A idéia que parece permear este tipo de concepção, geralmente estabelecida por opositores pertencentes ao paradigma da Segregação, Prevenção ou Integração , é que a Inclusão seria apenas uma moda sem fundamentação alguma.
A Educação Inclusiva não surgiu ao acaso. Ela é um produto histórico de uma época e realidade educacionais contemporâneas. Uma época que exige que nós abandonemos muitos dos nossos estereótipos e preconceitos, na identificação do verdadeiro objeto que está sendo delineado em seu bojo:
" Construir um objeto científico é (...) romper com o senso comum, quer dizer, com o representações partilhadas por todos, quer se trate dos simples lugares-comuns da existência vulgar, quer se trate das representações oficiais, freqÜentemente inscritas nas instituições. (... ) O pré-construído está em toda a parte". (BOURDIEU, 1989)[6]
Para
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